Dólar tem alta firme e volta a R$ 5,70 em sessão de ajustes, com juros e tarifas no radar

O dólar apresenta alta firme nesta sexta-feira (12), com ajustes após uma semana de forte valorização dos ativos brasileiros.

O movimento ainda reflete cautela dos investidores diante de incertezas comerciais globais, motivadas pelas tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Decisões de juros desta semana e aprovação da LOA (Lei Orçamentária Anual) no Congresso também norteiam a sessão.

Às 12h43, a moeda norte-americana subia 0,84% e estava cotada a R$ 5,724. Já a Bolsa oscilava entre os sinais e marcava queda marginal de 0,03%, a 131.903 pontos.

Em dia de agenda esvaziada, os investidores se valem das sequências de valorização da Bolsa brasileira para realizar lucros. Entre terça-feira da semana passada e a última quarta-feira (19), o índice Ibovespa saiu de 123.507 pontos para 132.508 pontos.

A bonança foi interrompida na véspera, em pregão embalado pelas decisões de decisões de juros do Copom (Comitê de Política Monetária) e do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).

“Houve um forte fluxo estrangeiro de compra na Bolsa por conta das tensões comerciais dos EUA com o resto do planeta, o que fez com que muito dinheiro entrasse no mercado brasileiro. Agora, os investidores estão realizando lucros, o que faz com que recursos saiam do país neste momento”, explica Ian Lopes, economista da Valor Investimentos.

Estrangeiros precisam comprar reais para investir na Bolsa, o que tende a valorizar a cotação da moeda brasileira. E o inverso também é verdadeiro: se há um forte fluxo de vendas, o real costuma se desvalorizar, fortalecendo o dólar.

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A realização de lucros acontece em meio à cautela generalizada diante das medidas tarifárias de Trump. A próxima semana, segundo analistas, deve ser pautada pela guerra comercial do republicano, e operadores já se movimentam com o 2 de abril —dia em que ele prometeu anunciar uma série de tarifas recíprocas— em vista.

A reciprocidade tarifária dos Estados Unidos mira espelhar as taxas praticadas pelos parceiros comerciais sobre produtos norte-americanos. Japão, Índia e União são os maiores alvos das novas medidas, segundo disse um funcionário do alto escalão do governo em fevereiro, enquanto o documento informativo da Casa Branca acrescentou o Brasil à lista.

Uma eventual retaliação dos países afetados não é carta fora do baralho. Para o mercado, a maior preocupação é que a guerra comercial escale e distorça cadeias de suprimentos globais, o que pode encarecer diversas categorias de produtos. No caso específico dos Estados Unidos e de outras potências econômicas, como a Alemanha, há ainda temores de que o tarifaço provoque uma recessão.

Trump e seus assessores não descartam essa possibilidade. O secretário de Comércio, Howard Lutnick, disse que as políticas “valem a pena” mesmo que causem uma recessão. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que a economia pode precisar de um “período de desintoxicação” após se tornar dependente dos gastos do governo. E Trump disse que haverá um “período de transição” à medida que suas políticas entrarem em vigor.

As idas e vindas das tarifas de Trump sobre Canadá e México

1º de fevereiro

Donald Trump anuncia tarifas adicionais de 25% sobre todas as importações do Canadá e México, com exceção de produtos de petróleo e da energia canadenses, que terão taxa de 10%. No decreto inicial, tarifas estavam previstas para entrar em vigor três dias depois, em 4 de fevereiro.

3 de fevereiro

Um dia antes de tarifas começarem a valer, Trump recua pela primeira vez e as suspende por 30 dias. Adiamento ocorre após acordos com os governos vizinhos, que se comprometem a reforçar a segurança nas fronteiras.

10 de fevereiro

Trump aumenta tarifas sobre aço e alumínio de todos os países para 25% e exclui isenções anteriores para grandes fornecedores, que incluíam Canadá e México. Mudanças estão previstas para entrar em vigor no dia 12 de março.

27 de fevereiro

Após rumores de que iria adiar novamente tarifas, Trump confirma que prazo do dia 4 de março se mantém e diz que Canadá e México não fizeram o suficiente para conter o fluxo de fentanil nas fronteiras.

4 de março

Tarifas de 25% para produtos canadenses e mexicanos e de 10% para produtos de petróleo e energia do Canadá entram em vigor. Canadá retalia com tarifas de 25% e México promete uma resposta.

