A partir do livro Ainda Estou Aqui, de autoria de Marcelo Rubens Paiva, foi roteirizado o filme de idêntico nome, figurando como protagonistas Fernanda Torres e Selton Melo, nos papeis de Eunice e Rubens Paiva, respectivamente. O cinema brasileiro está em festa com o Globo de Ouro de Melhor Atriz e, em seguida, com as três indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Atriz, Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro.
Sem ser apelativo, o filme emociona. Embora mais detalhista, o livro também emociona. Livro e filme são linguagens diferentes e com enfoques diferentes, entretanto, ambos se comunicam com perfeição, não havendo como dissocia-los, pelo menos para quem teve a oportunidade de ter acesso ao livro e ao filme.
A atuação de Fernanda Torres é uma aula de como interpretar sem precisar falar, pois em vários momentos, o olhar, os gestos e os lábios trêmulos são suficientes para transmitir os sentimentos mais profundos a ocupar a alma de uma mulher que teve o marido levado por agentes da ditadura e que nunca mais retornou, sabendo-se apenas, tempos depois, que ele morreu em decorrência das torturas sofridas e que seu corpo jamais foi encontrado.
Eunice Paiva passou a vida tentando comprovar que o marido foi morto por agentes da ditadura, lutando para que essas memórias permanecessem vívidas e, por ironia do destino, suas próprias memórias foram se perdendo de forma gradual, por ser acometida pelo Alzheimer. Aliás, no final do filme, os poucos segundos em que Fernanda Montenegro interpreta Eunice Paiva, já acometida pela doença, é outra aula de interpretação que impressiona.
Ao escrever o livro, Marcelo Rubens Paiva registra a vida de sua mãe e sua luta para criar os cinco filhos em meio ao súbito desaparecimento do marido; à angústia de não saber o que realmente aconteceu; às dificuldades financeiras que passou porque não podia administrar o dinheiro do esposo que, para todos os efeitos, ainda estava vivo; à necessidade de se reinventar, frequentando uma faculdade, se formando e advogando, primeiramente, para amigos, depois, para causas de repercussão internacional, a exemplo dos direitos dos povos indígenas; à resistência de muitas pessoas em revisitar um passado sombrio da História.
Registra o autor: “Minha mãe, aos oitenta e cinco anos, não entrou no Estágio IV, o pior de todos. Sua vida tem muitos atos. Teremos mais um. Enquanto a morte do um pai não tem fim.”
Que venha, então, o Oscar!
GRECIANNY CORDEIRO
PROMOTORA
DE JUSTIÇA
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