Nestes tempos de Donald Trump, marcados por acusações de fascismo, rearmamento da Europa e ressurgimento de debates sobre a necessidade de mais armas nucleares na União Europeia como escudo contra o imperialismo russo, as reflexões do professor Arnaldo Godoy, livre-docente da USP, no artigo “Victor Klemperer e o uso da linguagem pelos nazistas”, publicado no site conjur.com.br, tornam-se especialmente esclarecedoras.
Segundo Godoy, Klemperer (1881-1960), filólogo, viveu na Alemanha em um período de triste memória, sendo atormentado pelos horrores e pela perseguição nazista. Judeu, Klemperer teve sua prisão e execução repetidamente adiadas devido ao fato de ser casado com uma alemã. Sobreviveu e nos legou um impressionante estudo sobre os usos da língua alemã pelos nazistas: LTI: Lingua Tertii Imperii, ou seja, a Língua do Terceiro Reich. Klemperer nos recorda o alerta de Franz Rosenzweig, para quem a linguagem é mais do que sangue. Trata-se de um estudo de filologia aplicado à ciência política.
Klemperer, enquanto professor na Alemanha, percebeu que seus alunos adeptos das ideias de Hitler falavam de maneira peculiar, criando um senso de grupo e pertencimento. Para ele, o nazismo consolidou-se efetivamente ao dominar a linguagem.
Estabeleceu-se um ideal de heroísmo como prerrogativa de raça, uma falsidade que foi acreditada até a ruína final. Era tarde demais. Uma pobreza de espírito, alimentada por um orgulho exacerbado. Segundo Klemperer, “o nazismo se embrenhou na carne e no sangue das massas por meio de palavras, expressões e frases impostas pela repetição, milhares de vezes, e aceitas inconsciente e mecanicamente”. Como em todas as ditaduras, o sentido das palavras e a frequência de seu uso foram alterados, impondo valores e visões de mundo.
A língua nazista, a LTI, era a língua do fanatismo das massas, um instrumento de doutrinação utilizado para fanatizar e sugestionar. Proliferaram expressões que remetiam à ideia de povo, como “festa popular”, “concidadão”, “compatriota”, “conterrâneo”, “próximo do povo”, “popular”, “estranho ao povo” e “provindo do povo”.
A linguagem nazista abusava da simplificação, mentindo despudoradamente. Era pobre por princípio, como se cumprisse um voto de pobreza.
Regimes totalitários possuem uma estética e uma linguagem que os marcam ostensivamente. Entre nós, Getúlio Vargas admirava os textos de Francisco Campos. Hitler, por sua vez, não contava com um texto próprio, mas adaptou a Constituição de Weimar ao seu regime.
FERNANDO MAGALHÃES
ASS. TÉC. DA ALECE
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