5 de março

Um dia após início das tarifas, Trump recua pela segunda vez e isenta por um mês montadoras instaladas nos EUA das tarifas de 25% sobre produtos importados dos vizinhos Canadá e México. Suspensão vale para as montadoras que cumpram os termos do USMCA (acordo de livre-comércio já existente entre os três países).

6 de março

Trump recua pela terceira vez e, após conversar com líderes dos países vizinhos, suspende até 2 de abril as tarifas sobre todos os produtos mexicanos e canadenses contemplados pelo USMCA.

7 de março

Trump faz ameaças contra produtos do Canadá, afirmando que pode impor tarifas sobre produtos lácteos e madeireiros do país

11 de março

Trump anuncia que vai dobrar a tarifa para produtos com aço e alumínio importados do Canadá para 50%, mas volta atrás após recuo do país vizinho em tarifas recíprocas

12 de março

União Europeia anuncia que imporá tarifas retaliatórias sobre 26 bilhões de euros (R$ 164,9 bi) em produtos norte-americanos a partir do próximo mês como retaliação às cobranças dos EUA sobre aço e alumínio

“O ambiente externo inspira cautela e aversão ao risco, o que pode privilegiar a busca por ativos considerados portos seguros para momentos de estresse e incerteza, como ouro, franco suíço e iene japonês. Isso é um fator de pressão para o real”, diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da Stone X.

Se o tarifaço aumentar o custo de vida dos norte-americanos, é possível que a briga do Fed contra a inflação sofra um revés e force a manutenção da taxa de juros em patamares elevados. Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.

O próprio presidente do Fed, Jerome Powell, endereçou esses temores em entrevista coletiva nesta semana, após a autoridade monetária decidir manter os juros na faixa de 4,25% e 4,50% pela segunda vez consecutiva. Ele disse que é “muito cedo para ver efeitos significativos das tarifas”, mas que “o progresso na inflação pode ser adiado por causa delas” e que “boa parte das projeções de alta deriva da política tarifária”.

O cenário desenhado por especialistas é de um “estagflação”, isto é, quando a inflação está elevada e a economia não cresce.

O banco central dos EUA ainda estima uma redução total de 0,50 ponto percentual até o final do ano. “É uma postura cautelosa diante das incertezas econômicas geradas pelas políticas do governo Trump, como tarifas comerciais e alterações no gasto público”, diz José Cassiolato, sócio da RGW Investimentos.

O BC (Banco Central) decidiu sobre a taxa básica de juros do país no mesmo dia. O Copom cumpriu com a indicação das reuniões anteriores e apertou a Selic em um ponto percentual, de 13,25% para 14,25% ao ano.

O comitê sinalizou que os juros vão continuar subindo na próxima reunião, em maio, e que pretende fazer uma nova alta de menor intensidade. Apesar disso, evitou se comprometer com um ritmo específico de ajuste.

Também na cena doméstica, o mercado avalia a aprovação da LOA de 2025 pelo Congresso Nacional.

A proposta que traz a previsão de receitas e despesas do governo federal para este ano prevê um superávit de R$ 15 bilhões, valor superior aos R$ 3,7 bilhões previstos anteriormente. Essa sobra, segundo o relator do projeto na CMO (Comissão Mista de Orçamento), senador Ângelo Coronel (PSD-BA), veio do ajuste da inflação aplicado ao teto de gastos.

O resultado só é positivo porque R$ 44 bilhões destinados ao pagamento de precatórios ficam fora do cálculo do teto de gastos. Do contrário, o Orçamento ficaria negativo. O STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou que essas despesas não entrem no limite de gastos, nem sejam consideradas para verificação da meta fiscal.

“O superávit é uma boa notícia, mas a credibilidade fiscal do governo ainda está baixa. Os investidores se mostram muito pessimistas com a estabilidade das contas públicas, especialmente em um contexto em que a aprovação do governo Lula têm caído”, comenta Mattos, da StoneX.

“O mercado teme que o governo aumente os gastos fiscais para tentar revitalizar a economia e recuperar a popularidade antes das eleições de 2026. Nesse sentido, vai ser importante acompanhar a divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas primárias, que sai ao final do mês e pode ajudar a entender a evolução dos gastos públicos.” (Folhapress)

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