
Segundo a investigação, duas instituições financeiras digitais movimentaram recursos milionários da facção dissimulando sua origem ilícita por meio da compra de imóveis. Material apreendido na operação do Gaeco e da PF contra fintechs 2GO Bank e InvBank
Reprodução
O Ministério Público de São Paulo denunciou três homens por lavarem dinheiro para a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) por meio de duas fintechs (instituições financeiras digitais): a 2GO Bank e a InvBank. A denúncia foi realizada em 14 de março e divulgada nesta terça-feira (25).
Segundo a investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), elas movimentaram recursos milionários da facção dissimulando sua origem ilícita por meio da compra de imóveis.
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Os alvos da denúncia agiam por meio de práticas como smurfing (o fracionamento de transações usando carteiras digitais e contas bancárias virtuais), operações com criptomoedas, contas de laranjas, empresas de fachada e empréstimos fraudulentos.
As investigações começaram a partir de informações fornecidas por Antônio Vinicius Gritzbach, delator do PCC e de policiais corruptos, durante delação premiada com o MP. Ele foi assassinado com tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de São Paulo, em 8 de novembro do ano passado.
Os promotores também solicitaram que os denunciados sejam obrigados a pagar a quantia mínima de R$ 100 milhões por reparação e indenização pelos danos causados. Eles são alvo da Operação Hydra, deflagrada pelo MP em parceria com a Polícia Federal em fevereiro.
Foi pedida ainda a manutenção das medidas cautelares pessoais e patrimoniais, a prisão preventiva, o sequestro de bens, a suspensão da atividade econômica e o afastamento do sigilo bancário e fiscal dos denunciados.
Segundo o promotor Lincoln Gakiya, o crime organizado atingiu “outro patamar” e hoje opera no mercado financeiro formal.
A defesa das empresas 2GO Bank e a InvBank não foi localizada até a última atualização da reportagem.
Policial investigado
Cyllas Elia Junior
Reprodução/Redes sociais
Durante a Operação Hydra, o policial Cyllas Elia Junior que se apresenta como CEO da 2GO Bank foi preso.
Elia Junior estava afastado desde 2022 de suas funções a pedido e, no começo deste ano, voltou a trabalhar na Polícia Civil. Ele estava lotado no Decap, o departamento responsável pelas delegacias da capital.
Ele já tinha sido preso no ano passado em outra operação da PF em Campinas pela ligação na lavagem de dinheiro para criminosos chineses. Ele foi solto no fim de 2024.
Procurada, a defesa de Cyllas Elia disse que desconhece a prisão dele e não quis se manifestar neste momento.
Relatórios de Inteligência Financeira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), obtidos pela PF e pelo MP, indicaram que a fintech 2 GO Bank se envolveu em transações suspeitas com criptomoedas relacionadas a organizações terroristas, cujos nomes não foram divulgados.
30 milhões movimentados
As fintechs oferecem inovações no mercado financeiro por meio do uso intenso de tecnologia, como o envio de pagamentos para o exterior. No Brasil, há várias categorias de fintechs: de crédito, de pagamento, gestão financeira, empréstimo, investimento, financiamento e câmbio, entre outras.
No entanto, na avaliação de investigadores, a regulamentação atual tem brechas que faz com que as operações dessas empresas não entrem no radar do Banco Central.
As duas fintechs alvo da operação desta terça trabalhavam com cifras bilionárias, segundo operações da própria PF conduzidas no ano passado. Os valores movimentados chegam próximo a R$ 30 milhões.
Em 2022, o 2GO Bank promoveu um evento em São Paulo sobre segurança bancária na internet. Várias autoridades participaram, inclusive como palestrantes, como o delegado-geral da Polícia Civil de SP, Artur Dian, e o promotor de Justiça Richard Encinas, do Cyber Gaeco, além do ex-chefe da Divisão de Crimes Cibernéticos do Deic Carlos Afonso.
Apurações de promotores e analistas do Gaeco em conjunto com policiais federais descobriram “um complexo esquema ilícito, engendrado por intermédio do emprego indevido de empresas de tecnologia financeira”.
As duas empresas são suspeitas de receber valores em espécie e depois movimentá-los e alocá-los, dando falsa aparência de licitude para beneficiar o PCC.
Os investigadores afirmam que essas fintechs direcionavam os depósitos que recebiam para contas de “laranjas”, mantendo pleno controle de tais contas.
Policial Civil de SP é preso em operação contra fintechs ligadas ao PCC