Embrapa Cerrados: há 50 anos contribuindo para a conservação do solo e da água

Marcos Aurélio Carolino de Sá
Pesquisador da Embrapa Cerrados 

“Não herdamos a Terra dos nossos pais, pegamos emprestada dos nossos filhos”. 

Esse provérbio, atribuído a povos indígenas das Américas, carrega uma sabedoria profunda e pode ser aplicado em diferentes escalas: ao nosso planeta, à paisagem em que vivemos e aos solos que cultivamos.

Os mesmos solos que hoje sustentam a produção de alimentos, fibras e energia para nossa geração precisarão ser ainda mais produtivos no futuro, para atender uma população crescente.

E, nesse contexto, é fundamental a adoção de práticas de manejo e conservação do solo. 

Segundo a ONU, atualmente somos cerca de 8 bilhões de pessoas no planeta. A estimativa para 2080 é ultrapassar os 10 bilhões.

Diante desse cenário, é fundamental promover uma agricultura sustentável, baseada no manejo adequado e na conservação do solo e da água — elementos essenciais para garantir produtividade de forma contínua.

No dia 15 de abril, comemoramos o Dia Nacional da Conservação do Solo, instituído pela Lei Federal nº 7.876, de 13/11/1989, em homenagem a Hugh Hammond Bennett (15/04/1881 – 07/07/1960), considerado o “Pai da Conservação do Solo”.

Nascido em uma fazenda na Carolina do Norte (EUA), Bennett estudou química e geologia, foi pioneiro nas pesquisas sobre erosão e conservação do solo e participou da criação do Serviço Nacional de Conservação do Solo em seu país.

Seu legado influenciou gerações de conservacionistas em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Em 2025, a Embrapa Cerrados celebra 50 anos de contribuições à agricultura brasileira.

Ao longo desse período, desenvolveu e disponibilizou diversas tecnologias que envolvem práticas agrícolas voltadas direta ou indiretamente à conservação do solo, sempre com foco em uma agricultura produtiva, estável e sustentável.

Antes de falarmos dessas tecnologias, é importante compreender as principais causas da degradação do solo e os princípios que contribuem para sua conservação.

Entre os principais fatores de degradação do solo no mundo estão a erosão, a salinização, a perda de matéria orgânica e fertilidade, e a compactação provocada pelo uso de máquinas agrícolas.

No Cerrado, são comuns todos esses problemas, com exceção da salinização, mais típica de regiões áridas e semiáridas.

Na prática, conservar o solo vai além do controle da erosão: trata-se da adoção de um conjunto de práticas que garantam sua capacidade de sustentar a produção por muitas gerações — um dos grandes desafios deste milênio.

A erosão pode ser hídrica (chuvas) ou eólica (ventos). Em ambos os casos, a melhor proteção é manter o solo coberto por vegetação — seja pelas culturas em desenvolvimento, seja pela palhada.

A erosão eólica ocorre, principalmente, em áreas planas e descobertas, durante períodos secos, podendo ser controlada com cobertura  de solo associada a quebra-ventos formados por árvores.

Já a erosão hídrica é a mais comum no Brasil, iniciando-se com o impacto das gotas de chuva sobre o solo desprotegido, o que favorece a desagregação e o transporte de partículas pela enxurrada.

Por isso, é essencial manter o solo coberto, permeado por raízes e revolvê-lo o mínimo possível.

A palhada protege contra o impacto da chuva, enquanto as raízes das plantas ajudam a infiltrar a água e manter a estrutura do solo.

Em sistemas de produção de grãos, o Sistema Plantio Direto é uma excelente alternativa, desde que adotado com boas práticas agronômicas, como:

    1. Rotação e diversificação de culturas, quebrando ciclos de pragas e fornecendo palhada em quantidade e qualidade adequadas;
    2. Manejo racional de corretivos e fertilizantes, conforme análise de solo;
    3. Manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas, otimizando o uso de defensivos e minimizando a poluição ambiental;
    4. Adoção de práticas conservacionistas complementares, como terraceamento e cultivo em nível, que contribuem para a infiltração de água.

