Alienação parental ocorre quando um dos pais de alguma forma começa a dificultar o convívio dos filhos ou tenta colocá-los contra o outro genitor, dificultando assim a criação de laços afetivos. Muitas vezes a atitude é acompanhada de comentários, como explica a advogada Ana Magalhães.
“Pode acontecer de uma forma sutil, por exemplo, dificultando a convivência, chega o dia do genitor conviver com a criança e o outro genitor, seja o pai ou a mãe, não entrega, marca uma outra programação, viaja, fala mal do genitor para criança, ‘seu pai não liga para você, seu pai não lhe dá atenção, eu liguei para o seu pai, mas ele não queria falar com você’ ou ao contrário”.
A família do engenheiro Leonardo Ribeiro, que faleceu há um ano, após um infarto aos 48 anos, quando travava uma batalha na justiça com a ex-esposa por causa dos filhos, luta hoje pela conscientização contra o crime de Alienação Parental. No último domingo (30) parentes e amigos de Leonardo se reuniram na missa na Igreja Nossa Senhora da Paz.
De acordo com o processo judicial, a guarda das crianças era compartilhada pelo casal, entretanto, conforme a família, o convívio com o pai estava sendo negado pela mãe. Leonardo passou então a ser vítima da alienação parental. Dona Tereza, 77, mãe do engenheiro, descreve como era o convívio com os netos antes de tudo começar.
“As crianças viviam conosco, eram 15 dias que passavam lá em casa, diziam o que queriam almoçar, o que queriam de sobremesa, deitavam comigo na cama, aí de repente começou a alienação parental. Depois de uns poucos meses que eles se separaram e se divorciaram”, relembra dona Tereza.
Dona Tereza também conta que o filho era um grande pai, sempre presente e que a ex-mulher tocou no seu ponto mais fraco, o que acabou por deixar Leonardo muito fragilizado psicologicamente. “Leonardo era o melhor pai do mundo, era um pai presente, era um pai muito amado pelos filhos, e ele sofreu muito, ele sofreu tanto. Porque é o seguinte, entenda, a pessoa alienadora, pega no ponto fraco da pessoa, e o ponto fraco do meu filho era o amor pelos filhos, ele não vivia sem esses filhos, ele não passava sem os filhos”, conta dona Tereza.
Cristiane, que foi a última companheira de Leonardo, relembra os momentos de sofrimento vividos por ele. Segundo ela, a ex-mulher passou a manipular os filhos contra o pai e a família paterna. Um dos momentos o qual Cristiane presenciou e que lhe chamou muita atenção, foi a proibição dos filhos de aparecerem em fotos ao lado do pai, e orientação que se aparecessem, teriam que fazer semblante de tristeza.
“Num passeio que a gente foi a Guaramiranga, dentro do carro, após a gente passear, jantar lá, tiramos algumas fotos, porque o Léo insistiu, que ele queria guardar recordações, ao lado dos filhos. Quando a gente entrou no carro, o filho, falou para a irmã que ia dizer para o ‘Zé ninguém’ (código usado para falar da mãe) que ela tinha saído nas fotos, e aí ela respondeu para ele: ‘Eu saí, mas eu não sorri’. Então assim, isso, isso me marcou muito, sabe?”, conta Cristiane.
A família de Leonardo iniciou uma campanha de panfletagem para conscientizar as pessoas sobre o mal que a alienação parental causa na vida da vítima e dos familiares, que esse tipo de ação destrói uma família.
“Desejo que essa campanha seja para todas as famílias, todas as famílias que passam por isso, todas as famílias que sofrem esse problema. Não é só nós, aqui na igreja mesmo, tanta gente nos procurou que tá passando por esse problema e o que fazer? Então é uma campanha que eu acho que as escolas devem abraçar, igrejas, juristas, advogados e psicólogos”, finaliza dona Tereza.
Desde 2010 aqui no Brasil, a lei da Alienação Parental proíbe e estabelece medidas para prevenir essa prática de manipulação psicológica. Esse tipo de prática tem consequências significativas e abrange problemas emocionais, dificuldades nos relacionamentos, desenvolvimento de falsas memórias, problemas de comportamento e impacto nas relações familiares, como explica a psicóloga Thais Mindêllo.
As crianças e adolescentes de certa forma ainda estão descobrindo o seu lugar no mundo, as noções de afeto, então para se desenvolver de uma forma saudável, elas precisam e têm direito de conviver com ambos os pais e quando essa relação ela é interrompida, ainda mais de uma forma brusca, que é o que a alienação parental ela faz, de prejudicar esse vínculo afetivo e muitas vezes até romper, existem consequências, no desenvolvimento da criança e do adolescente. E com isso pode vir transtornos emocionais como depressão, ansiedade e crise de pânico.
A psicóloga Thais Mindêllo explica como esse tipo de agressão psicológica é prejudicial, tanto para as crianças e adolescentes, quanto para o alienado, pois envolve um rompimento de vínculo afetivo.
“É um rompimento muito brusco de um vínculo afetivo que ele tinha com os filhos. Então, é muito prejudicial, causa muito sofrimento e também na família ampliada, né? Que também perde o contato, né? Com as crianças, com os adolescentes. Então, as crianças também perdem esse contato, né? Que também é essencial para a vida delas. É um luto para todo mundo”, conta Thais.
Por Dalila Lima
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