Ratos com DNA de mamutes: empresa estuda “desextinção” de animal

Camundongo com DNA alterado.Colossal Biosciences

A empresa de biociências Colossal, sediada no Texas (EUA), anunciou um “marco” em sua missão de “desextinção” de mamutes-lanosos: a criação de camundongos com pelos mais longos e grossos, apelidados de “ratos lanudos“.

Os animais foram geneticamente modificados com uma mistura de mutações inspiradas no DNA de mamutes e alterações já conhecidas por afetar o crescimento de pelos em camundongos, segundo comunicado e pré-impressão publicados em 4 de março.

Ben Lamm, CEO da Colossal, descreveu o feito como “um momento decisivo” para o objetivo final de modificar elefantes-asiáticos (parentes vivos mais próximos dos mamutes) com características como pelagem densa e tolerância ao frio.

No entanto, cientistas especializados em genética de mamutes e edição genômica questionam a relevância do experimento.

“Está muito longe de criar um mamute ou um ‘rato-mamute‘. É apenas um camundongo com alguns genes especiais”, critica Stephan Riesenberg, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva (Alemanha).

O experimento

A equipe, liderada pela geneticista Beth Shapiro (diretora científica da Colossal), editou até oito mutações em sete genes dos camundongos.

Algumas mudanças foram baseadas em variantes genéticas identificadas em mamutes, enquanto outras já eram associadas a pelos em camundongos.

Os animais resultantes têm pelos longos e de tonalidade mais clara, além de mutações em genes ligados ao metabolismo de gordura — sem, no entanto, apresentar diferenças de peso.

A Colossal ainda não testou se os “ratos lanudos” são mais resistentes ao frio, e os efeitos a longo prazo das edições (como fertilidade e riscos de câncer) permanecem desconhecidos.

Mamute-lanoso.Darryl Brooks/Alamy

Especialistas apontam limitações no estudo

Vincent Lynch (Universidade de Buffalo) ressalta que três das mutações são baseadas em genes de mamutes (Fabp2, Krt27 e Tgfa), mas outras cinco já eram conhecidas por afetar pelos em camundongos. “Não dá para separar quais efeitos vêm das mudanças específicas dos mamutes“, diz.

Alfred Roca (Universidade de Illinois) reconhece o valor do experimento como “prova de princípio”, mas alerta que editar elefantes exigirá escalas muito maiores.

Riesenberg lembra que editar oito genes é “padrão” na engenharia genética atual, e que recriar um mamute exigiria centenas de alterações — algo ainda distante.

A defesa da Colossal

Shapiro justificou a inclusão de mutações de camundongos: “Não podemos inserir genes de mamutes diretamente, pois há 200 milhões de anos de distância evolutiva”.

Lamm reforça que o objetivo não é replicar mamutes com exatidão, mas criar animais que “preencham nichos ecológicos perdidos”.

Enquanto isso, cientistas independentes seguem céticos. “Isso não traz você nem perto de fazer um mamute“, resume Riesenberg.

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