
Estudo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) utiliza fragmentos de DNA no lugar de anticorpos. Equipamento consegue detectar a doença a partir do segundo dia. Mosquito da dengue
Reprodução/EPTV
Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP) descobriu um novo método capaz de detectar a dengue nos dias iniciais da infecção a partir de um sensor de baixo custo e de uma forma mais rápida, aproximadamente 30 minutos.
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Ao g1, o pesquisador responsável pela tecnologia, Bassam Bachour Júnior, do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), explicou que a principal diferença da ferramenta é a possibilidade de analisar fragmentos de DNA e não de anticorpos, como acontece nos exames que existem atualmente.
Segundo Bassam, após o mosquito infectado transmitir o vírus, as células do corpo da pessoa infectada começam o processo de transcrição — que tem o objetivo de ‘copiar’ uma parte do DNA (onde estão as instruções genéticas) — para formar uma nova molécula, o RNA.
A partir desse momento, o organismo começa a secretar as proteínas presentes dentro do RNA, uma delas é a NS1 (proteína não estrutural), alvo do biosensor, por se manifestar mais rapidamente no organismo.
“É na secreção dessa proteína que o organismo começa a reagir. Para a NS1, até o terceiro dia você a vê subindo. Quando chega no quarto dia, ela começa a descer. Quando você pega anticorpo, ele só vai atingir o pico, encontrar a NS1, quando ela tiver descendo. Atinge o pico no quinto dia.”
Bassam explica que a proteína é amplamente estudada pela comunidade científica, com potencial para um diagnóstico precoce até os primeiros quatro dias da doença, ao contrário dos testes baseados em anticorpos.
“O que o [teste] sorológico muitas vezes vai diagnosticar é o anticorpo. Só que, se você chegar lá no primeiro dia da doença, como você vai ter certeza que é a dengue? Porque toda doença no nosso corpo, o organismo secreta IGG e IGM [anticorpos] , então como você pode bater o martelo?”
USP desenvolve ferramenta que detecta dengue nos dias iniciais da infecção e em aproximadamente 30 minutos
Arquivo Pessoal
Esta detecção precoce pode auxiliar em um tratamento médico adequado já nos primeiros dias de infecção, além de contribuir para a diminuição de pacientes nos hospitais. Ela também não exige que o paciente volte para refazer exames.
As pequenas quantidades de reagentes necessárias e o potencial uso de materiais mais econômicos contribuem para um custo menor em comparação aos testes existentes.
E apesar de não existir um custo exato para a nova ferramenta de diagnóstico, a pesquisa visa uma solução mais acessível que gira em torno de R$ 30.
Até o momento, a tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores da USP é capaz de detectar a proteína NS1 dos sorotipos 1 e 4 da dengue, mas o pesquisador explica que, apesar de bons resultados, é preciso mais pesquisas para aumentar a aplicabilidade e alcance do sensor em ambientes clínicos.
Amostras analisadas pela ferramenta desenvolvida na USP capaz de detectar a dengue nos primeiros dias de infecção
Arquivo Pessoal
Como funciona o biosensor?
A nova ferramenta utiliza um sensor chamado de aptassensor, que detecta a doença de uma maneira diferente. Ele se baseia na interação entre a proteína NS1 e aptâmeros (que são moléculas de DNA ou RNA que atuam como ‘detectores’).
Os aptâmeros conseguem identificar e se ligar especificamente à proteína NS1, o que muda as características da superfície do sensor, tanto física quanto eletricamente.
Estas mudanças podem ser medidas por meio de uma técnica que transforma energia química em elétrica, permitindo que os pesquisadores saibam se a dengue está presente.
Veja como funciona o processo:
O aptâmero é colocado em um eletrodo, que é um metal condutor de eletricidade.
Depois, a proteína NS1 é adicionada, e ela se conecta ao aptâmero na superfície do eletrodo.
Essa ligação cria um bloqueio na superfície, que pode ser medido para confirmar se a dengue está presente.
Veja na ilustração como funciona ferramenta desenvolvida na USP em Ribeirão Preto de detecção da dengue
Arquivo Pessoal
Rapidez e detecção precoce
O novo sensor oferece um tempo de resposta significativamente mais rápido quando comparado a métodos tradicionais.
O PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) e a sorologia, por exemplo, podem demorar até quatro horas dependendo da técnica para fornecer os resultados.
O modelo disponível comercialmente utiliza anticorpos como molécula receptora, enquanto o desenvolvido na USP utiliza aptâmeros.
“Com essa nova ferramenta, a gente fala de 30 minutos, mais ou menos, por causa da técnica. A gente precisa de um tempo para a proteína reagir com o aptâmetro”, explica Bassam.
USP desenvolve ferramenta que detecta dengue nos dias iniciais da infecção e em aproximadamente 30 minutos
Arquivo Pessoal
O novo equipamento foi desenvolvido em conjunto com o grupo de pesquisa de Sensores e Materiais (Sensormat) da FFCLRP durante o mestrado de Bassam Bachour Júnior, orientado pelo professor Marcelo Mulato, da FFCLRP, e com a colaboração da professora Marina Ribeiro Batistuti Sawazaki, do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
*Sob a supervisão de Flávia Santucci.
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