O Galaxy Z Fold 6 é a mais nova versão do smartphone dobrável da Samsung, voltado ao público ultra premium, os com bolsos (muito) fundos, em mais de um sentido. Ele chega em um momento que a fabricante sul-coreana não mais domina a categoria, e parte da culpa é dela própria.
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Fato, o Z Fold 6 é poderoso e atraente, mas seu preço altíssimo não é justificado pelas pouquíssimas inovações, quando comparado aos modelos de gerações passadas. E não, os recursos de IA, a buzzword da vez, não são o bastante, até por não serem exclusivos dos modelos mais caros da Samsung.
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Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
Afinal, para quem o Galaxy Z Fold 6 apela, e por que a Samsung perdeu o bonde da inovação do mercado que ela própria criou? Eu testei o aparelho por duas semanas, e conto o que achei dele a seguir.
Nota de transparência
Desde 2004, o Meio Bit publica análises opinativas com o intuito de ajudar os leitores a tomarem sua própria decisão de compra, seja de um gadget, um game ou um serviço/software/app. Nós somos francos em nossas opiniões e destacamos pontos positivos e negativos de igual maneira, não importando a natureza dos produtos, de modo a manter a integridade e transparência do site.
Ninguém externo à redação do Meio Bit teve acesso a este review de forma antecipada, bem como não houve nenhum tipo de interferência, pagamento, ou direcionamento da Samsung e/ou terceiros, em relação ao seu conteúdo.
O Galaxy Z Fold 6 foi fornecido pela Samsung em caráter de empréstimo; ele será devolvido à empresa após os testes.
Design
Este será um review com um monte de bodes na sala, o primeiro sendo o design. Salvo modificações pontuais, o Z Fold 6 é quase igual ao Z Fold 5, que já era muito parecido com o Z Fold 4… e isso vai até o Galaxy Fold original, lançado em janeiro de 2020 no Brasil.
A diferença mais notável em relação ao modelo de 2023, é a proporção da tela principal, que sendo 20,9:18, deixou o smartphone quando aberto mais quadrado. De resto, ele segue o form factor de livro, mas desta vez com dobradiças mais resistentes.
Fechado, ele se passa tranquilamente por um smartphone comum, principalmente devido aos cantos retos, tal qual o Galaxy S24 Ultra; apenas chegando perto é possível notar o quão mais espesso ele é.
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Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
Algumas dessas mudanças, feitas para tornar a navegação com a tela externa mais confortável, foram tomadas para deixar o Galaxy Z Fold 6 mais a par com concorrentes, como o Google Pixel Fold e o OnePlus Open, especialmente o segundo, por motivos que ficarão claros mais para a frente.
O aparelho não possui entrada para cartões de memória, e traz certificação IP48 de resistência a água e elementos estranhos. O botão Liga/Desliga comporta o leitor de impressões digitais, há uma porta USB-C 3.2, o de sempre para um gadget premium.
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Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
Ainda que este smartphone seja bem parecido com seus antecessores, ele não é exatamente feio, e quem está dentro da linha não terá do que reclamar quanto ao design.
Telas e som
A tela principal recebeu um upgrade significativo no que tange à resistência. O display LTPO AMOLED 2x dobrável, de 7,6″e resolução de 2.160 x 1.856 pixels, conta com uma camada a mais e está não só mais durável, como o vinco interno está bem menos pronunciado, quando olhamos para ela de frente.
Olhando de perfil, e dependendo do reflexo, a marca ainda é bem evidente, assim como ela continua sendo ao toque, mas acredite: com o tempo você se acostuma.
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Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
A tela dobrável sempre foi a maior fonte de reclamações dos usuários, desde o primeiro Fold, e convenhamos, parte da culpa foi nossa, um mercado consumidor que exige novidades todos os anos, e os fabricantes reinventando a roda a cada ciclo. O problema, essa “reinvenção” se limita a uma perfumaria aqui, um emoji animado ali… a bola da vez? IA, claro.
