O tarifaço deve ser anunciado na quarta-feira, 2 de abril -o apelidado “dia da libertação”. A expectativa pela política comercial do republicano tem ditado o humor dos mercados globais desde o início do ano, e a moeda norte-americana tem se enfraquecido em meio a temores de que a guerra comercial possa empurrar a economia dos EUA para uma recessão.
Só em relação ao real, o dólar caiu 7,63% neste primeiro trimestre e 3,51% em março. Já a Bolsa subiu 8,3% desde o início do ano, se beneficiando da percepção de que o Brasil poderá ganhar espaço no comércio internacional em meio à guerra de tarifas. No mês, acumulou ganhos de 6,07%.
Nesta segunda, porém, o Ibovespa registrou forte queda de 1,24%, a 130.259 pontos, acompanhando o mau humor global diante do tarifaço.
Os ativos de risco -e nesta categoria se incluem índices acionários e moedas de mercados emergentes- têm ora se beneficiado, ora se depreciado, diante do vai-e-vém do tarifaço.
A duas sessões de distância do “dia da libertação”, os investidores optaram por cautela. Em Wall Street, por outro lado, os índices acionários ensaiaram uma recuperação. O Dow Jones subiu 1%, a 42.001 pontos, e o S&P 500 avançou 0,55%, a 5.611 pontos. O Nasdaq Composite destoou dos demais e caiu 0,14%, a 17.299 pontos.
O trimestre, porém, é o pior para os norte-americanos desde 2022. Só o S&P 500, que reúne as 500 principais empresas dos Estados Unidos, caiu 4,6% nos primeiros três meses do ano. O Nasdaq Composite acumulou perdas de 10,4%, e o Dow Jones, 0,92%.
“É muito mais a incerteza geral que está pesando no sentimento do investidor”, diz Charles De Boissezon, chefe global de estratégia de ações da Société Générale. “Os anúncios de tarifas continuam mudando, mas o que eles têm em comum é que eles simplesmente não são bons para o crescimento global.”
Trump deve anunciar tarifas recíprocas a “todos os parceiros comerciais” dos Estados Unidos na quarta, segundo afirmou no domingo (30). Até semana passada, havia a expectativa de que o tarifaço fosse direcionado aos países com maiores desequilíbrios comerciais para com os norte-americanos -”os 15 sujos”, como apelidado pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent.
O tarifaço tem gerado temores nos mercados pelo impacto potencial na economia mundial. O principal receio é que ele aumente a inflação em uma ampla gama de produtos e distorça cadeias de suprimentos globais, especialmente se os países afetados revidarem com mais impostos.
Até o momento, após uma série de ameaças e recuos, Trump já implementou uma tarifa de 20% sobre produtos chineses, taxas de 25% sobre importações de aço e alumínio e tarifas de 25% sobre mercadorias de México e Canadá que violem as regras de um acordo comercial da América do Norte. Em 3 de abril, entrarão em vigor as tarifas sobre os automóveis importados.
“O que se vê agora é uma percepção crescente de que o governo Trump prepara algo significativamente mais agressivo”, disse o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
“A falta de clareza sobre os detalhes finais -e o próprio fato de que ainda estão sendo definidos- apenas amplia o risco de um evento desorganizado, capaz de gerar forte volatilidade.”
Ainda não se sabe se o Brasil será ou não atingido pelas medidas. Mas, caso o país esteja na lista de afetados, as taxas incidirão sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos, sem exceções.
“A valorização do real parece estar associada à posição neutra que o Brasil se encontra nessa guerra tarifária, ainda mais em um contexto de possibilidade de recessão nos Estados Unidos”, diz João Duarte, sócio da One Investimentos.
“O Brasil tem se tornado uma opção vantajosa entre os países emergentes. Há um entendimento no mercado de que vários ativos brasileiros estão com bons preços, o que atrai muito investimento para a Bolsa, apesar do dia de desvalorização.”
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