A Sony tocou finalmente a primeira trombeta: nesta quinta-feira (23), a gigante japonesa anunciou que encerrará a produção de discos de Blu-ray; sua última fábrica própria será fechada, e o movimento também afeta outras mídias, como o MiniDisc, o MD para dados, e as fitas MiniDV.
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A Sony já havia interrompido a produção de gravadores de Blu-ray e mídias regraváveis em 2024, e um ano antes, a Panasonic encerrou a impressão de discos, ao considerar que não havia mais como disputar com a distribuição digital, e lucrar.
Ainda que algumas empresas (em sua maioria de pequeno porte) continuarão a prensar discos de Blu-ray graváveis para o consumidor final, e o mercado B2C (business to consumer) ainda não ter sido abandonado, a decisão da Sony de não introduzir um formato sucessor, é mais um lembrete de que a mídia física não tem muito mais tempo sobrando.
Sony mata o Blu-ray, mas calma
O Blu-ray foi introduzido pela própria Sony em 2006, como uma evolução do DVD em termos de capacidade de armazenamento, de 4,7 GB para 25 GB quando comparamos os modelos de camada simples. A versão de 50 GB, de camada dupla, se tornou a padrão para a distribuição de filmes.
O PlayStation 3, da própria Sony, agiu como o principal carro-chefe da tecnologia, e por muito tempo, foi visto como o leitor de Blu-ray mais acessível; o disco azul quase morreu ainda no berço, quando os japoneses se recusaram a permitir que estúdios prensassem filmes pr0n em sua mídia, mas quando ficou evidente que os japas da Toshiba a atropelariam com o HD-DVD, ela rapidinho mudou de ideia, para não se tornar o novo Betamax.
Hoje, o formato concorrente não é mais do que uma lembrança, isso se você chegou a comprar o drive acessório do Xbox 360 (só para filmes, não games).
Os discos de Blu-ray, CDs, DVD, cartuchos, fitas cassete, sempre exerceram um fascínio nos consumidores, pela sensação de propriedade de uma mídia, seja um filme, um game, um software, um álbum de sua banda ou cantor(a) favorito(a), pelo cuidado muita vezes dispensado à apresentação e embalagem, algo que a distribuição digital não é capaz de prover, mas no início dos anos 2010, a relação entre o usuário e os content providers começou a mudar.
Um dos fatores que viabilizou o formato de mídia apenas digital foi o maior acesso à internet, que com o passar do tempo foi se tornando mais rápida e mais barata. Hoje, é possível contratar planos com velocidades de até 500 Mb/s por valores decentes, e a disponibilidade aumentou muito, ainda que a cobertura ainda não seja total.
A inclusão digital mais infundida levou a estúdios, produtoras, distribuidoras, gravadoras, a investirem no formato digital por uma série de motivos. Primeiro, é mais acessível; segundo, é mais fácil de controlar, se atado a um formato de streaming, limitando o acesso permanente de uma mídia, ainda que isso não resolva o problema da pirataria com músicas, softwares e filmes (mas serve para games por streaming, era inclusive o argumento do Google para justificar o Stadia, que ele próprio sabotou).
Outro fator que agrada à indústria, focar na distribuição digital elimina custos com a produção de mídias, acaba com a revenda de usados e “saldões” de varejistas, ou seja, o preço passa a ser ditado pelas lojas digitais, distribuidoras, e controladores dos copyrights.
A Sony encerrando a produção de discos, e fechando sua última fábrica em fevereiro de 2025, é um cenário que já estava na cara há algum tempo, se considerarmos que em 2024 ela já havia interrompido a produção de gravadores e mídias regraváveis para o mercado consumidor, e colocou nas lojas o PS5 Pro, a versão mais potente de seu atual console de mesa, sem um drive óptico, que precisa ser comprado à parte. A Microsoft já havia feito algo similar com o Xbox Series S, e recentemente introduziu uma versão do Xbox Series X, o modelo mais poderoso, também sem leitor.
Claro, nem tudo está perdido ainda: a produção de discos para o mercado B2C continua, seja com a Sony ou com companhias menores; filmes em Blu-ray e games para PS4, PS5, e Xbox continuarão a ser prensados, em países como México e Brasil, mas mesmo isso está sujeito a um problema com nome e sobrenome: Donald Trump.
A ameaça do presidente dos Estados Unidos, de taxar as importações do México, poderá ter consequências danosas ao mercado de mídias de Blu-ray, pois o país vizinho responde por boa parte da produção global. Aqui nós imprimimos games do PS4 e PS5, a fábrica é parceira da Sony, e voltada para o mercado interno.
Se as tarifas forem realmente impostas como planejado, o custo de importação de discos de Blu-ray para os EUA aumentará significativamente, ao ponto de muitos especularem que os valores ao consumidor escalarão em todo o globo; no fim, a medida poderá resultar na depreciação do formato físico em prol do digital only, mas sem redução nos preços finais, claro.
A preocupação do público para um futuro em que o consumo de mídia será apenas digital, é a adoção do XaaS (Tudo como um Serviço), onde companhias defendem que você não será dono de nada, e continuará feliz, sempre atrelado a assinaturas para consumir/usar o que deseja/precisa. A Netflix e outros serviços similares mostram que há uma certa verdade nessas palavras, corroborada pelo público.
Já no mercado de games, excluindo a Nintendo, que não é lá parâmetro de nada, Sony e Microsoft abandonarem a mídia física em seus próximos consoles de mesa, em prol da distribuição apenas digital, deixa de ser uma possibilidade e passa a ser quase uma certeza, já que o Blu-ray não terá um sucessor.
Fonte: Sony (em japonês)
Sony anuncia o iminente fim da mídia física