Marvel Rivals é um dos games free-to-play (F2P) mais populares do momento, rendeu mais de US$ 130 milhões (valor estimado) no seu primeiro mês entre todas as plataformas, e um dos títulos de sua categoria com maior número de jogadores simultâneos.
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O sucesso do game incomodou a Blizzard a tal ponto, que Overwatch 2 passou por mudanças profundas, incluindo a volta das loot boxes, para recuperar a popularidade perdida.
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Marvel Rivals (Crédito: Divulgação/NetEase Games/Marvel Games/Disney)
Pois mesmo o enorme sucesso de Marvel Rivals não é o bastante no cenário atual da indústria de games, visto que a NetEase Games demitiu desenvolvedores da equipe norte-americana, que atuaram como um time de suporte durante a produção do game.
Marvel Rivals: sucesso não protege de demissões
Não é segredo que a indústria de games, assim como todo o setor de TI, se tornou um gigantesco moedor de carne, com profissionais pressionados além do limite em busca de resultados enormes, o mais rápido possível, e com o mínimo investimento. A área sofreu um inchaço durante a pandemia da Covid, baseado no entendimento que com as pessoas ficando em casa, elas jogariam mais, mas a crise financeira global forçou a população a rever prioridades, e games não eram uma delas.
Em 2023, o mercado viu uma onda violenta de demissões, que somou 10.500 empregos perdidos naquele ano, e 14.600 em 2024, mais de 8 mil apenas entre janeiro e fevereiro. Boa parte se deu graças aos cortes da Microsoft após a compra da Activision Blizzard, que vitimaram inclusive a Tango Gameworks, a reestruturação do Embracer Group, além de demissões grandes na Sony e outros estúdios.
Este caso foi emblemático: Hi-Fi Rush, que vendeu mais de 3 milhões de cópias mesmo estando disponível no Xbox Game Pass, e vencedor de vários prêmios, incluindo um BAFTA, não foi o bastante para salvar o estúdio, que foi sumariamente fechado; a Tango Gameworks e o game musical foram salvos aos 48 minutos do segundo tempo pela Krafton (PUBG: Battlegrounds), enquanto as IPs The Evil Within e Ghostwire: Tokyo permanecem como propriedades da Microsoft.
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O ano de 2025 já acumula quase 1.000 desenvolvedores do mercado de games demitidos, número próximo ao do período janeiro/fevereiro de 2023 (Crédito: studio4rt/Freepik)
A grande ironia é que não existe nada que desenvolvedores possam fazer para proteger seus empregos: mesmo que apresentem resultados excelentes e produtos que tragam enorme receita aos estúdios, estes podem ser demitidos sem o menor aviso, e trabalhar com a espada de Dâmocles sob sua cabeça o tempo todo está cobrando seu preço.
Assim como foi o caso de Hi-Fi Rush, o sucesso de Marvel Rivals, mesmo sendo um dos F2P mais jogados e lucrativos do momento, também não é garantia de emprego, como atestado por Thaddeus Sasser, diretor do time de design de Seattle da NetEase Games, que atuou como uma equipe de suporte no game (o desenvolvimento principal é centrado na sede da desenvolvedora chinesa, na cidade de Hangzhou).
Em uma postagem no LinkedIn, o profissional revelou que ele e parte de sua equipe foram demitidos, incialmente, sem explicação:
Esta é uma indústria muito estranha…
Minha talentosa e estelar equipe recentemente ajudou a entregar uma nova franquia incrivelmente bem-sucedida, em Marvel Rivals para a NetEase Games…
…e acabamos de ser demitidos!
Bem! As coisas estão difíceis em todo lugar – Vamos encontrar novos empregos para essas pessoas incríveis, porque todos nós precisamos comer, certo?
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A situação dos devs de Marvel Rivals é a mesma pela qual Hi-Fi Rush e Tango Gameworks passaram recentemente (Crédito: Divulgação/Tango Gameworks/Krafton Inc.)
Sasser não deu detalhes sobre quantos desenvolvedores foram demitidos, e a NetEase Games, via uma nota enviada ao site IGN, disse posteriormente que as dispensas foram um caso de “reestruturação”:
“Nós (NetEase Games) recentemente tomamos a difícil decisão de ajustar a estrutura do time de desenvolvimento de Marvel Rivals, por motivos organizacionais e para otimizar a eficiência (…).
Isso resultou na redução de um time de design baseado em Seattle, parte de um grupo global de suporte do game. Nós apreciamos o trabalho duro e dedicação daqueles afetados (pelas demissões), e iremos tratá-los de forma respeitosa e confidencial, pelo reconhecimento de suas contribuições individuais.”
A desenvolvedora tratou de mencionar que as demissões não afetarão o game em si, como se essa fosse a maior das preocupações:
“Nós garantimos a nossos fãs que o time principal de desenvolvimento de Marvel Rivals (…) permanece comprometido a entregar uma experiência excepcional.
Estamos investindo mais, não menos, na evolução e crescimento do game, e estamos empolgados para entregar novos personagens, mapas, recursos, e conteúdos para garantir que a melhor experiência de serviço para nossos jogadores em todo o mundo.”
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Demissões continuarão, e ninguém está seguro (Crédito: storyset/Freepik)
Basicamente a NetEase, uma das maiores companhias de tecnologia da China, e rival da também gigante Tencent, entendeu que passada a fase de desenvolvimento, não é preciso manter muitos profissionais empregados, assim, o time de Seattle foi considerado “gordura” e removido, para reduzir gastos e maximizar os ganhos. Simples assim.
É fato que a indústria, não só a de games, está passando por um momento de transição, graças principalmente à Inteligência Artificial (IA) aplicada em diversos setores; a pressão por resultados é gigante, o retorno financeiro é insuficiente (e agravado pela crise, graças à inflação), e há zero segurança e estabilidade. Mesmo entregar produtos de sucesso pode ser recompensado, e é em muitos casos, com uma visita final ao departamento de Recursos Humanos.
Não surpreende, no caso do mercado de games, que muitos estão deixando a indústria para fazer qualquer outra coisa da vida, seja para continuar pagando os boletos, ou para se afastar de um setor que viam como um trabalho dos sonhos de suas infâncias, que se converteu em um pesadelo do qual não querem mais fazer parte.
Fonte: PCGamesN, IGN
Marvel Rivals: quando nem o sucesso evita demissões