
Adem ALTAN
Centenas de milhares de pessoas foram às ruas de Istambul nesta sexta-feira (21) para denunciar a detenção do prefeito da cidade, o opositor Ekrem Imamoglu, que desencadeou a maior mobilização na Turquia em mais de uma década.
“Estamos aqui com 300 mil pessoas”, declarou diante da prefeitura de Istambul Özgür Özel, presidente do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), a principal legenda de oposição e ao qual pertence Imamoglu.
Os manifestantes foram às ruas pelo terceiro dia consecutivo, apesar de o presidente Recep Tayyip Erdogan ter advertido que a Turquia não toleraria o “terrorismo de rua”.
“Este não é um comício do CHP. As pessoas aqui pertencem a todos os partidos e vieram mostrar solidariedade ao prefeito Imamoglu e defender a democracia”, afirmou Özel, sob aplausos e gritos da multidão.
Enquanto ele discursava, confrontos eclodiram à margem do protesto. As forças de choque lançaram gás lacrimogêneo e balas de borracha, segundo dois correspondentes da AFP que foram atingidos nas pernas.
Também houve confrontos na capital, Ancara, e na cidade costeira de Esmirna, onde a polícia usou canhões de água e gás lacrimogêneo contra os manifestantes, de acordo com um correspondente da AFP e a emissora opositora Halk TV.
“Não viemos para as ruas por vontade própria. Estamos aqui por causa de Erdogan”, declarou à AFP Necla, uma mulher de 56 anos.
“Não acredito nas acusações contra Imamoglu. Não há homem mais honesto que ele”, garantiu.
– ‘Terrorismo de rua’ –
O popular e carismático prefeito de Istambul foi detido na quarta-feira como parte de uma operação na qual também foram presos uma centena de seus colaboradores, deputados e membros do partido.
Imamoglu é acusado de “corrupção” e de “apoio a uma organização terrorista” por supostos vínculos com o ilegalizado Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), segundo o ministro da Justiça, Yilmaz Tunç.
O prefeito, que no domingo seria oficialmente nomeado candidato do partido para as eleições presidenciais de 2028, foi levado a um centro policial, segundo fontes próximas.
Enquanto Özgür Özel convocava todo o país a protestar, Erdogan alertou que “a Turquia não se curvará ao terrorismo de rua”.
“Deixem-me dizer alto e claro: os protestos de rua convocados pelo líder do CHP são um beco sem saída”, declarou o presidente, acusando o político opositor de “grave irresponsabilidade”.
Nesta sexta-feira, as autoridades ampliaram a proibição de protestos para Ancara e Esmirna e, antes da manifestação em Istambul, bloquearam as principais vias de acesso à prefeitura.
Apesar da detenção de Imamoglu, o CHP prometeu seguir com suas primárias no domingo, nas quais planeja formalmente nomeá-lo candidato para as eleições de 2028.