Juiz da CIJ é nomeado premiê do Líbano

O novo presidente do Líbano, Joseph Aoun, após sua eleição, 9 de janeiro de 2025Fadel ITANI

Fadel ITANI

O presidente do Líbano, Joseph Aoun, nomeou nesta segunda-feira (13) Nawaf Salam, juiz que preside a Corte Internacional de Justiça em Haia, como primeiro-ministro após uma série de consultas parlamentares no país, mergulhado em uma grave crise.

A candidatura de Salam, de 71 anos, foi apoiada por forças políticas contrárias ao movimento xiita pró-iraniano Hezbollah, um ator político de destaque no país, mas enfraquecido após a recente guerra contra Israel.

Aoun, comandante-em-chefe do Exército libanês, foi eleito presidente da República do Líbano em 9 de janeiro, com o apoio dos Estados Unidos e da Arábia Saudita, após mais de dois anos de vacância no cargo devido a divisões políticas, em um contexto de grave crise econômica.

Até o momento, o Líbano era governado por um governo interino liderado pelo primeiro-ministro em fim de mandato, Nayib Mikati.

Após consultas parlamentares, o novo chefe de Estado anunciou nesta segunda-feira que “convidou o juiz Nawaf Salam para encarregar-se da formação do governo”.

O magistrado, presidente da Corte Internacional de Justiça (CIJ), encontra-se atualmente no exterior, mas “está previsto que retorne” ao Líbano na terça-feira, informou a presidência.

O novo primeiro-ministro enfrenta desafios significativos, como a implementação de reformas econômicas para atender às demandas de doadores internacionais. Ele também precisará reconstruir amplas áreas do território após a guerra entre Israel e Hezbollah e implementar o acordo de cessar-fogo de 27 de novembro, que pôs fim ao conflito.

De acordo com o sistema de divisão de poder no Líbano entre confissões religiosas, a presidência da República cabe a um membro da comunidade cristã maronita, o cargo de primeiro-ministro a um muçulmano sunita, e a presidência do Parlamento a um muçulmano xiita.

– Candidato da mudança –

No Parlamento fragmentado do Líbano, que conta com 128 deputados, 78 apoiaram a candidatura de Salam. Nove votaram em Mikati, enquanto outros 19, incluindo membros do Hezbollah, decidiram não apoiar nenhum candidato.

Os partidários de Salam o veem como uma figura imparcial, capaz de conduzir as reformas necessárias ao país. Já Mikati é considerado por seus detratores como influenciado pelo Hezbollah.

O parlamentar George Adwan, do partido cristão Forças Libanesas, afirmou que é hora de o Hezbollah focar no “trabalho político”. “A era das armas chegou ao fim”, insistiu, ao declarar apoio a Salam.

Segundo o acordo de cessar-fogo com Israel, a enfraquecida formação islamista deve retirar suas forças para o norte do rio Litani, que delimita a região sul do país. Também precisa desmantelar suas infraestruturas militares no sul do Líbano, um bastião do grupo por décadas, para facilitar a mobilização do Exército libanês e das forças de paz da ONU.

O deputado independente Melhem Jalaf explicou que apoiou Salam por considerá-lo um candidato da mudança.

Uma fonte próxima ao Hezbollah declarou à AFP que tanto o grupo quanto seu aliado, o movimento Amal, apoiaram Mikati.

A capa do jornal Al Akhbar desta segunda-feira, próximo ao Hezbollah, afirmou que a candidatura de Salam representava um “golpe de Estado total dos Estados Unidos”, após Washington apoiar Aoun para a presidência.

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