Encontro fortuito com Leonel Brizola em Nova Iorque

Em uma das designações do Congresso Nacional, no final dos anos 1970, para juntamente com outros colegas parlamentares comparecermos à tradicional e importante ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, tive a oportunidade de encontrar, no Hotel Roosevelt, o grande líder trabalhista LEONEL BRIZOLA, que lá se encontrava como asilado político, após permanecer mais de uma década no Uruguai. Ao me avistar, logo bradou meu nome, mesmo à distância, deixando surpresos os que não sabia se ele iria me reconhecer naquela imensa metrópole norte-americana. Após os cumprimentos recíprocos, o notável político gaúcho (que depois seguiu carreira no Rio de Janeiro), me convidou para conversarmos, ali mesmo, sobre fatos políticos relevantes, que estavam ocorrendo em nosso País, num instante em que ele, ainda impedido de retornar, se mantinha à par de acontecimentos significativos registrados em nossa território.

No decorrer de nosso diálogo, as versões que ele me transmitia eram duma atualidade inacreditável, até mesmo sobre alguns fatos ocorridos próximos, o que apontava para um permanente acompanhamento de tudo o quanto se desdobrava na Capital da República, a que pertencíamos. Àquela altura, BRIZOLA ainda se achava na condição de deputado federal cassado, por força do regime político advindo do Movimento Militar que eclodiu em nosso País, em 1964, quando o mesmo integrava o lendário Partido Trabalhista Brasileiro. No aludido encontro, surpreendeu-me o seu relato atualizadíssimo da época, mormente de acontecimentos da vida pública brasileira, numa comprovação de que, diariamente, acompanhava noticiário substancioso do Brasil, que o orientavam para melhor situar-se sobre os rumos institucionais fixados pelo governo dominante de então.

Jamais pensei que o grande líder estivesse inteirado das oscilações político-partidárias, expressando sua firme disposição de regressar à nossa Pátria, quando se restabelecesse entre nós as liberdades individuais e o Estado Democrático de Direito. Sem deixar quaisquer dúvidas, afirmei-lhe de que me alinhava à ideia de retorno à normalidade institucional, sobretudo a elaboração de uma nova CARTA MAGNA que preconizaria a estabilidade política e a prevalência de normas consequentes, com vistas à restauração da plenitude democrática, a partir de então, pondo fim a uma rotina de incertezas e desagregação no âmbito social. Após aquele inesperado encontro, na terra do Tio Sam, não demoraria muito para ser aprovada pelo Congresso a Lei de Anistia, nos primórdios do Governo Figueiredo, permitindo aos exilados o retorno ao Brasil, e consequentemente ao exercício das atividades político-partidárias. Com isso, o Rio de Janeiro ainda teve o privilégio de tê-lo duas vezes como governador, quando ele criou os Centros Integrados de Educação Pública (CIESPs), padrão de educação de qualidade. Quando da criação do PDT, recebi honroso de BRIZOLA para me filiar à nova legenda a ser criada, ao tempo em que recusei, assegurando-lhe que me conduziria sempre como pregoeiro das liberdades públicas, prognosticando para uma nova realidade a ser consolidada em nossa Nação, que viria a se confirmar com a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte e a promulgação da Constituição de 1988.

MAURO BENEVIDES
JORNALISTA E
SENADOR-CONSTITUINTE

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