Desde a década de 1970, a Embrapa Cerrados conduz pesquisas sobre plantio direto, correção do solo, adubação e rotação de culturas.

Ao longo dessas décadas  foram desenvolvidas recomendações para o uso de culturas de cobertura, manejo integrado, e práticas de conservação como terraços.

Recentemente, essas pesquisas se expandiram para culturas como cana-de-açúcar, onde se estuda o plantio direto.

Em culturas perenes como o café, o cultivo de braquiária entre as linhas da lavoura melhora a estrutura do solo, reduz a erosão e aumenta sua capacidade de armazenar água.

Nos anos 1970, a braquiária era vista apenas como forrageira — bem-vinda na pecuária, mas temida por agricultores como planta invasora.

Hoje, ela é uma grande aliada da agricultura sustentável, graças à sua capacidade de proteger o solo e melhorar suas características físicas, químicas e biológicas.

Vários estudos foram conduzidos pela Embrapa Cerrados sobre os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), hoje consolidados tanto no Cerrado quanto em outros biomas, onde a presença da braquiária contribui significativamente para a conservação do solo e da água, além de aumentar a produção e a diversidade dos sistemas agrícolas e a qualidade dos solos.

Esses sistemas mantêm o solo coberto por mais tempo, reduzindo erosão e aumentando a infiltração de água.

A produção de matéria vegetal da braquiária — tanto da parte aérea quanto radicular — favorece o aumento nos teores de matéria orgânica, contribuindo para formação de agregados, melhora a estrutura e a fertilidade do solo, elevando sua atividade biológica.

O desenvolvimento de cultivares precoces de soja também possibilitou o cultivo de duas safras por ano, com opções como milho solteiro, milho consorciado com braquiária, sorgo, milheto e outras plantas de cobertura como segunda safra, o que enriquece o solo com palhada e resíduos orgânicos.

Sistemas consorciados com cana-de-açúcar também têm sido estudados e aplicados comercialmente, promovendo ainda mais a diversificação e proteção do solo.

Outro avanço é a Bioanálise do Solo (BioAS), tecnologia desenvolvida pela Embrapa Cerrados que avalia a saúde do solo.

Com ela, o agricultor pode saber se seu solo está saudável, doente ou em recuperação — e verificar se o manejo adotado está sendo eficiente para a conservação.

A boa notícia: solos manejados de forma conservacionista são biologicamente mais ativos, contribuindo para a fixação de nitrogênio, maior disponibilidade de nutrientes e maiores produtividades.

Maior atividade biológica do solo favorece a degradação de pesticidas, podendo minimizar o risco de contaminação de águas subterrâneas.

Conservar o solo também significa conservar a água. Aumentar sua infiltração no solo reduz a erosão e melhora a recarga de aquíferos.

Áreas agrícolas bem manejadas — especialmente com terraceamento e cultivo em nível — desempenham um  importante papel hidrológico,  pois contribuem para o abastecimento de nascentes e rios, ajudando a prevenir crises hídricas e racionamentos de água nas cidades.

Para tanto, é muito importante evitar a compactação do solo, adotando um manejo preventivo (pesquisas vem sendo conduzidas nesse sentido, com resultados promissores).

Associado a isso, é essencial manter o solo biologicamente ativo, fazendo com que ele funcione como um grande filtro aos resíduos de pesticidas, proporcionando que a água chegue o mais limpa possível aos lençóis freáticos. 

Ao longo dos últimos 50 anos, a Embrapa Cerrados desempenhou um papel fundamental na construção de uma agricultura produtiva e sustentável no bioma Cerrado.

Isso foi possível graças ao trabalho conjunto com instituições públicas e privadas, e ao compromisso contínuo de suas equipes com a conservação dos recursos naturais.

Mas o nosso trabalho continua — e já estamos de olho nos próximos 50 anos e além.

Que venham os desafios! 

Embrapa Cerrados

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Publicado em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/99790523/embrapa-cerrados-ha-50-anos-contribuindo-para-a-conservacao-do-solo-e-da-agua 

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