“Ano passado meu filho comia e chegava em casa com a barriga cheia porque se alimentava na escola. Mas desde o início do período letivo meu filho não come mais. Eu pergunto porque ele não comeu no colégio e ele fala que a comida é ruim. Quando ele come, nos dias que é bolacha com suco, ele disse que só consegue comer bolacha porque o suco é muito ruim e sem gosto”. Este é o desabafo da dona de casa Ravena dos Santos (34), mãe de um aluno que estuda em uma escola municipal no bairro Conjunto Ceará. A mãe aponta que viu a qualidade da merenda cair no início do ano letivo de 2025, em fevereiro, já durante a gestão de Evandro Leitão (PT).
A reportagem visitou quatro escolas na manhã desta segunda-feira (31), nos bairros Genibaú e Conjunto Ceará, para conversar com pais e alunos da escola a respeito da alimentação na educação infantil e ensino fundamental. A qualidade e quantidade do fornecimento da merenda escolar oferecida pela rede municipal de Fortaleza, se tornou assunto desde a última sexta-feira (28), quando o ex-prefeito José Sarto publicou em suas redes sociais uma reclamação a respeito da alimentação nas escolas públicas da capital. No post, o ex-prefeito escreveu: “É inaceitável o que está acontecendo nas escolas municipais na gestão do PT. Reduzindo a quantidade e a qualidade da merenda escolar, segundo denúncias dos próprios petistas nas redes sociais. Isso é muito grave! Muitas das crianças dependem dessa alimentação nas escolas, e o prefeito vai e corta a carne, corta o ovo da comida das nossas crianças?”.
Na Escola Municipal Murilo Aguiar, no Genibaú, uma das mães que preferiu ter sua identidade resguardada, afirma que a alimentação já era “muito ruim”, não só na escola, mas em outras escolas municipais no mesmo bairro. “Isso começou no ano passado, enquanto meus filhos estudavam na escola antiga, aqui no bairro. Já nessa escola meus filhos reclamam que a sopa não tem verdura, não tem carne e nem frango dentro da sopa, é só um caldo ralo e as crianças não conseguem comer. Não tem a mínima condição das crianças comerem isso, muitas vezes vão e voltam para casa com fome. Não temos dinheiro para comprar merenda todo dia e não podemos contar com uma merenda de qualidade na escola”.
Ao todo, a reportagem conversou com mães e pais, nas escolas municipais Murilo Aguiar (556 matrículas), João Frederico Ferreira Gomes (608 matrículas), no bairro Genibaú e na João Nunes Pinheiro (630 matrículas) e Irmã Maria Evanete (502 matrículas), no Conjunto Ceará. As escolas mesclam Ensino Infantil (EI) e Ensino Fundamental (EF), os dados de alunos matriculados são do Censo de 2023 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Das reclamações, em geral os pais falam da qualidade das frutas, que muitas vezes são estragadas, além da quantidade de comida. A substituição das refeições por um pedaço de fruta também foi relatada. Em uma das instituições, a reportagem conversou com uma merendeira que endossou os relatos dos pais e disse que muitas vezes é preciso fazer a substituição no cardápio proposto pela prefeitura, pois as frutas indicadas para o dia estão ‘verdes’ ou ‘podres’.
Com uma publicação nas redes sociais a Prefeitura Municipal de Fortaleza (PMF) respondeu ao post de José Sarto. A gestão se pronunciou com um vídeo trazendo profissionais nutricionistas da Secretaria Municipal de Educação (SME). Em um trecho do vídeo, Larissa Vilar, nutricionista, afirma que o consumo diário e a diversidade alimentar são respeitados. “É assegurado que o consumo diário nas unidades de ensino respeitem hábitos saudáveis, nossa cultura e diversidade alimentar, boas práticas na manipulação dos alimentos, e claro, com o objetivo de sempre atender nutricionalmente os nossos estudantes durante sua estadia na escola. É feito também um acompanhamento diário de estoques, entregas e distribuição desses alimentos”.
A resposta da nutricionista contrasta com o relato dos pais de alunos nas escolas visitadas. A reportagem procurou a pasta municipal de educação para esclarecimentos, a assessoria de imprensa confirmou que recebeu o e-mail com as informações sobre os problemas relatados pelos pais, entretanto, até o fechamento desta edição não tivemos resposta.
Por Hyago Felix
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