Os principais bancos brasileiros, incluindo Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander, apresentaram um aumento significativo na concessão de crédito no segundo trimestre deste ano, refletindo uma melhora na economia e nas condições de emprego. A carteira de crédito dessas instituições, listadas na bolsa, cresceu entre 5% e 13,2% em comparação ao mesmo período do ano anterior. A melhoria na inadimplência, que caiu 0,3 ponto percentual para 3,2%, também contribuiu para este cenário otimista, refletindo uma gestão eficiente de riscos e recuperação econômica.
De acordo com estatística divulgada neste mês pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), por meio da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa) reduziu para 78,5% em julho de 2024, abaixo do resultado de junho, contudo acima do referente a julho do ano passado (78,1%). Esse resultado revela que as famílias estão ficando mais cautelosas com o crédito, após estabilidade no mês passado. Esse freio na percepção de endividamento se deu pela redução do percentual de pessoas que se consideram “muito endividadas”, alcançando 16,5%, o menor percentual desde dezembro de 2021. Enquanto o daquelas que se sentem “pouco endividadas” aumentou para 33,8%, o maior percentual desde setembro de 2022.
Eduardo Rosman, analista do BTG Pactual, destaca que o trimestre foi positivo para o setor bancário, com melhora na demanda e qualidade dos empréstimos e financiamentos. “Foi um bom trimestre, com resultados superando as expectativas, inclusive em outros setores”, comentou. Após um período de cautela devido ao aumento da inadimplência no pós-pandemia, especialmente entre os clientes de baixa renda, os bancos, como Bradesco e Santander, passaram por ajustes e agora mostram recuperação, aumentando a oferta de crédito inclusive para esses segmentos.
O Itaú Unibanco, liderando com a maior carteira de crédito do setor, registrou um crescimento anual de 7,10% com um total de R$ 1,3 trilhão. A instituição conseguiu manter a inadimplência em baixa, com o índice mais reduzido entre os competidores, de apenas 2,7%. Seu retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) também aumentou para 22,4%, refletindo um lucro anual de R$ 10 bilhões, o que representa um aumento de 15,2%.
O Banco do Brasil, com um aumento anual de 0,3 ponto percentual no ROE para 21,6%, viu seus empréstimos crescerem 13,2% em relação ao ano anterior, alcançando R$ 1,2 trilhão. O banco enfrentou um leve aumento na inadimplência, atribuído à normalização do crédito ao agronegócio. Tarciana Medeiros, presidente do BB, expressou otimismo para 2025, com planos de aumentar a concessão de créditos sem garantia. “É correr um pouco mais de risco, mas um risco calculado”, afirmou Medeiros.
O Santander, recuperando-se de um impacto significativo em 2023 devido ao calote da Americanas, viu seu lucro crescer 44,3% no segundo trimestre para R$ 3,3 bilhões. A carteira de crédito do banco expandiu 7,8% para R$ 665,6 bilhões, e o ROE melhorou significativamente. Segundo Mario Leão, presidente do Santander Brasil, “Os índices de inadimplência permanecem controlados, com desempenho destacado na pessoa física”.
No Bradesco, o lucro alcançou R$ 4,7 bilhões, superando as expectativas. Marcelo Noronha, presidente do banco, destacou a eficiência melhorada e a aceleração na originação de crédito como fatores para o aumento da margem líquida nos próximos trimestres. Apesar das melhorias, especialistas como Rosman alertam para possíveis desafios no cenário macroeconômico, como alta do dólar e inflação, que poderiam impactar a tendência de crescimento do setor bancário.
Em meio a esses desafios, a expectativa é que cortes nos juros nos EUA possam enfraquecer o dólar, beneficiando a economia brasileira. Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú, espera que os cortes comecem em setembro, o que poderia ajudar a manter o crescimento sustentável do crédito. Assim, embora o cenário seja de otimismo cauteloso, as lições do pós-pandemia ajudaram os bancos a aprimorar suas estratégias de crédito, preparando-os melhor para futuras flutuações econômicas.
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