Em meio ao cenário econômico desafiador, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou nesta terça-feira (25/03) que a convergência da inflação à meta continua complicada, exigindo uma política monetária mais rígida e duradoura. A recente ata do comitê revelou que a piora nas expectativas para prazos mais longos pressiona o Banco Central a manter os juros elevados, com a Selic já atingindo 14,25% ao ano após a última reunião, mesmo patamar registrado durante a crise do governo Dilma Rousseff (PT).
As projeções de inflação para os próximos anos subiram novamente, com o IPCA estimado em 4,5% para 2026 e em 4% e 3,78% para 2027 e 2028, respectivamente. A meta central de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, parece cada vez mais distante. Para o Copom, as expectativas desancoradas, ou seja, desvinculadas da meta, tornam o cenário inflacionário mais adverso e justificam a manutenção de uma política de juros altos por um período prolongado.
Pressão dos preços
A ata também destacou que os preços de alimentos seguem elevados e podem influenciar o custo de outros produtos no médio prazo. Além disso, o comitê alertou para o repasse da alta do dólar, registrada no final de 2024, para os preços de bens industrializados no varejo, o que deve pressionar ainda mais a inflação.
O comitê também mencionou que o mercado de trabalho continua aquecido, apesar de sinais iniciais de moderação no crescimento econômico. Embora alguns setores, como serviços e indústria, tenham demonstrado sinais de desaceleração, a resiliência do mercado de crédito e a manutenção de uma economia “pujante” preocupam o colegiado, que observa um ritmo reduzido nas concessões de crédito bancário.
Risco fiscal
A política fiscal expansionista do governo Lula é outro fator que desperta preocupação no Copom. Recentes iniciativas, como a proposta de ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda e a criação de um novo crédito consignado para trabalhadores do setor privado, são vistas com cautela, uma vez que podem agravar o quadro inflacionário e dificultar o trabalho da política monetária.
Para economistas como Caio Megale, da XP, o tom da ata manteve a postura vigilante, mas sugeriu que a pausa no ciclo de alta de juros está próxima. Megale prevê aumentos de 0,75 ponto percentual em maio e 0,5 ponto em junho, elevando a Selic a 15,5% ao ano, com possibilidade de uma última alta em ritmo menor caso a atividade econômica desacelere mais rapidamente.
O Copom também mostrou preocupação com o ambiente externo, especialmente diante das políticas econômicas dos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump. A incerteza em torno de possíveis estímulos fiscais e a elevação de tarifas sobre importações trazem riscos adicionais ao Brasil, podendo influenciar as expectativas de inflação. O momento exige cautela e parcimônia, e o Copom deixa claro que os juros não devem ceder tão cedo. O mercado já considera a possibilidade de uma Selic terminal próxima de 15%.
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