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Uma prova do reconhecimento popular veio na Sapucaí. Cacá virou enredo da Inocentes de Belford Roxo em 2016. Em 2018, ele foi eleito para a cadeira sete da ABL. Cineasta Cacá Diegues, um dos precursores do Cinema Novo, morre aos 84 anos
Globo Repórter
Morreu nesta sexta-feira (14), no Rio de Janeiro, aos 84 anos, o cineasta Cacá Diegues, um dos fundadores do Cinema Novo.
Uma vida dedicada à cultura brasileira. Uma história rica, imensa, que não cabe em poucas palavras. Diretor de cinema, roteirista, produtor, escritor, imortal da Academia Brasileira de Letras. Um apaixonado pelo Brasil.
“O Brasil é um grande mistério. Talvez seja por isso que eu faço muito filme sobre o Brasil, uma tentativa de descobrir algumas coisas sobre esse país que me fascina tanto”, disse Cacá Diegues em setembro de 2006.
Carlos Diegues nasceu em Maceió, em 1940. E foi lá, ainda menino, que surgiu o amor pelo cinema.
“Eu tinha uma tia que me levava ao cinema. Tinha uns 5 anos de idade. E ela me levou no primeiro cinema de Maceió. Eu entrei pela lateral, eu fiquei surpreso com aquela tela imensa, aqueles personagens imensos, aquela luz prateada. E eu fiquei olhando e ela achou que eu ia fazer alguma traquinagem e me disse assim: ‘Olha, não bota a mão na tela não que ela fica presa lá para sempre’. Ficou, né? Ficou”, contou o cineasta em julho de 2014.
Aos 6 anos, Cacá foi com a família para o Rio. Cursou Direito na PUC. Mas a paixão de criança falou mais alto. Depois de se dedicar ao cinema amador, participou com outros quatro colegas do projeto “5 Vezes Favela”, em 1961. Uma das obras fundamentais do Cinema Novo – o movimento que fundou o cinema moderno, engajado, e mudou a cultura no país.
Cacá Diegues, diretor de ‘Bye bye Brasil’, ‘Deus é brasileiro’ e ‘Tieta do Agreste’, morre no Rio aos 84 anos
O primeiro longa veio no ano seguinte: “Ganga Zumba”, estrelado por Antonio Pitanga e Léa Garcia. Críticos afirmam que este foi o primeiro filme com protagonistas negros do país.
A realidade brasileira, suas desigualdades, locações reais, filmes políticos. Cacá e cineastas como Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos bebiam da mesma fonte.
“O Cinema Novo tinha um programa muito simples de três pontos: mudar a história do cinema, mudar a história do Brasil e mudar a história do planeta”, afirmou Cacá Diegues.
Em 1969, a repressão da ditadura militar fez Cacá Diegues e sua esposa na época, a cantora Nara Leão, trocarem o Brasil pela França. Já de volta, em 1976, dirigiu “Xica da Silva”, com Zezé Motta. Pelo menos 3,5 milhões de espectadores lotaram as salas de cinema.
“Tenho orgulho de dizer que eu botei Zezé Motta no cinema”, contou Cacá Diegues em setembro de 2003.
O fim da ditadura trouxe um sentimento novo para Cacá: para ele, o Cinema Novo tinha perdido o sentido de ser. E vieram, então, mais dois sucessos: “Chuvas de Verão” e “Bye Bye Brasil” – que mostra um Brasil que estava mudando.
Depois de passar por uma crise profunda nos anos 1990, a Lei do Audiovisual trouxe novo fôlego para o cinema. E lá estava Cacá Diegues, levando os brasileiros de volta às salas para ver filmes nacionais. Como “Tieta do Agreste”, “Orfeu” e “Deus é Brasileiro” – segunda maior bilheteria dele, com mais de 1,5 milhão de espectadores. O último longa lançado foi “O Grande Circo Místico”, de 2018, baseado na obra do poeta alagoano Jorge de Lima. Conquistou prêmios em festivais no Brasil e lá fora.
Uma prova do reconhecimento popular veio na Sapucaí. Cacá virou enredo da Inocentes de Belford Roxo em 2016. Em 2018, foi eleito para a cadeira sete da Academia Brasileira de Letras.
Duas características guiavam o de Cacá Diegues. Ele fazia questão de buscar sempre a transformação, uma nova visão, para não se repetir, e era generoso. Defendia e incentivava o surgimento de uma nova geração de diretores que pudessem deixar o nosso cinema cada vez mais forte.
Um dos fundadores do Cinema Novo ajudou a criar também o núcleo de cinema do grupo “Nós do Morro”, do Vidigal, no Rio. Ele produziu e jovens de favelas fizeram o filme “5 Vezes Favela – Agora por Nós Mesmos”.
Cacá Diegues morreu nesta sexta-feira (14) de madrugada a enfrentar complicações cardíacas antes de uma cirurgia. No domingo (9), ele participou da gravação de um documentário. Estava feliz e descontraído ao lado da parceira de quatro décadas, a produtora Renata Almeida Magalhães.
Antes de se despedir, Cacá deixou um presente para o público: o filme “Deus Ainda é Brasileiro”, que está sendo finalizado.
Em janeiro, em uma crônica publicada no “O Globo”, onde escrevia semanalmente desde 2010, Cacá falou sobre o filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, e o título: “A Vida Vale a Pena”. Em poucas e imensas palavras, a visão do cineasta e escritor:
“Fazer a vida valer a pena não significa acumular riquezas ou status, mas, sim, viver com propósito, em equilíbrio. A mensagem que fica é que a vida deve ser um palco para a expressão pessoal. Que cada um de nós encontre seu próprio caminho para fazer da vida uma honra”.
Cacá Diegues deu o título ‘A Vida Vale a Pena’ à crônica
Reprodução/TV Globo
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