Quando o Fold chegou, a Samsung prometeu uma revolução, era a ascensão dos celulares dobráveis, mas as telas morrendo após poucas operações de abre-e-fecha assombra a empresa desde então. A tecnologia melhorou bastante, mas não é perfeita e jamais será, pois uma tela que dobra vai ao encontro do que Arthur C. Clarke definiu, a máquina ideal não pode ter partes móveis, pois elas quebram.
A Samsung melhorou bastante e continua trabalhando para reduzir os problemas do display, e eu consigo viver com isso.
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Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
Da qualidade do display em si, nada a reclamar. Ele possui brilho forte e boa fidelidade de cores, tons de preto e cinza, como qualquer outro AMOLED premium. O problema, claro, é encontrar conteúdos compatíveis para um formato de tela 20,9:18.
Ironicamente, vídeos em 4:3 ficam muito bem nessa telona; dá para assistir o Snyder Cut, por exemplo, confortavelmente em um Z Fold 6.
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Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
A tela externa, também uma LTPO AMOLED 2X, mas com 6,3″, 2.376 x 968 pixels e proporção 22,1:9, é mais próxima dos smartphones de hoje, mas eu particularmente a acho um tanto pequena para consumir conteúdo; por outro lado, seu formato é mais próximo de quase tudo o que assistimos hoje. Ela serve como display always on para notificações, mas é perfeitamente usável como tela principal para tudo.
Em comum, ambas telas possuem taxa de atualização de até 120 Hz, que assim como aconteceu com a linha Galaxy Tab S9, não pode ser selecionada diretamente, apenas na opção dinâmica, onde o aparelho decide quando forçar e quando maneirar a mão; framerate fixo, só a 60 Hz.
Já o som é provido por alto-falantes da AKG, com som espacial e compatível com Dolby Atmos, mas só nos fones de ouvido. Há uma boa qualidade de graves e agudos, mas como sempre, o uso dde periféricos é indicado para uma melhor experiência sonora.
Software e extras
O Android 14, customizado pela interface One UI 6.1.1, oferece compatibilidade com a tela dobrável até certo ponto. Vários apps hoje conversam sem problema com o display quadradão da Samsung, ironicamente com mais frequência do que com tablets.
É possível usar submenus, trabalhar com multitarefa com o DeX, plenamente compatível, alguns games suportam a proporção sem problemas… hoje não há mais aquele deserto de conteúdo de 5 anos atrás.
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Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
Talvez a grande limitação continue sendo vídeos, mas isso não tem o que fazer, quase toda nossa produção hoje segue o formato 16:9 e similares, de novo, é algo com que você se acostuma com o tempo.
A grande bola dentro da Samsung, por sua vez, é a garantia de atualizações de sistema por incríveis 7 anos, afinal, o investimento precisa ser justificado de alguma forma.
IA IA IA IA IA…
Sendo as IAs generativas a grande tecnologia disruptiva que todos correm atrás atualmente, o Galaxy Z Fold 6 não poderia ignorá-la. A API Galaxy AI conversa com diversos apps nativos da Samsung e alguns outros, oferecendo conteúdos em contexto.
Por exemplo, o Portrait Studio transforma retratos em ilustrações, e a Galeria permite mover elementos de lugar, ou introduzir outros através de desenhos, que o algoritmo infere e inclui.
No exemplo abaixo, eu fiz alguns rabiscos despretensiosos para representar um gato, e o Galaxy AI ofereceu 5 opções, uma muito errada, e outras mais próximas. A no post foi o melhor resultado.
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Foto original… (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
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Um “desenho” aleatório… (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
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E o resultado (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
É possível também criar resumos com algumas palavras-chave, resumir anotações, traduzir conversas em dois idiomas em tempo real, com o aparelho captando a voz de duas pessoas diferentes… as possibilidades são várias.
O problema? Nada disso é exclusivo do Galaxy Z Fold 6, as soluções do Galaxy AI, e de apps similares, podem ser usadas em outros smartphones da Samsung.
Desempenho e autonomia
SoC Qualcomm Snapdragon 8 Gen 3 for Galaxy, octa-core com clock de até 3,39 GHz, GPU Adreno 750 de 1 GHz, 12 GB de memória RAM, e 512 GB de espaço interno. É um setup poderoso, que não faz feio com tarefas pesadas, multitarefa, e jogos exigentes.
