Não podemos depender do petróleo

A eclosão da guerra da Rússia contra a Ucrânia tem evidenciado um dos principais gargalos mundiais: a ainda ampla e excessiva dependência mundial das fontes fósseis de energia, no caso, o petróleo e o gás natural. E, que tudo indica, ainda deve persistir por muito tempo.
Em 1973, a economia global foi abalada pela guerra do Yom Kippur. Em 1979, o baque veio da Revolução Iraniana levou à segunda crise do petróleo. Agora, bastou o anúncio de embargos ao petróleo russo – em justa represaria à covarde e sanguinária invasão à Ucrânia -, para que os preços do barril disparassem 30% em apenas uma semana, a maior alta para o período em dois anos.
Instabilidades nos preços e na produção de petróleo e gás natural devem levar o Mundo a prolongar e até agravar a crise econômica e as pressões inflacionárias deflagradas em escala global a partir da pandemia do Covid-19.
Até os países ricos, sobretudo os da Europa e os Estados Unidos, que ainda mostram sinais frágeis de recuperação, voltarão a flertar com a recessão.
Mais do que nunca, devemos chamar atenção para a necessidade imperiosa de livramo-nos da dependência da Opep+ (países membros da organização e a Rússia), e de se mudar, mais rapidamente, a matriz energética do planeta, optando-se por fontes limpas e renováveis.
Dados da agência americana Energy Information Administration mostram que 83% da energia consumida no globo têm origem no petróleo (45%) e no carvão (15%), já o gás natural garante 21% do consumo. Enquanto que as fontes renováveis não passam de 10%. Para inverter esse quadro, pelas projeções da Agência Internacional de Energia (AIE), o mundo terá que investir aproximadamente US$ 25 trilhões até 2035. Ou seja, não há mais como optar pelo silêncio.
Segundo a Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), a capacidade de produção de energias renováveis aumentou 1.398 Gigawatts (GW) entre 2015 e 2024. A capacidade de geração de energia renovável global era de 1,985 GW em 2015 passou para 3.383 GW. Um aumento de 70,4% em 9 anos.
E o Brasil tem sido um dos principais protagonistas nessa transformação energética. Temos avançado muito no processo de redução de custos de produção, alcançando avanços tecnológicos cada vez mais abrangentes, para explorar nosso imenso potencial Eólico e Solar Fotovoltaico.
A indústria automobilística, por exemplo, tem investido centenas de bilhões de dólares para substituir motores a combustão por elétricos. A frota de carros elétricos tem aumentado 150% a cada ano. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a frota global de carros, vans, ônibus e caminhões novos deverão ser de maioria elétrica em 2035.
E para aqueles céticos, que acham extremamente difícil prescindir dos combustíveis fósseis, avisamos a “Era do Petróleo” está com os dias contados. Assim como a Idade da Pedra não acabou por falta de pedras, a “Idade do Petróleo” vai acabar não por falta de petróleo, mas por avanços tecnológicos que vão permitir a construção de uma nova matriz energética, não-fóssil, de baixo carbono, renovável e mais limpa do ponto de vista ambiental.

JOSÉ MARIA PHILOMENO
ADVOGADO
E ECONOMISTA

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