Vivenciamos hoje, no Brasil, um momento complicado, enigmático até, com certa semelhança ao pensamento de Franz Kafka, escritor alemão nascido na Tchecoslováquia, de origem judaica. Morreu jovem, 41 anos (1888-1924), no entanto, é um ícone da literatura moderna. Chamado por muitos de “autor do absurdo”, todavia Kafka se preocupava com a integração do indivíduo na sociedade e não concordava com o processo pouco humanizador da época. Em seus livros, contos e textos, como O Castelo, O Processo, A Colônia Penal, A Metamorfose (obra-prima), dentre outros, revela o desespero daquelas pessoas que buscam a justiça e a lei, bem como respostas aos problemas de difícil compreensão.
É claro que não podemos esperar por resultados concretos, em razão da existência de variáveis aleatórias e também de objetivos conflitantes, mas seria fundamental a sinalização de que as diretrizes e políticas estariam sendo concebidas… de forma a encontrar caminhos que possibilitem aos brasileiros alcançarem melhores dias, mediante, principalmente, uma democracia plena, a justiça, a liberdade, a criação de empregos e uma distribuição mais justa da renda nacional. Partindo-se daí, com certeza, outras metas e objetivos seriam atingidos.
Lamentavelmente, o Brasil apresenta um dos maiores índices de desigualdade do mundo. Dessa forma, uma das questões mais urgentes, merecendo uma atenção especial de todos aqueles que estão comprometidos com o futuro do nosso País, é o elevado grau de pobreza da grande maioria da população brasileira. O Brasil é rico, todavia, sua população é pobre.
Estamos diante de uma crise existencial. Acreditamos que Kafka foi chamado de “autor do absurdo”, por imaginar situações heterodoxas, com vistas a dar consistência filosófica ao seu pensamento voltado para a inclusão e a justiça social.
Por fim, acreditamos também que o Brasil precisa de propostas séries buscando a melhoria da qualidade de vida do seu povo e de justiça, liberdade e раz.
Entendemus que para salvar o doente Brasil não pode significar apoio incondicional ou oposição sistemática, pois são atitudes antidemocráticas. O genial Paulinho da Viola diz que “uma semente atirada em solo fértil não deve morrer”. Efetivamente, precisamos selecionar e atirar boas sementes, uma vez ser o Brasil um excelente solo.
Omitir-se do debate, como também, ressaltar sua importância e na realidade não o desejar, são comportamentos incompatíveis com a democracia. A não participação pode ser uma forma de se perpetuar a injustiça social e levar o País a ser governado por pequenos expedientes e políticas paliativas. Torna-se fundamental o diálogo e o protesto sincero, pois quem cala poderá estar consentindo. Por fim, gostaria de lembrar Manoel Bandeira, no poema “Desesperança”, quando encerra dizendo: “Ah! Como dói viver quando falta a esperança”. Realmente dói muito. Mas com humildade, trabalho, sinceridade, desambição, solidariedade e espírito público, não há dúvida, a dor será reduzida ou mesmo eliminada. Assim, renascerá a esperança de termos uma sociedade politicamente desenvolvida, bem, como, econômica e socialmente justa.
GONZAGA MOTA
PROFESSOR
APOSENTADO DA UFC
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