“Setembro Amarelo”: tempo de ressignificar dores e celebrar a vida

Saúde mental é um tema que vem ganhando cada vez mais atenção no meio da sociedade e do poder público, principalmente porque leva a uma questão bem delicada e que ainda é vista como “tabu”, o suicídio. Entretanto, este assunto está alcançando mais espaços com campanhas e rodas de conversas, como é o caso do “Setembro Amarelo”.

O suicídio é um grande problema de saúde pública. Criada em 2015, a campanha tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre a importância de cuidar da saúde mental, a fim de prevenir e reduzir os casos relacionados ao suicídio, como explica a psicóloga Anaiana Azevedo.
“A campanha visa promover diálogos sobre saúde mental, identificando os sintomas que envolvem transtornos mentais, incentivando assim a busca por ajuda para as pessoas que estão passando por este processo de adoecimento psíquico, como para aqueles que estão passando por algum sofrimento psíquico”, explica Anaiana.

Segundos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas cometem suicídio por ano. Já no Brasil, conforme o Ministério da Saúde (MS), são registrados 12 mil mortes por suicídio todos os anos. Ainda conforme a OMS, o suicídio é a quarta causa de morte, depois de acidentes de trânsito, tuberculose e violência entre pessoas de 15 a 29 anos. No período de 2016 e 2021, houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, o que representou 6,6 por 100 mil e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil.

Dados do Boletim Epidemiológico da Mortalidade por Suicídio no Estado do Ceará, 2009-2023, da Secretária de Saúde do Estado do Estado do Ceará (Sesa) de 2024, mostram que nos últimos anos, houve um aumento nas taxas de suicídio no Estado. Entre 2009 e 2023, o estado registrou 9.290 óbitos por suicídio, com uma taxa média anual de 7,0 por 100.000 habitantes. Esse aumento é especialmente notável entre as faixas etárias de 20 a 39 anos e de 40 a 59 anos.

Fernanda (nome fictício, pois a personagem preferiu não usar seu nome verdadeiro), enfrentou um processo depressivo e tentou tirar a própria vida. A partir daquele momento percebeu que realmente precisaria de ajuda. No entanto, ela destaca que a força de vontade deve partir da própria pessoa, como foi no caso dela.
“Primeiro, você tem que querer e querer muito. Porque não adianta você ir para o melhor psiquiatra, tomar os melhores medicamentos de última geração, ir para os melhores psicólogos com muita experiência nisso, se a pessoa de fato não estiver disposta a pagar o preço e a querer”, destaca.

Após passar por uma grande decepção, Aurora Pinheiro (45), entrou em um quadro de depressão associada com uma compulsão alimentar. “Adoeci em 2007, tive uma crise, que passou, não foi muito longa, e aí eu tive uma recidiva depois, em 2013”, relembra.
Por muitas vezes, o desejo de acabar com aquela dor tomava conta dos pensamentos de Aurora e era nas consultas com a psicóloga, de falar sobre seus sentimentos que aliviava um pouco a sua dor. No entanto, mesmo fazendo tratamento e consultas, ela destaca que foi na fé, que encontrou forças para sair de toda aquela situação.

“Foi Deus, o fato de saber que Jesus foi pra cruz pra que eu tivesse vida. Sentia a força de Deus em mim, o mover Dele em tudo. Foi esse lado, essa aba da minha vida que me fez permanecer, o lado espiritual”, conta.
Hoje, professora universitária, Aurora tem a oportunidade de conversar com seus alunos e contar um pouco da sua história. Além disso, muitos pedem ajuda e ela busca acolher e orientar da importância de procurar ajuda profissional.

“Tenho alunos que batem na minha porta e me pedem ajuda sobre isso, compartilham das suas dores, dos sintomas da depressão e ansiedade. Eles são encaminhados para um setor específico, mas também oramos juntos, nós conversamos, independente de religião. Eu não estou aqui falando de religião, eu estou falando da espiritualidade e da importância que ela tem no tratamento da depressão. No meu caso, como cristã, eu estou falando de Deus, de Jesus”, conta.
Atualmente, Aurora está livre da depressão, cursa uma segunda graduação; psicologia, faz terapia, pratica esporte, mantém sua vida espiritual ativa e não faz nenhum uso de medicações.

Prevenção
Entre as práticas de prevenção, a psicóloga destaca que a principal é tentar falar sobre os sentimentos, sobre os gatilhos do sofrimento, buscando sempre acolher.
“Dialogar abertamente sobre os sentimentos, emoções e dificuldades que levam ao sofrimento é uma das formas mais eficazes de prevenção, permitindo assim que mais pessoas se sintam à vontade para reconhecer suas dificuldades e buscar apoio. Logo, podemos entender que o suicídio é uma das principais causas de morte no mundo, e muitas vezes são evitáveis. Por isso que ao falar sobre esse tema, podemos ajudar as pessoas a identificarem quando alguém está em risco, buscando sempre discutir assuntos como esses, que pode promover a ideia de autocuidado e bem-estar emocional”, finaliza Anaiana.

Sinais de alerta

  • Aparecimento ou agravamento de problemas de conduta ou de manifestações verbais durante pelo menos duas semanas;
  • Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança;
  • Expressão de ideias ou de intenções suicidas;
  • Isolamento.

Por Dalila Lima

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