De início estranhei. Seria o prenúncio de chuva? Não, fora de época de chuva. Fiquei calado, observei solitário até ver as notícias. Não era coisa dos meus olhos, da minha visão deficiente – tenho miopia, astigmatismo e ceratocone – nem falsa impressão deste meu sentido. Realmente os céus estavam acinzentados por causa das queimadas na Amazônia. A fumaça, o clima pesado, o caos, espalhando-se por todo o país.
“Nosso céu tem mais estrelas”, disse o poeta Gonçalves Dias em sua Canção do exílio. Mas antes de ficar brilhantemente estrelado com o cair da noite, nosso céu tem mais azul do que tem sido possível ver nos últimos dias. Céu limpo, azulíssimo, marcado por alvas nuvens, por vezes escassas e pelo incansável sol. Essa paisagem tão nossa ficou turva, manchada, embaçada por uma consequência que afeta a tudo e a todos.
Para onde olhávamos, a névoa cinza estava espalhada. Ao contemplar o pôr do sol, os casais apaixonados tiveram seu cenário amoroso prejudicado. Os pais certamente tiveram de encontrar palavras para explicar aos filhos pequenos do que se tratava o embaçado. E imagino a angústia de biólogos, de cientistas, de ecologistas, de pessoas que têm consciência da gravidade do acontecimento. A ação humana chegou ao extremo de mudar a cor do céu. Qual será o limite? Até quando a natureza vai aguentar tanta destruição? Caminhamos para a nossa própria extinção.
As imagens de animais resgatados nas queimadas comovem e geram revolta. Gabamo-nos de sermos animais racionais, mas uma espécie que destrói a sua morada é tão inteligente como pensa?
Espero que o céu volte a ter a sua cor de sempre. Esses episódios que mais parecem o apocalipse vão ser frequentes? Vamos ter que nos acostumar com fumaça, com um céu cinza, com um céu sombrio?
FELIPE AUGUSTO FERREIRA FEIJÃO
PROFESSOR E
MESTRE EM FILOSOFIA
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