A tampa da panela

Diante das recentes matérias publicadas pelo Jornal Folha de São Paulo, que deixam à mostra a conduta irregular do Ministro Alexandre de Moraes, o todopoderoso do Supremo Tribunal Federal, cabe bem a frase popular que indica reação de alguém a outrem que demonstra maior força e poder. Ao que parece o ministro que agia com ares de ditador impondo a própria vontade acima da lei ou interpretando-a a seu bel prazer em detrimento da Justiça e em favor de alinhamentos ideológicos, esse super-homem do Judiciário brasileiro, encontrou no jornal Folha de São Paulo a tampa de sua panela. E pelo andar da carruagem a comida que está nessa panela e está sendo servida aos poucos pelos editores do jornal pode levar o ministro a uma grande indigestão.

A rigor, o jornal não descobriu a pólvora. A nação há algum tempo assistia coagida e amedrontada a ação persecutória e politizada do ministro, cujas decisões, muitas injustificáveis, fora dos padrões da “fumus boni iuri”, só apenavam personalidades publicas alinhadas com o pensamento de direita, sobretudo jornalistas, políticos e empresários, todos ferrados por ele e seus cupinchas da mídia com o ferro de “gado bolsonarista”. E isto como se ser de direita ou bolsonarista seja sinonímia de crime. Na esquerda, segundo os padrões de Alexandre de Morais, mentirosos contumazes e corruptos conhecidos e assinalados em diversas condenações, a partir do próprio presidente da República, são madres Terezas de Calcutá. O jornal Folha de São Paulo somente deixou à mostra que o rei está nu.

Enfim, aqueles que apontam o dedo para perseguidos e presos pelo ministro, em especial os jornalistas, acoimando-os de antidemocratas e golpistas, são claramente coniventes com abusos e desvarios de togados. Na melhor das hipóteses agem de acordo com o silêncio dos covardes ante as imoralidades praticadas por quem deveria exatamente guardar a Constituição, a Lei Maior que assegura a liberdade e a justiça, valores intrínsecos da democracia. Os punidos em razão de esdrúxulos “inquéritos do fim do mundo”, tão ao gosto do ministro acusado de desvios éticos pela Folha são, de fato, vítimas do poder que ele conseguiu dentro da Corte, graças à conivência dos colegas togados em face de suas atitudes injustas e sem compromisso com segurança jurídica e respeito às liberdades democráticas. Cabe, por pertinente, indagar onde andam a Ordem dos Advogados do Brasil-OAB, a Confederação (Sindicato) dos Bispos do Brasil-CNBB e tantas outras entidades que inda ontem, antes da organização criminosa retornar ao local do crime, demonstravam desvelado amor pela democracia e clamavam em alto e bom som por valores que agora, acumpliciadas com o erro, vergonhosamente desprezam e se escondem em mutismo covarde.

BARROS ALVES
JORNALISTA, POETA E ASSESSOR PARLAMENTAR

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