O governo de Donald Trump desafiou novamente a Justiça dos Estados Unidos ao deportar, no fim de semana, mais de 200 supostos membros de uma gangue venezuelana para El Salvador, país da América Central, apesar de ordem judicial que bloqueia temporariamente a medida. Os voos de deportação com supostos integrantes do Tren de Arágua para o país centro-americano aconteceram no sábado (15), com base em uma lei de 1798 que autoriza a detenção e deportação de estrangeiros dos EUA em períodos de guerra declarada.
A medida, no entanto, foi suspensa horas depois pela Justiça Federal americana, o que não impediu os voos de acontecer. “Este governo agiu dentro da lei”, afirmou nessa segunda-feira (17) a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt.
Além de defender a legalidade da ação, o governo do republicano argumenta que os voos já estavam em trânsito e fora dos EUA quando a Justiça deu ordem para interromper a deportação. Leavitt afirmou que 261 pessoas foram deportadas, incluindo 137 removidas sob a lei do século 18 e mais de 100 removidas por meio de procedimentos de imigração.
Havia também 23 membros salvadorenhos da gangue MS-13, segundo ela. Um desses salvadorenhos parecia ser o suposto líder da MS-13, Cesar Lopez-Larios, de acordo com documentos judiciais americanos recentemente revelados. O Departamento de Justiça dos EUA decidiu retirar a acusação contra Lopez-Larios em 11 de março deste ano, de acordo com os documentos revelados, “devido a preocupações geopolíticas e de segurança nacional”.
Consta em um documento judicial de 16 de março que Lopez-Larios foi removido para El Salvador. Lopez-Larios foi preso pelas autoridades americanas em junho de 2024, sob múltiplas acusações em Nova York, por supostamente liderar atos de violência, assassinato, sequestro, extorsão e tráfico de drogas.
A gestão Trump tem descrito venezuelanos deportados como membros de gangues, monstros ou “terroristas estrangeiros”, mas não costuma fornecer evidências para apoiar as afirmações. Grupos de direitos humanos, como a União Americana para Liberdades Civis (Aclu), criticam o governo por aplicar o rótulo aos imigrantes sem anunciar as evidências de cada caso.
O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodriguez, um dos principais aliados políticos do ditador Nicolás Maduro, afirmou ontem que os deportados não tiveram direito ao devido processo legal. Ainda segundo Rodriguez, Caracas não identifica os deportados como pessoas que teriam cometido crimes nem nos EUA nem em El Salvador, e que o regime faria o possível para levá-los de volta à Venezuela.
Rodriguez também disse que pedirá ao regime que emita um aviso para que venezuelanos não viajem para os EUA e instou os venezuelanos que migraram para lá a retornarem. “Faremos tudo o que for necessário para que nossos compatriotas voltem para casa, enviaremos todos os aviões que tivermos para qualquer parte do mundo”, afirmou.
Ainda nessa segunda-feira, o juiz federal James Boasberg, de Washington, marcou audiência para que o governo detalhasse a linha do tempo dos voos e, assim, determinar se eles ocorreram após a ordem judicial. Foi Boasberg o responsável pelo bloqueio no sábado, após ação da Aclu.
No tribunal, o juiz afirmou ainda que quaisquer voos já em rota deveriam retornar aos EUA. No domingo (16), o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, publicou no X imagens mostrando homens sendo retirados de um avião no meio da noite.
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