Muitos questionam o significado da ‘Data Magna’, transcorrida ontem, em razão da qual é celebrado feriado em todo o Estado do Ceará.
Pois bem, a data indica um acontecimento marcante de nossa história, quando a então província do Ceará libertou os escravizados em todo o seu território, no dia 25 de março de 1884, quatro antes do restante do Brasil, através da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888.
A declaração coube ao médico e político Sátiro de Oliveira Dias, então presidente da província. Ele teria dito que: “para a glória imortal do povo cearense e em nome e pela vontade desse mesmo povo, proclamo ao país e ao mundo que a província do Ceará não possui mais escravos”.
Havia no Ceará a partir de 1850 um movimento político intelectual muito forte em defesa das ideias abolicionistas, com forte impacto e absorção na opinião pública. E Muitos foram os que lutaram e se esforçaram para tornar as terras alencarinas as primeiras no Brasil livres da chaga da escravidão.
Como o político e escritor José do Patrocínio, uma das mais altivas vozes abolicionistas no século 19, que aqui veio lutar pela causa, e cuja presença foi determinante para que a Vila de Acarape, atual município de Redenção, fosse o primeiro local a abolir a escravidão no Brasil, em 1 de janeiro de 1883.
Destaca-se o ineditismo do movimento feminista antiescravagista na província cearense, que teve a atuação determinante de figuras como Maria Tomásia Figueira Lima, a primeira presidente da “Sociedade das Cearenses Libertadoras”, como também, de Preta Tia Simoa, escrava liberta que se consolidou como uma liderança social, moral e religiosa da comunidade negra pescadora cearense, em prol da libertação.
Contudo, foram os fatores econômicos os mais cruciais para a aceleração do movimento abolicionista. A grande seca dos anos 1877-1879 levou a classe dominante cearense ao processo de venda de escravos para outras regiões, e neste contexto deu-se a atuação primordial do jangadeiro Francisco José do Nascimento, o Chico da Matilde, o hoje famoso “Dragão do Mar”.
Este que, bravamente com seus colegas jangadeiros, liderou a partir de janeiro de 1881 uma greve contra o tráfico negreiro interprovincial. A tática foi baseada no controle que eles tinham sobre o porto local, passaram a recusar sistematicamente o transporte de escravizados para os navios que os levariam para serem revendidos em outras localidades.
A luta comandada por Chico da Matilde foi determinante para o irreversível desmonte do sistema escravista local, culminado com a decretação da abolição em toda a província.
A história do Dragão do Mar não teve, ao longo do século 20, o destaque merecido. Só mais recentemente sua memória vem sendo resgatada. Em 1999 foi inaugurado em Fortaleza um complexo cultural de 30 mil metros quadrados chamado Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Em 2013, a Petrobrás lançou um navio petroleiro batizado de Dragão do Mar. E em julho de 2017 seu nome foi, em Brasília, inscrito no Livro dos Heróis da Pátria.
Viva Dragão do Mar, nosso eterno herói.
JOSÉ MARIA PHILOMENO
ADVOGADO
E ECONOMISTA
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