O dólar apresenta alta nesta segunda-feira (24), com investidores atentos a novos detalhes do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Internamente, destaque para falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em evento em São Paulo. O chefe da ala econômica do governo comentou sobre a arquitetura do arcabouço fiscal e o cumprimento das metas sobre as contas públicas.
Às 11h19, a moeda subia 0,22%, cotada a R$ 5,728, desacelerando ganhos em relação a mais cedo. Já a Bolsa perdia 0,13%, aos 132.162 pontos.
Em evento promovido pelo jornal Valor Econômico, Haddad disse estar “confortável” com o funcionamento do arcabouço fiscal, embora seja necessário fazer “ajustes na máquina” para que o sistema se mantenha efetivo.
“Depois, quando você estiver numa situação de estabilidade da dívida (em relação ao) PIB, você tiver uma Selic mais comportada e uma inflação mais comportada, você vai poder mudar os parâmetros [que balizam o arcabouço]. Mas, na minha opinião, não deveríamos mudar a arquitetura”, disse.
O titular da Fazenda ainda afirmou que novas medidas para reforçar o arcabouço a exemplo dos cortes de gastos no final do ano passado podem ser consideradas no médio e no longo prazo.
As falas do ministro tiveram repercussão imediata no câmbio. O dólar atingiu a máxima de R$ 5,772 pouco antes das 10h da manhã, quando o mercado interpretou que o governo estaria disposto a mudar as metas do arcabouço fiscal.
“Gerou um pouco de ruído, dado que ele reforçou que vai perseguir o arcabouço, mas que não se muda a arquitetura, só uma ou outra coisa”, avalia Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos.
Com a reação, o ministro retificou a fala na rede social X (ex-Twitter). “Estão tentando distorcer o que eu falei. Disse que gosto da arquitetura do arcabouço fiscal, que estou confortável com os seus atuais parâmetros e que defendo reforçá-los com medidas como as do ano passado”, escreveu ele.
“Para o futuro, disse que os parâmetros podem até mudar, se as circunstâncias mudarem, mas defendo o cumprimento das metas que foram estabelecidas pelo atual governo.”
A publicação colocou panos quentes na valorização da moeda norte-americana. O dólar foi de R$ 5,758, às 10h17, para R$ 5,725, às 10h46.
Os juros futuros também se afastaram das máximas, e os contratos mais longos passaram a cair em ritmo firme. A taxa com vencimento para janeiro de 2027 estava estável ante o ajuste anterior, de 14,765%, e a com vencimento para janeiro de 2029 caía de 14,535% para 14,48%.
Principal motivo para a disparada do dólar no final do ano passado, as preocupações com a cena fiscal do país foram deixadas de lado, momentaneamente, neste primeiro trimestre de 2025. O foco dos investidores está no tarifaço do presidente Donald Trump, cuja aplicação pouco previsível das tarifas a parceiros comerciais tem inspirado cautela global.
Os temores devem pautar a agenda desta semana também marcada por dados de inflação do Brasil e dos Estados Unidos dada a proximidade com o 2 de abril, dia em que Trump prometeu anunciar uma série de tarifas recíprocas.
A reciprocidade tarifária dos Estados Unidos mira espelhar as taxas praticadas pelos parceiros comerciais sobre produtos norte-americanos. Japão, Índia e União são os maiores alvos das novas medidas, segundo disse um funcionário do alto escalão do governo em fevereiro, enquanto o documento informativo da Casa Branca acrescentou o Brasil à lista.
Uma eventual retaliação dos países afetados não é carta fora do baralho. Para o mercado, a maior preocupação é que a guerra comercial escale e distorça cadeias de suprimentos globais, o que pode encarecer diversas categorias de produtos. No caso específico dos Estados Unidos e de outras potências econômicas, como a Alemanha, há ainda temores de que o tarifaço provoque uma recessão.
Trump e seus assessores não descartam a possibilidade. O secretário de Comércio, Howard Lutnick, disse que as políticas “valem a pena” mesmo que causem uma recessão. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que a economia pode precisar de um “período de desintoxicação” após se tornar dependente dos gastos do governo. E Trump disse que haverá um “período de transição” à medida que suas políticas entrarem em vigor.
“O ambiente externo inspira cautela e aversão ao risco, o que pode privilegiar a busca por ativos considerados portos seguros para momentos de estresse e incerteza, como ouro, franco suíço e iene japonês. Isso é um fator de pressão para o real”, diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da Stone X.
Se o tarifaço aumentar o custo de vida dos norte-americanos, é possível que a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) contra a inflação sofra um revés e force a manutenção da taxa de juros em patamares elevados. Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.
O próprio presidente do Fed, Jerome Powell, endereçou esses temores em entrevista coletiva na semana passada, após a autoridade monetária decidir manter os juros na faixa de 4,25% e 4,50% pela segunda vez consecutiva. Ele disse que é “muito cedo para ver efeitos significativos das tarifas”, mas que “o progresso na inflação pode ser adiado por causa delas” e que “boa parte das projeções de alta deriva da política tarifária”.
O cenário desenhado por especialistas é de um “estagflação”, isto é, quando a inflação está elevada e a economia não cresce.
O BC (Banco Central) decidiu sobre a taxa básica de juros do país no mesmo dia. O Copom cumpriu com a indicação das reuniões anteriores e apertou a Selic em um ponto percentual, de 13,25% para 14,25% ao ano.
O comitê sinalizou que os juros vão continuar subindo na próxima reunião, em maio, e que pretende fazer uma nova alta de menor intensidade. Apesar disso, evitou se comprometer com um ritmo específico de ajuste. (Folhapress)
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