O mamute-lanoso (Mammuthus primigenius) foi a última espécie do gênero Mammuthus a se extinguir, o que se deu praticamente “ontem” na escala geológica, cerca de 4 mil anos atrás. Não raro, espécimes são encontrados em excelente estado de preservação, com pele, pelos, e DNA preservados.
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Por causa disso, cientistas começaram a considerar a ideia de trazer a espécie de volta, algo bem mais viável do que dinossauros, e uma companhia demonstrou suas capacidades de edição genética para viabilizar o feito, apresentando ratinhos com pelagem similar à dos mamíferos extintos.

Os “ratos-lanosos” apresentados pela Colossal têm pelagem revolta e dourada, similar à dos mamutes (Crédito: Divulgação/Colossal Biosciences)
Quem não tem mamute, caça com rato?
O mamute-lanoso (ou lanudo) foi uma das 10 espécies conhecidas de seu gênero, e a última a se estabelecer. Eles são parentes diretos dos elefantes modernos, todos pertencentes à família Elephantidae, os machos alcançavam até 3,5 metros de altura e podiam pesar até 8 toneladas, maior e mais pesado que os elefantes-africanos (gênero Loxodonta), hoje o maior animal terrestre do planeta. Ainda assim, os mamutes não foram os maiores proboscídeos da História, o troféu pertence ao gênero Palaeoloxodon, com 4 m de altura e 13 t.
Diferente de boa parte de seus parentes mais próximos, que tinham pelos menos espessos, os mamutes-lanosos contavam com uma pelagem em camadas, externos mais longos e uma interna curta, criando um “casaco”, adequado às baixas temperaturas da região que habitou por quase 400 mil anos (Pleistoceno médio); outras adaptações incluem orelhas menores, característica similar à do elefante-asiático (Elephas maximus), de quem eram mais próximos geneticamente.
Os mamutes-lanosos divergiram na Sibéria, e se espalharam por toda a Eurásia, além de alcançarem o Canadá e o norte dos Estados Unidos, após atravessarem o estreito de Bering, cerca de 100 mil anos atrás. Eles conviveram com humanos modernos e desapareceram graças às mudanças climáticas e à caça sistemática, mas ainda assim, perduraram até um período em que os sumérios e os egípcios já estavam estabelecidos como civilizações.
Por serem extintos recentemente, e viverem em regiões geladas, carcaças de mamutes-lanosos são encontradas em condições de preservação excelentes na Sibéria e outras regiões com permafrost, camada de solo permanentemente congeladas. Fragmentos de adultos com pele e músculos já foram registradas, assim como filhotes basicamente intactos.

Cena de fauna da Era do Gelo na região do norte da Espanha; o mamute-lanoso teria sido extinto recentemente, cerca de 4 mil anos atrás (Crédito: Mauricio Antón/PLOS Online)
Como o permafrost age como uma geladeira gigante, boa parte dos tecidos moles dos mamutes não se deteriora, permitindo até mesmo que o DNA fosse completamente sequenciado em 2015, e de lá para cá, diversos estudos foram realizados para avaliar seu genoma, identificar características, e reproduzi-las.
Uma das ideias, obviamente, é trazer o mamute-lanoso de volta, modificando o DNA de elefantes-asiáticos, de novo, seus parentes mais próximos; a Colossal Biosciences, uma companhia norte-americana, foi fundada em 2021 com esse objetivo principal, mas também pretende recuperar outros animais, como o tilacino (Thylacinus cynocephalus, extinto em 1936) e o dodô (Raphus cucullatus, 1662), além do rinoceronte-branco-do-norte (Ceratotherium simum cottoni), cujos dois últimos espécies vivos são fêmeas, sendo uma espécie funcionalmente extinta.
Claro que uma coisa é falar, outra é fazer. Há cerca de 1,5 milhão de diferenças genéticas entre o mamute-lanoso e o elefante-asiático, o que é muita coisa, mas incrivelmente há casos ainda mais distantes: os humanos e os chimpanzés divergem em apenas 2%, mas isso se traduz em mais de 35 milhões de diferenciações.
Ainda assim, a Colossal acredita ser possível, ainda que trabalhoso, e para demonstrar, apresentou diversos ratos que tiveram seu genoma alterado, para reproduzir características dos mamutes, a mais evidente a pelagem, dourada, mais longa e frisada, mostrando que os cientistas da companhia sabiam exatamente em quais genes mexer.
Segundo o estudo da Colossal (cuidado, PDF), os “ratos-lanosos” também apresentam uma edição genética que muda como eles armazenam gordura, uma característica que os mamutes precisavam para resistir ao ambiente gelado da tundra, que o elefante-asiático, e camundongos de laboratório não alterados, não possuem. Beth Shapiro, a cientista-chefe, diz que “não faria nenhum sentido” atochar genes de mamute nos ratinhos, já que as espécies divergiram há mais de 200 milhões de anos, assim como não tem lógica usar rãs para fechar lacunas no genoma de dinossauros.
O que os cientistas propõem, ao invés disso, é estudar os genes para entender quais deles modificar, e expressar características nas crias dos elefantes-asiáticos que os aproximem dos mamutes-lanosos. De três identificados, diz Shapiro, dois eram referentes à pelagem, e um ao metabolismo. É pouco, mas é um começo.
Outros cientistas questionam a qualidade da pesquisa em si, dizendo que modificar genes de ratos apenas os fazem expressar características que podem ocorrer naturalmente, ou como diz o prof. Dr. Vincent Lynch, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Buffalo em Nova Iorque, “um chow-chow é mais próximo de um mamute que um chihuahua, ou é só um cachorro mais peludo?”
A Colossal publicou uma prévia do estudo, ou seja, não passou por revisão de pares; ele será devidamente devorado pela comunidade científica, que buscará validar ou desconsiderar o experimento, mas até lá, ao menos dá para reconhecer que os ratinhos peludos são fofos.
Referências bibliográficas
CHEN, R., SRIRATTANA, K., COQUELIN, M. L. et. al. Multiplex-edited mice recapitulate woolly mammoth hair phenotypes. bioRxiv (CSHL), 68 páginas, 4 de março de 2025.
DOI: 10.1101/2025.03.03.641227
Fonte: WIRED
Mamute pode voltar, um ratinho peludo por vez