Interessante como a indicação de livro ou de autor nem sempre traz boa recepção, por parte do receptor, quanto ao que originariamente teve de experiência o indicador. Isso porque, claro, muito do que agrada a um pode não satisfazer a outrem. O bom mesmo é a descoberta pela descoberta, sem intervenções que, por óbvio, também podem ser bem-vindas.
Rubem Alves é um desses escritores que orbita em uma unanimidade, sendo adequado ainda afirmar que aos apreciadores de dicionários, aludido pensador desempenha papel fundamental. Porque em muito da obra rubeniana há não apenas definições, mas sobretudo reflexões em acepções indicativas de sentidos para muitos sentimentos, ideias, desejos, afetos. Começa quando ele, Rubem, afirma ter aprendido, em tempos bem lá trás, que os dicionários “são objetos sagrados”. E aduz isso quando confirma que “neles estão guardados os segredos das palavras, não o segredo dos seus usos no presente, mas a história do seu passado, as etimologias”. Um amigo, para Rubem, “é alguém com quem estivemos desde sempre.” Alegria, para ele, é “uma experiência de encaixe, bem igual àquela do encaixe de corpos apaixonados, no ato do amor”. Desejo é “uma abertura para o universo inteiro, braços que abraçam desde as mais distantes estrelas até as mais ínfimas das criaturas.” Aquário, “um mundo sem alternativas.”. A carta é “paciente. Guarda as suas palavras. E, depois de lida, poderá ser relida. Ou simplesmente acariciada; presença sensível de felicidade invisível…” Uma carta de amor “é um papel que liga duas solidões.” Ciúme “é a consciência dolorosa de que o objeto amado não é posse: ele pode voar a qualquer momento.” E, por isso, para Rubem, o amor “é doloroso, está cheio de incertezas; é estado de graça e com amor não se paga”. O corpo “é um lugar maravilhoso de delícias.” A arte de amar “é a arte de não deixar que a chama se apague.” Para Rubem, ao tempo em que alegria “é a chama que dá vontade de viver”, tristeza “é parte da vida”. E, para falar do mundo prático atual, telefone é “um impositivo.”
Rubem me chegou por acaso, algum tempo atrás, em que folheando seus discernimentos, sem qualquer assinalamento, percebi convicções nunca impositivas, mas sempre elucidativas. Nesse sentido, ler Rubem Alves – e assistir a suas palestras –, a exemplo do que se tem com o grande professor Marco Lucchesi, é deleitar-se com mensagens que são, além de afetuosas e esclarecedores, porta de acesso a contemplações para uma vida melhor, em todos os aspectos.
Refiro-me, quanto às definições acima transcritas, todas descritas por Rubem Alves, aos livros “O retorno e terno”, “Se eu pudesse viver a minha vida novamente…” e “A festa de Maria”.
RODRIGO CAVALCANTE
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO E SECRETÁRIO DE AUDITORIA INTERNA NO TRT/7ª REGIÃO
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