Diagnosticada aos 12 anos, jovem que se curou de leucemia relembra desafios e incentiva pacientes em tratamento: ‘É possível vencer’


Paula Regina Pantaleão Castro, de 17 anos, conta que precisou lidar com problemas de autoestima e efeitos colaterais durante o tratamento, feito no Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci) de Sorocaba (SP). Paula Regina superou a leucemia e vive sua vida normalmente em Votorantim (SP)
Arquivo pessoal
Em um momento, a vida é cheia de energia e brincadeiras. No outro, a rotina muda completamente após um diagnóstico que, muitas vezes, é difícil de compreender. Essa é a realidade de muitas crianças e adolescentes que são diagnosticados com câncer.
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Neste sábado (15), Dia Internacional do Câncer na Infância, o g1 traz a história de Paula Regina Pantaleão Castro, de 17 anos, que precisou lidar com um diagnóstico de leucemia aos 12 anos e, depois de dois anos de tratamento, se curou da doença.
Paula iniciou o tratamento em 2020 no Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci) de Sorocaba (SP), e afirma que, durante os dois anos seguintes, viveu um dos maiores desafios de sua vida.
“Passar pelo tratamento foi um dos maiores desafios da minha vida. Desde o momento do diagnóstico, minha vida e meu mental mudaram completamente. Os exames, quimioterapias e os efeitos colaterais me fizeram viver uma realidade totalmente nova”, relembra.
A adolescente conta que os primeiros meses foram os mais conturbados, já que ela ainda era uma criança e não conseguia entender a situação com clareza. De acordo com ela, cada sessão de quimioterapia trazia novas reações em seu corpo, tanto físicas, quanto emocionais.
“Depois das sessões, eu sentia muito enjoo, fraqueza e tontura. Com o tempo, também veio a perda de cabelo, e, além das mudanças físicas, a parte emocional também foi muito impactante. Foi muito difícil ver que a minha rotina mudou completamente, como ficar longe do meu avô, da escola, dos amigos e das atividades que eu gostava de fazer”, diz.
Paula Regina iniciou o tratamento com apenas 12 anos de idade, no Gpaci de Sorocaba (SP)
Arquivo pessoal
Acompanhamento psicológico
Paula conta que, quando começou o tratamento, achava que não precisava de apoio psicológico. No entanto, durante o processo, percebeu a importância do trabalho dos psicólogos na vida de pacientes oncológicos.
“O acompanhamento psicológico me ajudou a expressar os medos, angústias e a entender melhor o que eu estava sentindo. Também encontrei formas de lidar com o estresse e ansiedade. Houve dias que eu queria desistir, em que o cansaço que eu tinha era tão grande que parecia impossível conseguir continuar, mas, com a ajuda da terapia, aprendi a ter pensamentos mais positivos”, diz.
Por conta do tratamento psicológico, a adolescente conta que aprendeu a encontrar as forças para enxergar as pequenas vitórias no dia dia. Além disso, encontrar novos hobbies e receber o apoio de familiares e funcionários do hospital foram coisas que contribuíram para sua melhora.
Paula Regina finalizou o tratamento de câncer com 14 anos de idade
Arquivo pessoal
“A minha mãe foi o meu maior suporte, ela sempre esteve ao meu lado, acompanhando cada consulta e cada sessão de quimioterapia. O meu avô também foi uma parte essencial do meu apoio emocional, sempre me animando nos dias difíceis. No Gpaci, encontrei profissionais incríveis, que não só me ajudaram no tratamento, mas também me acolheram com muito carinho”, diz.
“As meninas do espaço família, os enfermeiros… Cada médico, enfermeiro e voluntário fez a diferença na minha recuperação. Mesmo nos dias mais difíceis, sempre tinha alguém para dar uma palavra de conforto, um sorriso que me fazia sentir melhor. Também conheci outras crianças e adolescentes que estavam passando pela mesma situação e criamos laços muito fortes.”
‘Nova chance de viver’
Quando recebeu a notícia de que estava curada, a jovem custou a acreditar que o seu pesadelo tinha finalmente chegado ao fim. De acordo com ela, foi difícil se acostumar à ideia de que não precisaria voltar ao hospital.
“Foi um momento totalmente incrível. Quando o médico me disse que eu estava curada, foi como se um peso gigantesco fosse tirado das minhas costas. Eu passei tanto tempo lutando, enfrentando tratamentos difíceis e com tantos dias para que tudo aquilo acabasse. E receber essa notícia foi como ganhar uma nova chance de viver. Eu chorei muito, abracei minha mãe e agradeci a Deus”, relembra.
