Enquanto ele não falasse “boa noite”, ninguém em casa podia fazer barulho. Do sofá, brasileiros hipnotizados diante da televisão respondiam à saudação a Cid Moreira, que morreu nessa quinta-feira, aos 97 anos. A notícia foi dada ao vivo na TV Globo pela esposa de Cid, Fátima Sampaio, no programa “Encontro”.
O apresentador estava internado havia quase um mês em Petrópolis (RJ), tratando uma pneumonia. Ele sofreu uma falência de múltiplos órgãos. Quando deu o primeiro “boa noite”, na estreia do Jornal Nacional, em 1º de setembro de 1969, o Brasil estava longe de poder dormir em paz.
Era o tempo do Ato Institucional nº 5 (AI-5), o mais sombrio da ditadura militar, e a censura determinou que Cid Moreira dissesse aos brasileiros o contrário disso. Todos podiam ficar tranquilos, inclusive com a saúde do presidente Costa e Silva. Ele estava “melhor, se alimentando bem” e três meses depois, morreu.
Sob censura, a voz grave de Cid Moreira começava a unir o Brasil, em um complexo jogo de interesses entre a TV e a ditadura.
A TV tinha, até então, apenas canais regionais, não havia como fazer transmissão para todo o território brasileiro. A criação de uma rede nacional foi um ótimo negócio para a TV e anunciantes, além de estratégia para o plano do regime militar de manter o controle político do país.
A Globo foi a primeira TV a se consolidar como rede. E o Jornal Nacional marcou o início desse projeto das emissoras brasileiras, facilitado por incentivos fiscais do governo e pela instalação da Embratel, estatal que possibilitou a transmissão de sinais. “É o Brasil ao vivo aí na sua casa”, disse Cid Moreira, ao fim da estreia do Jornal Nacional, para, em seguida, emendar o primeiro “boa noite” dos cerca de oito mil que diria em quase 27 anos.
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