Estelionatários fingem ser integrantes de facção criminosa e exigem dinheiro de empresas de internet no Ceará


Os ataques aos provedores de internet no Ceará foram motivados por facção criminosa que cobrava dinheiro para o serviço funcionar. Os suspeitos de estelionato se aproveitaram da situação e fingiam que eram parte do grupo criminoso para também tentar conseguir dinheiro com esses estabelecimentos. Os trabalhos policiais tem o objetivo de identificar, investigar e prender suspeitos de ataques e ameaças a provedores de internet.
Divulgação/SSPDS
Estelionatários fingiram ser integrantes de uma facção criminosa para ameaçar empresas de internet no Ceará. O objetivo dos criminosos era se valer da onda de ataques a provedores que o estado viveu, e também conseguir dinheiro dos estabelecimentos. A informação foi repassada ao g1 pelo promotor de Justiça, Adriano Saraiva, coordenador do Grupo de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Ceará (MPCE).
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Os ataques foram organizados pelo Comando Vermelho, que exigia dinheiro dos serviços de internet. Segundo o promotor, os estelionatários se aproveitaram da situação e faziam as ameaças por ligações telefônicas a pequenas empresas de internet, cobrando até R$ 30 por cliente. As ameaças aconteceram em Fortaleza e no interior do estado, mas o promotor não detalhou em quais cidades.
“A gente identificou através dos antecedentes e também que nessas localidades não há área de domínio nem de atuação do Comando Vermelho. Então isso deixou realmente claro que eles estavam apenas usando isso para tentar intimidar as pessoas e elas cederem e passarem o dinheiro para eles”, reforçou o promotor. Ele disse ainda que alguns dos suspeitos identificados admitiram a estratégia criminosa.
💡 Contexto: Os ataques coordenados pelo Comando Vermelho contra os provedores de internet no Ceará têm ocorrido desde fevereiro. Municípios como Fortaleza, Caucaia, São Gonçalo do Amarane e Caridade registraram ataques. Pelo menos, cinco empresas foram atacadas. Os criminosos exigem dinheiro das operadoras de internet para permitir a oferta do serviço e promovem ações de retaliação contra as provedoras que recusam pagar a “taxa”.
Foram identificados cerca de dez casos de estelionato através de denúncias anônimas recebidas por um canal do MPCE. Apesar de os dez criminosos já terem sido identificados, ainda não houve prisões desses estelionatários. No entanto, o promotor disse que alguns já respondem por processos anteriores também pelo crime de estelionato.
O promotor Adriano Silva explicou também que os suspeitos investigados pelo Ministério Público não têm relação com nenhuma facção criminosa.
“A gente conseguiu identificar essas pessoas, conseguimos o endereço e realizamos uma investigação, e identificamos que essas pessoas na verdade não tinham absolutamente nada a ver com facção criminosa. Elas eram estelionatárias, estavam se aproveitando do temor que as pessoas têm das facções, em razão da violência que elas usam”, disse o promotor.
O g1 questionou a Secretaria da Segurança Pública do Ceará sobre os casos. Em nota, o órgão disse apenas que a Polícia Civil orienta que possíveis casos de estelionatos sejam registrados por meio de boletim de ocorrência, que pode ser registrado presencialmente, em qualquer unidade, ou por meio da Delegacia Eletrônica (Deletron).
45 presos
Elmano anuncia criação de grupo para investigar ataques contra provedoras de internet
Mais cinco pessoas foram presas na operação que investiga os ataques a provedores de internet no Ceará, de acordo com o balanço divulgado pela Secretaria da Segurança Pública do Estado nesta quinta-feira (3). Desde o início dos ataques, 45 suspeitos foram detidos.
A ação faz parte da Operação Strike, e a nova fase teve início no último dia 28. As últimas cinco pessoas, com idades entre 38 e 57 anos, foram autuadas em flagrante pelos crimes de operar atividades de telecomunicações de forma clandestina, furto de energia e receptação.
Além dos mandados de prisão e de busca e apreensão, a SSPDS também fiscalizou irregularidades em provedores em áreas afetadas pela interrupção de links de internet e verificou denúncias relacionadas a esses serviços. Alguns provedores foram interditados
Foram alvos da nova fase diversos provedores de internet nos municípios de Caucaia, São Gonçalo do Amarante e Fortaleza, abrangendo os bairros do Pirambu, Barra do Ceará, Vila Velha, Jardim Iracema, Jardim Guanabara, Cristo Redentor, Carlito Pamplona e Álvaro Weyne. Durante as fiscalizações, alguns provedores foram interditados administrativamente devido a irregularidades constatadas.
Prisões de envolvidos nos ataques a empresas de internet:
21 de fevereiro: quatro traficantes foram presos por crimes como tráfico de droga e homicídio; à época das prisões, eles não eram investigados pelos ataques às empresas, mas a polícia apontou o envolvimento deles após investigações.