Adolescente que venceu leucemia compartilha experiência e incentiva pacientes com câncer
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Apesar de ter sido curada, Paula ressalta algumas sequelas que a acompanham até os dias de hoje. “Meu sistema imunológico ficou um pouco mais sensível. Além disso, precisei de um tempo para recuperar minha energia e voltar à rotina normal. No lado emocional, as marcas ainda são profundas. Até hoje eu sinto um certo medo de que a doença possa voltar. Sempre que eu faço exames de rotina, eu fico extremamente ansiosa esperando o resultado”, diz.
De acordo com Paula, a queda de cabelo foi o ponto principal que a deixou desconfortável mesmo após a cura. “Mesmo depois de o meu cabelo crescer novamente, demorou um tempo para que eu me sentisse totalmente confortável comigo mesma. Porém, aos poucos, fui aprendendo a enxergar a minha história como algo que me tornou mais forte e que não precisa ser escondido”, conta.
A experiência transformou completamente a vida da adolescente, que conta que, apesar do alívio, também carrega a responsabilidade de ser uma inspiração para todos que ainda estão enfrentando a doença.
“Enfrentar a leucemia me ensinou o verdadeiro significado da resiliência, da esperança e da gratidão. Cada dia que eu vivo agora tem um significado especial, porque sei o quanto lutei para chegar até aqui. Por isso quero mostrar que é possível vencer, que existe esperança e que ninguém está sozinho nessa batalha”, diz.
“Para aqueles que ainda estão enfrentando essa doença, sei que há dias que o cansaço está insuportável, que às vezes bate o medo de não conseguir vencer, mas cada dia de luta é um passo a mais em direção à cura. Você é mais forte do que você imagina, acredite na sua recuperação, confie em Deus, nos médicos e se apoie nas pessoas que te amam e que se importam. Mantenha a sua fé, seu coração cheio de coragem e continue lutando e orando. Um dia, você também poderá olhar para trás e dizer: ‘eu venci’.”
Ainda na luta
Paolla recebe tratamento contra leucemia no Gpaci de Sorocaba (SP)
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Enquanto Paula Regina já passou por todo o processo de tratamento e recuperação, outras crianças ainda estão lutando contra a doença. É o caso de Paolla Christina Moraes da Silva, de apenas sete anos, que também faz o tratamento contra leucemia no Gpaci.
Daniela Rodrigues Moraes da Silva, mãe de Paolla, reforça que o apoio dos funcionários do hospital tem sido essencial para que a filha e a família possam enfrentar a doença.
Paolla tem leucemia e recebeu um dia de alta na quarta-feira (12)
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“Eles estão comigo, brincando, me ajudando e não me deixando perder a alegria. Está sendo difícil, mas estou tendo muita ajuda, porque, graças a Deus, estou sendo acompanhada com muita alegria.”
“Ela está bem e muito alegre, inclusive consciente do que pode vir a acontecer durante o tratamento. Então, hoje em dia, ela tem consciência da situação, mas ela está muito confiante. Apesar de pequenininha, ela fala que entende muita coisa”, finaliza a mãe.
Câncer infantil
O tratamento de câncer é um procedimento exaustivo, que exige não só esforço físico do paciente, como também mental. Quando se trata de crianças, a situação fica mais delicada. No entanto, as chances de cura são maiores quando em comparação com os adultos, de acordo com o médico e diretor do Gpaci, Gustavo Neves.
“São tumores diferentes, com tratamentos diferentes e também com resultados diferentes. Atualmente, a maneira mais eficaz de aumentarmos as chances de cura é diagnosticar os pacientes mais cedo”, diz.
Gustavo Neves mora em Sorocaba (SP) e é medico oncológico e diretor do Gpaci
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O profissional ainda ressalta a importância do acompanhamento psicológico para as crianças. Segundo ele, a família – principalmente os pais – também é afetada pelo impacto emocional que a doença gera.
“Não é fácil fazer oncologia pediátrica, porque é necessária uma série de recursos da sociedade, recursos não só financeiros, mas também de apoio social a famílias. Esse dia serve para lembrarmos da importância do tratamento, dos centros que tratam, das pessoas envolvidas. Para ter uma chance de cura, precisa uma estruturação de serviço. Se não há estruturação, não há cura para os pacientes”, diz.
“O câncer é uma doença potencialmente fatal e, quando tratamos um paciente e conseguimos curá-lo, isso desencadeia uma motivação muito grande. Nós, profissionais da saúde, ficamos muito satisfeitos de ter cumprido a missão de salvar uma vida.”
Médico oncológico explica sobre câncer infantil e ressalta importância do Dia Internacional do Câncer Infantil
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*Colaborou sob supervisão de Júlia Martins
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