Ele nem suou rodando Asphalt Legends Unite e Genshin Impact em configurações altas, embora um ou outro engasgo mínimo tenha sido notado; em especificações medianas, tudo flui perfeitamente.
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Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
A bateria de 4.400 mAh, dividida entre as duas abas do gadget, é a mesma presente no Z Fold 5, e segura em média um dia de uso moderado. Nos meus testes, eu o tirei da tomada às 8:00, rodei duas horas de streaming de vídeo, duas horas de streaming de música, uma hora de games (Asphalt Legends Unite e Genshin Impact, 30 minutos cada), navegação e redes sociais, sempre no 5G e Wi-Fi, com brilho no máximo.
Às 22:00, a bateria marcou 19%, um número dentro do esperado quando você força um pouco a barra. A recarga, provida pelo carregador rápido de 25%, foi de 0% a 50% em 33 minutos (alinhado com a promessa de 30 min), e mais 52 minutos para chegar aos 100%, o que não é nada mal.
Câmeras
Sendo um celular dobrável, temos câmeras a rodo aqui. As principais contam com uma Wide de 50 MP, uma Teleobjetiva de 10 MP e zoom real de 3x, e uma Ultrawide de 12 MP.
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Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
A Wide tem uma boa definição, e usa 12 MP como captura padrão. Você pode mudar para 50 MP quando quiser, o algoritmo é bom o bastante para não deixar as fotos pesadas demais, sem sacrificar a qualidade.
O zoom físico de 3x funciona direitinho, mas mais do que isso passa para o digital, sujeito a distorções; de modo geral, as cores são fiéis e há pouco blur nas bordas. Como sempre, smartphones premium vêm com as melhores câmeras.
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Foto externa no modo de 50 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
Em fotos internas, o Galaxy Z Fold 6 capta cores fortes e bastante detalhes, dependendo da fonte de luz, mas no geral, você não terá problemas para fotografar suas fotos de comida para postar no Instagram.
Aliás, o aparelho também oferece ajustes de IA para melhorar suas capturas, pensando na rede social de fotos; fica a seu critério.
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Foto interna no modo Retrato (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
A parte mais interessante, no entanto, é a hora de tirar selfies, já que você pode usar qualquer câmera para isso. A interna de 4 MP, sob a tela dobrável, é bem fraquinha e sofre para pegar detalhes, assim como é terrível para reconhecimento facial; ela conseguiu falhar todas as vezes.
Esta provavelmente será a que você nunca usará para tirar um autorretrato, a qualidade é apenas suficiente.
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Selfie usando a câmera interna, 4 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
A selfie externa, por sua vez, é acomodada em um notch em forma de furo, e com 10 MP, não apresenta nenhum impedimento com biometria, assim como entrega selfies de maior qualidade. Ela é posicionada como a opção padrão.
Porém, você pode ir além.
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Selfie usando a câmera frontal externa, 10 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
Graças ao formato dobrável, você pode virar as câmeras principais na sua direção, com o dispositivo aberto, e usar a tela externa para capturar uma selfie, usando o sensor Wide em 12 MP ou 50 MP, para máxima qualidade.
Eu acho este um recurso overkill, mas se você já pagou caro pelo aparelho, por que não?
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Selfie usando as câmeras principais, 12 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
No mais, é possível gravar vídeos em 8K a até 30 fps, e em 720p na velocidade ultralenta, a 960 fps.
Conclusão
O Galaxy Z Fold 6 é potente, talvez o mais poderoso e inovador smartphone Android disponível no Brasil que o dinheiro pode comprar, mas a Samsung hoje paga o preço de ter sentado em cima dos louros do sucesso, e oferecer poucas inovações relevantes ao longo dos anos. Como resultado, o mercado de dobráveis hoje é dominado por marcas chinesas, como Oppo, Honor, e Huawei, que sequer pode vender o Mate X5 fora do País do Meio de forma legal.
Por que isso aconteceu? Este e outros chineses, e concorrentes do Google e Motorola, em geral oferecem câmeras melhores, corpos mais finos, e o principal, custam menos. Hoje, a Samsung responde por 23% do mercado de dobráveis, quando já chegou a abocanhar 58%; a líder do setor é a Huawei, com 35% (dados de maio de 2024).
