
Marcos Canola tem ajuda de amigos e familiares e realiza a limpeza ao menos duas vezes ao mês no leito do rio em Araçatuba (SP). Morador de Araçatuba (SP) que realiza trabalho voluntário fazendo limpeza do Rio Tietê
TV TEM/Reprodução
Há 14 anos, um voluntário de Araçatuba (SP) dedica tempo e esforço para recolher lixo às margens do Rio Tietê. Considerado um dos mais poluídos do país, o leito do rio apresenta água com coloração esverdeada e mortandade de peixes em várias cidades da região noroeste.
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Apesar de ser importante para economia e turismo local, a atual situação do Tietê, que apresenta pontos de contaminação nas regiões e São José do Rio Preto (SP) e Araçatuba, preocupa pescadores, criadores de peixe e turistas que utilizam as prainhas de água doce para se refrescar.
Isso porque, além da cor incomum, o mau cheiro e as toneladas de pescados mortos são provenientes do despejo inadequado de esgoto doméstico ou industrial na água, segundo os especialistas. Além de colocar em risco a fauna, a flora e a saúde da população, pode comprometer o sistema de abastecimento hídrico a longo prazo.
Marcos Canola de Araçatuba (SP) que realiza um trabalho voluntário limpando o Rio Tietê
TV TEM/Reprodução
O aposentado Marcos Canola é apaixonado pelo rio e desde os 10 anos de idade visita o trecho na região de Araçatuba. Ainda na infância, sempre sentiu essa vontade de ajudar de alguma forma a manter o local limpo e preservado.
Há 14 anos, ele teve a ideia de começar a recolher os objetos que são jogados nas proximidades do rio e nunca mais parou. Em entrevista à TV TEM, Canola conta que inicialmente alguns amigos o criticavam pela iniciativa.
“Eu sou muito apaixonado, e uns amigos que vinham pescar comigo viam eu encher o barco de lixo e perguntavam ou ficavam bravo. Eu falava que é o que eu queria para mim, toda vez que eu venho eu faço uma limpeza” , conta.
Atualmente, o aposentado realiza o trabalho ao menos duas vezes por mês e recolhe embalagens plásticas, sacolas e restos de materiais inservíveis. No começo, ele realizava a ação sozinho, mas, ao longo do tempo, estimulou outros amigos e familiares que decidiram ajudá-lo nessa missão.
Marco Canola colocando lixo que encontrou próximo ao Rio Tietê em Araçatuba (SP) em um saco que seu neto, Pedro, está segurando
TV TEM/Reprodução
O eletricista e genro de Marcos, Lucas Almeida Muniz, diz que não se arrepende da experiência e a felicidade de poder contribuir para o futuro da natureza não tem preço.
“É uma satisfação vir com ele para limpar o rio e cuidar do que é nosso. Isso daqui é usufruto nosso, a gente cuidando dele vai ter peixe para muitos anos. Manter o rio saudável acho que é um bem para todo mundo”, explica.
Marcos Canola (à esquerda), Pedro Canola (ao centro) e Lucas Almeida Muniz (à esquerda) juntando lixos que estão próximo ao Rio Tietê em Araçatuba (SP)
Arquivo pessoal
Durante essas limpezas, eles encontram de tudo um pouco, inclusive vidro e embalagens de isopor. O neto do aposentado de sete anos, Pedro Canola, também faz questão de participar da iniciativa.
“Gostei. Eu peguei lixo junto com meu avô e com meu pai”, conta Pedro.
Rapidamente, o barco usado pela família para percorrer o rio fica cheio de lixo. Muitos desses materiais, como, por exemplo, uma garrafa pet, que demoraria até 500 anos para se decompor na natureza, recebem uma destinação ecologicamente correta.
Com as chuvas, eles chegariam rapidamente à água, se não tivessem sido recolhidos pelo aposentado. Saber que conseguiu evitar esse tipo de poluição deixa o voluntário extremamente agradecido.
“A eu fico todo orgulhoso por meu neto já estar fazendo esse trabalho junto comigo”, finaliza o aposentado.
Morador de Araçatuba realiza há 14 anos o trabalho de limpeza da margem do Rio Tietê
Prejuízo de R$ 1 milhão
Casos de água com coloração esverdeada e peixes mortos são registrados com frequência na região noroeste paulista. Pescadores e piscicultores que sobrevivem da atividade relatam que já sentem os reflexos da contaminação da água. Isso ocorre por conta da eutrofização.
Em Buritama (SP) , por exemplo, pescadores alegam que sofrem para vender o peixe. Segundo eles, algumas pessoas temem em se contaminar após ingerir o alimento.
Segundo apurado pela TV TEM, em Ubarana (SP), a mortandade de peixes começou na terça-feira (18), após a mudança da cor do rio no fim da semana passada. Inclusive, na sexta-feira (14), a prefeitura emitiu um alerta para turistas evitarem entrar na água, classificada como imprópria para banho.
Dois criadores de tilápia, um com 28 tanques de aproximadamente 25 toneladas de peixes, e outro com 11 tanques com oito toneladas de peixe, tiveram que descartar a produção.
Peixes aparecem mortos às margens do Rio Tietê em Ubarana (SP)
Rogério Pedrozo/TV TEM
Somadas, as perdas chegam a R$ 1 milhão, conforme os piscicultores. Por isso, os pescadores temem o desemprego, em especial durante a quaresma, período em que a venda dos pescados aumenta devido à dieta restrita de carnes vermelhas dos católicos.
Desde o começo do ano, a coloração da água do Rio Tietê e do Rio Grande vem sendo questionada. Em diversos momentos, ela fica bem densa e esverdeada. Além da cor, o mau cheiro incomoda bastante os pescadores da região.
Piscicultores estimam prejuízo de R$ 1 milhão após mortandade de peixes em Ubarana
Produção afetada
Os piscicultores da cidade de Zacarias (SP) iniciaram, no sábado (22), uma missão de emergência para retirar os peixes dos tanques, após vizinhos de Ubarana (SP) sofrerem um prejuízo de R$ 1 milhão com a mortandade dos animais. O problema começou na terça-feira (18), quando a cor do Ribeirão Fartura, braço do Rio Tietê, mudou devido à falta de oxigênio.
Tanques de rede em Zacarias (SP)
TV TEM/Reprodução
O diretor da Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União (Peixe SP), Emerson Esteves, destacou a importância de Zacarias como uma das principais fornecedoras de tilápia do estado de São Paulo.
“É o segundo maior polo produtor de tilápia em tanque-rede no estado. Então, o impacto que ocorre hoje é enorme para a atividade e para o mercado. É uma situação preocupante para todos nós. Trabalhamos muito para o momento da Quaresma, e acontecer o que aconteceu é inaceitável”, revela.
Peixes que foram retirados de tanques de rede em Zacarias (SP) para evitar prejuízos para os piscicultores
TV TEM/Reprodução
Além disso, ele relata que alguns produtores já interromperam a atividade de cultivo de tilápias. “Já pararam, desistiram. E não é um fenômeno recente, são vários anos enfrentando dificuldades. Há produtores que sofreram perdas no passado e já desistiram, outros tiveram prejuízos nos últimos 30 a 40 dias, mas essa mortandade mais recente afetou diversas pisciculturas da região”, explica.
Piscicultores de Zacarias temem perda de produção após mortes de peixes no Rio Tietê
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