A história da minha poesia inicia-se com meu pai, que me ensinou a (mo)vê-la em cada conto da vida e em cada canto da casa. Com inúmeros livros, ele enchia as estantes, as mãos, os olhos. De tanta enchente, transbordou-os a mim, t(r)ocando-os em miúdos para sua miúda. Que todas as tantas palavras bonitas e corretas que aprendi com o senhor lhe encham a alma, levando minha mais (e)terna gratidão!
Minha rima e a melodia poéticas, há pouco, descobri, vêm de meu avô paterno, que não conheci, mas no qual me reconheço em seu fazer repetentes e trocadilhos. Obrigada por tão valiosa herança! A leveza que (escre)ver a vida em poemas me gera encontra a que (g)era (e, ainda, é) da prosa bem humorada e centenária de minha avó paterna. Sou grata pela lembrança de que conversar em prosa e versar com poemas podem se en(com)trar e ficar à vontade, em bons papos com café, nos l(ares) um do outro.
Do poeta de guardanapos, meu querido tio, padrinho e prefaciador deste livro, a lição de que a poesia é simples e íntima, já que da alma de quem escreve, mas sua reverberação e beleza ultrapassam os limites de nossos olhos de dentro, como seus inúmeros pedaços de papel que voaram até a Academia Cearense de Letras e a tantos outros mundos. Ao mestre-referência, minha aprendizagem-reverência!
Os poemas mais fortes destas páginas, como eu, foram paridos de minha mãe, que pensa, sente, age e vive com o coração, dando-me a essência de bombear a vida sem bambear as pernas e, portanto, bomb(ard)ear palavras sem bamb(e)ar o lápis. Minha gratidão bamba! O amor conjugal poemado belo e crível, em última instância, remete, sempre, ao de meus avós maternos. Obrigada por o deixarem a mim como estância, bem ainda, na infância! O amor conjugado, poemado do cotidiano, em cada instante, comete, sempre, o que vivo com meu companheiro. Obrigada por o deixar comigo, de riso, gestante – eternamente e o bastante! O amor conjunto, poemado em tantos elementos e com todo o instinto, compromete-se, sempre, com o convivido com meus irmãos, irmã, cunhados e sobrinhos. Obrigada por o deixarem a mim como bom vinho tinto, com a alegria de, nunca, sê-lo extinto!
Ainda e transversal a todas as linhas anteriores e interiores, gratidão ao Deus que se fez pulsante em cada um dos seres acima e em tudo o mais me inspira, respira e pira ante a (com)vocação para poesiar a vida e ofertar(-me) saúde, como os girassóis, os outonos e outubros, as madrugadas, o amar( )elo, a infância (na minha, a querida Gabi), as flores de pitaya e a do Lácio, os equilíbrios.
(Extraído do livro POESIA E SAÚDE – Trocas, Trilhos e Trocadilhos).
ANA CAROLINE LEITE DE AGUIAR
PSICÓLOGA, MESTRE EM ENSINO NA SAÚDE, DOUTORANDA EM PSICOLOGIA
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