A nova linha de crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada, lançada em março pelo governo federal, começou com a promessa de ampliar o acesso ao crédito para quem tem carteira assinada, inclusive os negativados. No entanto, a prática tem revelado um cenário bem mais restritivo do que o anunciado.
Apesar de o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) afirmar que qualquer trabalhador CLT pode solicitar o crédito e receber propostas pelo aplicativo da Carteira de Trabalho Digital, a palavra final cabe às instituições financeiras. E o que muitos trabalhadores têm enfrentado, especialmente os inadimplentes, são recusas após a análise de risco dos bancos — mesmo com a garantia de desconto em folha de pagamento e a possibilidade de uso do FGTS como lastro.
Diferencial
Na teoria, o modelo oferece mais segurança para as instituições financeiras. Como explica a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o diferencial dessa modalidade é justamente o desconto direto do salário, o que reduz significativamente o risco de calote. Ainda assim, diversas instituições estão negando os pedidos de quem tem restrição no nome, frustrando as expectativas de quem esperava quitar dívidas e recuperar o crédito.
Alguns bancos como o Agibank e o Banco do Brasil já operam com o novo consignado, mas com critérios rigorosos. O BB afirma já ter desembolsado mais de R$ 600 milhões em mais de 3.000 municípios desde o lançamento da linha, mas não divulga quantos desses empréstimos foram concedidos a negativados. A Caixa Econômica Federal, por sua vez, tem enfrentado críticas nas redes sociais e no site Reclame Aqui pela falta de transparência e pelas negativas de crédito, mesmo para quem recebeu propostas via aplicativo.
Desafio
Outro desafio enfrentado por quem tenta o novo consignado é a instabilidade nos canais digitais. Na última semana de março, o WhatsApp da Caixa, ferramenta usada para concluir a contratação, apresentou falhas que impediram o prosseguimento de milhares de pedidos. A instituição alega que o sistema foi sobrecarregado pela alta demanda e que o problema já foi resolvido.
Segundo especialistas, o comportamento dos bancos pode mudar a partir de 25 de abril, quando se espera maior concorrência entre as instituições e, possivelmente, redução dos juros e flexibilização nos critérios de análise. Hoje, os juros oferecidos pela Caixa variam de 1,60% a 3,17% ao mês, dependendo do perfil do cliente.
O economista Miguel José Ribeiro de Oliveira, da Anefac, explica que, embora o risco seja menor no consignado, devido ao desconto em folha e ao FGTS como garantia, os bancos ainda consideram o score de crédito, o histórico de inadimplência e a sustentabilidade do contrato. “Mesmo sendo negativado, o trabalhador pode conseguir taxas melhores do que em outras modalidades, mas isso não garante a liberação automática”, ressalta.
O novo consignado CLT permite até 84 parcelas, mas, na prática, o prazo médio liberado tem sido de 19 meses, segundo o MTE. A contratação exige que o trabalhador baixe o app CTPS Digital, simule o valor e autorize o compartilhamento dos dados com o banco escolhido. A liberação só ocorre após a averbação pela Dataprev.
O post Negativados podem solicitar consignado CLT; bancos devem analisar apareceu primeiro em O Estado CE.