Certa vez, tive a oportunidade de assistir na televisão, a uma entrevista concedida pelo instrumentista, letrista, poeta, cantor e músico Paulinho da Viola, chamado “Príncipe” por grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB). Lembrei-me, naquele momento, das manifestações culturais inerentes à MPB, do final de 1950 até o início de 1970. Foi um período extremamente rico e renovador, quando surgiram nomes que ainda hoje continuam fazendo sucesso, e muitos, para sempre, ficarão gravados na memória do povo brasileiro. Os famosos festivais da “Record” e o excelente nível dos artistas contribuíram para a consolidação de movimentos musicais como a Bossa-Nova, a Jovem Guarda, o Fino da Bossa e a Tropicália. João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius, Chico Buarque, Edu Lobo, Toquinho, Nara Leão, Roberto Carlos, Erasmo, Martinha, Jorge Ben, Wanderleia, Ellis Regina, Jair Rodrigues, Simonal, Caetano, Gil, Dory, Bethânia, Gal, além de muitos outros, formavam os mencionados movimentos da MPB.
Paulinho não se vinculou diretamente a nenhum dos movimentos mencionados. Não por rejeição a qualquer tipo de música, mas por formação. Filho do violonista e chorão César Faria, do conjunto Época de Ouro, criou-se ouvindo músicos como Pixinguinha e Jacob do Bandolim. Muito cedo aprendeu a tocar violão e cavaquinho. Aos dezenove anos de idade compôs “Pode ser Ilusão”, seu primeiro samba. Daí em diante fez amizade com compositores e sambistas importantes, como Cartola, Zé Ketti, Carlos Cachaça, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho, Oscar Bigode, Nelson Sargento, e passou a frequentar o bar Zicartola, símbolo da boemia carioca, bem como rodas de samba da Mangueira e da Portela, sua escola do coração.
Muitas músicas surgiram: Dança da Solidão, Argumento, Amor à Natureza, Coração Leviano, Sei Lá Mangueira, Foi um Rio que Passou em Minha Vida, etc.
A importância do trabalho de Paulinho já foi reconhecida no Brasil e no exterior. Recebeu vários prêmios e sua obra, além dos discos, consta de teses acadêmicas e livros. Paulinho é a ponte de ligação entre a tradição e o moderno. Há mais de seis décadas o Brasil o admira. Sua voz doce, sua viola e cavaco afinados, bem como a humildade dos bons, ouvi-lo leva-me a sonhar com um mundo melhor. Como disse em “Amor à Natureza”, “Uma Semente atirada em solo tão fértil não deve morrer”. Realmente, nossos corações são férteis, precisamos receber sementes de amor e de solidariedade.
GONZAGA MOTA
PROFESSOR
APOSENTADO DA UFC
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