
Além de elencar situações violentas, o material, chamado de ‘Violentômetro’, divulga números telefônicos de órgãos que podem ser acionados pelas vítimas em Sorocaba (SP). Estudantes de faculdade de Sorocaba (SP) criam cartilha que ajuda a identificar o ciclo da violência contra a mulher
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Calouros do curso de direito de uma faculdade de Sorocaba (SP) deixaram de lados os trotes universitários e decidiram fazer como atividade para iniciar a vida acadêmica um projeto que conscientiza as pessoas sobre a violência contra as mulheres.
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Uma cartilha, que foi chamada de “Violentômetro”, classifica situações que servem como sinais de alerta para as mulheres identificarem comportamentos violentos.
Júlia Castro, estudante que participou do projeto, relata que a proposta da criação da cartilha foi feita pelo Centro de Integração da Mulher (CIM) de Sorocaba, que desde 1997 oferece diversos serviços de acolhimento às vítimas de violência.
“Quando o CIM Mulher chegou para a gente com a ideia de uma cartilha, a gente pensou que o certo seria procurar modos mais discretos de se comunicar com a vítima para que não alarmasse o agressor, gerando uma briga, uma confusão. Em muitos dos casos, as mulheres têm medo de procurar ir em instituições ou nem sequer sabem para onde ir. Chegamos à conclusão de fazer um marca-página”, explica.
Projeto voluntário de estudantes de direito de Sorocaba cria ‘violentômetro’
Conforme Maria Clara Nogueira Silva, outra estudante que participou da ação, a comunicação no marca-página visa mostrar para mulheres que nem sempre a violência é somente a agressão física, e que há violências camufladas em situações comuns.
“A gente dividiu quando começa aquela fase, mais no comecinho, até quando vai se agravando, quando você já começa a perceber um sinal mais grave da violência. Até a mulher ter essa noção de que precisa de ajuda, ela precisa ter esse direcionamento para onde ela… o que ela precisa fazer e a que nível está essa violência”, explica.
Além de elencar situações violentas, o material divulga números telefônicos de órgãos que podem ser acionados pelas vítimas.
Cartilha também divulga telefones de órgãos de proteção à mulher
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O professor de direito e orientador do projeto, Gilberto Montenegro, que também é delegado da Polícia Civil em Salto de Pirapora (SP), diz que, durante a pandemia da Covid-19, notou um aumento no número de casos de violência contra a mulher.
“Simplesmente dobraram. E foi isso que despertou o interesse de iniciar as pesquisas sobre essa problemática aqui no ambiente acadêmico. Foi muito produtivo, porque, dentre várias coisas que os alunos pesquisaram, eles identificaram o ciclo da violência doméstica. E puderam também constatar como isso acontece aos poucos, gota a gota, a cada dia. Em média, do primeiro desrespeito até a mulher ter forças para buscar ajuda, passam-se 10 anos”, ressalta o professor.
Estudantes de faculdade de Sorocaba (SP) criam cartilha que ajuda a identificar o ciclo da violência contra a mulher
Reprodução/TV TEM
No mapa da violência
O Brasil é o 5º país do mundo onde as mulheres mais são vitimas de violência, de acordo com o Mapa da Violência de 2015.
Números mais atuais mostram que a violência contra as mulheres só aumentou em 10 anos. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), em apenas três meses de 2025 foram registrados 22 casos de feminicídio no estado de São Paulo. No interior paulista, foram 12 mortes.
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No ano passado, 253 mulheres perderam a vida nas mãos dos agressores; 160 delas viviam no interior de São Paulo.
A presidente da Comissão das Mulheres Advogadas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Sorocaba, Bruna Natale, ressalta que discutir medidas para combater a violência contra a mulher também é papel dos homens.
“Tratar de assuntos como o feminicídio é algo muito complexo para a nossa sociedade, porque ainda somos muito machistas e uma sociedade muito patriarcal. Acredito que a solução venha de medidas educativas, principalmente que podem ser implementadas nas escolas, desde a educação básica. Uma educação com igualdade de gênero. E isso também pode ser promovido por órgãos públicos, pela iniciativa privada, criar cursos, oferecer palestras para explicar como a igualdade de gênero é importante para a sociedade toda. É importante também que os homens discutam esse assunto”, pontua.
Bruna Natale, presidente da Comissão das Mulheres Advogadas da OAB Sorocaba, acredita que a educação é a ‘chave’ para combater a violência contra a mulher
Reprodução/TV TEM
Comportamentos obsessivos
A psicóloga Ariane Toubia ressalta que identificar um comportamento violento logo no início pode permitir que a vítima busque ajuda e consiga romper o relacionamento com o agressor em potencial.
“Comportamentos como, por exemplo, excesso de controle, intimidação, ameaças, perseguições… Tudo isso é importante identificar porque inicialmente pode ser confundido com cuidado, com zelo, com proteção. É importante identificar comportamentos que se tornam obsessivos e que, infelizmente, podem ter o feminicídio como o final desse ciclo.”
Conforme a especialista, as pessoas ao redor da mulher também podem alertá-la sobre comportamentos excessivos.
“Mostrem que não são atitudes de proteção, de amor, mas atitudes que estão sufocando e privando a mulher de ter a sua liberdade de ir e vir”, pontua Ariane.
“As mulheres sofrem violência nas áreas afetivas, psicológicas e também sexuais. Forçar a mulher a ter relação sexual, forçar um aborto ou tentar controlar quando a mulher pode ou não engravidar são sinais de violência e abuso por parte do agressor”, completa.
Psicóloga orienta como as mulheres podem identificar o ciclo de violência
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