A Samsung diz que mira, com as linhas Z Fold e Z Flip, em quem já está dentro do ecossistema, ou seja, não está atraindo consumidores novos, o que se reflete no mercado geral, que cresceu 50% de 2023 para cá, o que é considerado um número modesto.
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Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
Claro, quando olhamos para o preço sugerido do Galaxy Z Fold 6 no Brasil, de R$ 13.799, dá para entender por que seus aparelhos dobráveis não vendem tanto mais. Dentro da categoria dobráveis, este e o Z Flip 6 possuem pouca concorrência por aqui, mas os valores não ajudam.
Se você procura um Android de ponta com recursos de IA, talvez o Galaxy S24 Ultra, ou mesmo um top de uma geração atrás, seja o mais indicado caso não queira gastar muito; o Z Fold 6 faz sentido se você realmente, definitivamente, precisa de um celular que dobra no bolso, e estiver disposto a sangrar a carteira por ele.
Galaxy Z Fold 6 — Ficha Técnica
- Processador: Qualcomm Snapdragon 8 Gen 3 for Galaxy (4 nm), octa-core com 1 núcleo Cortex-X4 de 3,39 GHz, 2 Cortex-A720 de 3,1 GHz, 2 Cortex-A720 de 2,9 GHz, e 2 Cortex-A520 de 2,2 GHz;
- GPU: Adreno 750 (1 GHz);
- Memória RAM: 12 GB;
- Armazenamento interno: 512 GB;
- Armazenamento externo: não expansível;
- Tela interna: Dynamic LTPO AMOLED 2X dobrável de 7,6 polegadas;
- Resolução: 2.160 x 1.856 pixels (proporção 20,9:18, ~374 ppi);
- Taxa de atualização: até 120 Hz (ajuste dinâmico);
- Tela externa: Dynamic LTPO AMOLED 2X de 6,3 polegadas;
- Resolução: 2.376 x 968 pixels (proporção 22,1:9, ~410 ppi);
- Taxa de atualização: até 120 Hz (ajuste dinâmico);
- Câmera traseira: Conjunto triplo:
- Principal (Wide): 50 megapixels, abertura f/1,8;
- Teleobjetiva: 10 megapixels, abertura f/2,4, zoom óptico de 3x;
- Ultrawide: 12 megapixels, abertura f/2,2;
- PDAF, OIS, Flash LED, HDR, HDR+, grava vídeos em 8K a 30 fps, 4K a até 60 fps, 1080p a até 240 fps, 720p a 960 fps;
- Câmera selfie interna: 4 megapixels, abertura f/1,8, disposta sob o display;
- Câmera selfie externa: 10 megapixels, abertura f/2,2;
- HDR, gravam vídeos em 4K e 1080p a até 60 fps;
- Sensores: Proximidade, acelerômetro, giroscópio, bússola, leitor de digitais no botão Liga/Desliga;
- Recursos extras: DeX, Bixby, Galaxy AI;
- Conectividade: 5G, Wi-Fi 6E, Bluetooth 5.3, GPS, GLONASS, BDS, GALILEO, QZSS;
- Bateria: 4.400 mAh (2x 2.200 mAh), com suporte a carregamento ultrarrápido de 25 W;
- Portas: USB 3.2 Type-C;
- Sistema operacional: Android 14 com One UI 6.1.1;
- Dimensões: 153,5 x 132,6 x 5,6 mm (aberto), 153,5 x 68,1 x 12,1 mm (dobrado);
- Peso: 239 g;
- Cores: Cinza, Azul, Preto (exclusiva loja Samsung).
Pontos fortes:
- Displays de alta qualidade;
- Vinco da tela interna é bem mais discreto;
- Desempenho de sobra;
- 7 anos de atualizações do Android garantidas pela Samsung.
Pontos fracos:
- Sim, é caro. MUITO caro;
- Inovações em software e IA não são exclusivas;
- Quase nenhuma novidade relevante em hardware, há anos.
Galaxy Z Fold 6: poderoso, mas estagnado