1ª fase da operação Strike, 12 de março: 17 membros de facção foram presos pela série de ataques a empresas;
2ª fase da operação Strike, 14 de março: 7 foram capturados e empresas ilegais comandadas por facção criminosa são fechadas;
25 de março: um guarda municipal de Fortaleza e três comparsas foram presos suspeitos de envolvimento nos crimes.
3ª fase da operação Strike, 27 de março: 8 foram detidos na cidade de Caridade, a mais afetadas pelos ataques.
4ª fase da operação Strike, 28 de março: 5 pessoas foram autuadas em flagrante por crimes de desenvolver atividades de telecomunicações de forma clandestina, furto de energia e receptação.
O que aconteceu com as empresas afetadas?
Desde fevereiro, os provedores de internet do Ceará estão sendo alvos de uma série de ataques promovidos por uma facção criminosa, que está cobrando das empresas parte do valor dos serviços prestados.
Reprodução
Cinco empresas provedoras de internet no Ceará já encerraram ou ainda devem encerrar as atividades após a série de ataques de uma facção criminosa, segundo a Associação dos Provedores Do Ceará.
Uma das empresas é a provedora de internet ‘GPX Telecom’, de Caucaia. Por meio de nota, a empresa disse que “em menos de 20 minutos, atos de vandalismo devastaram tudo o que construímos com tanto esforço e comprometimento, levando-nos a tomar a difícil decisão de encerrar nossas operações”.
Empresa comunica encerramento após ataques.
Reprodução/Redes Sociais
“É com um profundo sentimento de tristeza que anunciamos o encerramento de nossas atividades. Ao longo de nove anos, desde 2016, tivemos a honra de servir com dedicação e alegria os Bairros Parque Soledade, São Gerardo e Ponte Rio Ceará. Infelizmente, em meros 20 minutos, atos de vandalismo devastaram tudo o que construímos com tanto esforço e comprometimento, levando-nos a tomar a difícil decisão de encerrar nossas operações.
Esse triste episódio evidencia a fragilidade da segurança em que vivemos nos nossos dias atuais, onde o trabalho árduo de anos pode ser destruído em questão de minutos. Sempre priorizamos a qualidade e a legalidade em nossos serviços, e somos imensamente gratos pela confiança que vocês depositaram em nós ao longo dessa jornada.
Esperamos por justiça diante dessa situação alarmante que afeta a todos nós. Agradecemos, sinceramente, a cada um de vocês pelo apoio e pela compreensão.”
Cronologia dos ataques no Ceará
28 de março: em nova fase da operação, cinco pessoas são autuadas em flagrante por crimes de desenvolver atividades de telecomunicações de forma clandestina, furto de energia e receptação.
27 de março: terceira fase da operação contra o grupo criminoso prende oito pessoas, totalizando 40 prisões de envolvidos nos ataques coordenados.
20 de março: membros da facção criminosa incendeiam carro de operadora em Fortaleza.
11 de março: criminosos jogaram pedras contra um veículo da empresa Brisanet na cidade de Caucaia.
10 de março: a fachada da empresa Acnet, na cidade de Caucaia, foi alvo de vários tiros.
10 de março: membros de facção destruíram fiação de uma empresa de internet em Caucaia.
9 de março: um dia após o governador anunciar combate a esse tipo de crime, uma empresa foi atacada na madrugada no Bairro Sítios Novos, em Caucaia.
8 de março: o governador do Ceará, Elmano de Freitas, anuncia criação de grupo para combater a facção que ataca as provedoras de internet no estado.
7 de março: criminosos destruíram várias fiações de uma operadora na cidade de Caridade; 90% dos clientes do município ficaram sem internet.
6 de março: um carro de serviço da Brisanet foi completamente destruído pelas chamas no Conjunto Metropolitano, em Caucaia.
27 de fevereiro: no distrito do Pecém, no município de São Gonçalo do Amarante, onde está localizado o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), criminosos invadiram e vandalizaram uma empresa.
22 de fevereiro: no Bairro Jacarecanga, em Fortaleza, dois veículos da empresa Brisanet foram destruídos em incêndio.
Entre os ataques estão incêndios a carros das empresas, tiros disparados contra a fachada, vandalismo na sede das provedoras e rompimento de cabos de fibra óptica. A cidade mais afetada foi Caridade, onde 90% dos clientes estão sem internet desde fevereiro.
Após a escalada de ataques, o governador Elmano de Freitas anunciou em 8 de março a criação de um grupo especial para investigar atos criminosos realizados contra empresas provedoras de internet.
Arte mostra mapa com locais que ficaram sem internet após ataques de facções no Ceará
Arte/g1
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