Coração de titânio pode ser opção permanente a transplantes

Mesmo com o avanço da medicina, transplantes estão longe de serem uma ocorrência trivial, onde a falta de doadores é um problema sério. Alternativas são estudadas há anos, de cultivo de células-tronco a xenotransplantes, usando animais (geralmente porcos) como doadores; falando especificamente do coração, uma opção aventada há tempos, e disponível até certo ponto, é a do órgão artificial.

  • Transplantes com órgãos de animais: ainda é cedo?
  • Da Vinci realiza 1.º transplante robótico de pulmão do mundo

Uma prótese do tipo é usada de modo temporário, como uma ponte entre a remoção do órgão falho, e a espera por um novo, mas uma companhia alcançou um recorde com um paciente que passou mais de 100 dias, e inclusive foi permitido ir para casa, com uma prótese de titânio enquanto esperava na fila do transplante.

Paciente passou mais de 100 dias com coração de titânio, e chegou a ter alta, um caso inédito (Crédito: Divulgação/BiVACOR)

Paciente passou mais de 100 dias com coração de titânio, e chegou a ter alta, um caso inédito (Crédito: Divulgação/BiVACOR)

O homem do coração de titânio

O paciente em questão é um australiano na casa dos 40 anos que vive em Nova Gales do Sul, que não quis ter sua identidade revelada; ele sofria de problemas cardíacos graves, ao ponto de que ele mal conseguia andar alguns metros sem perder o fôlego. Ele foi um dos cinco selecionados por uma junta médica mista dos EUA e Austrália, para testar uma prótese da companhia local BiVACOR.

O artefato, construído em uma liga de titânio, é um TAH (de coração artificial total, na sigla em inglês), ou seja, ele substitui o coração original e assume todas as suas funções, ao invés de servir como uma “bomba” auxiliar. Ele é pouco menor que um punho fechado, e pesa menos de 680 g; um coração adulto pesa entre 250 e 300 g, variando conforme a idade, o sexo, e o peso da pessoa.

Dos cinco pacientes que receberam o TAH da BiVACOR, o indivíduo de Nova Gales do Sul, que passou pela cirurgia em novembro de 2024, foi permitido, pela primeira vez em uma ocorrência médica do tipo, voltar para casa enquanto aguardava por um doador compatível; ao todo, ele permaneceu usando a prótese, e realizando atividades monitoradas, por mais de 100 dias, um recorde para indivíduos usando próteses de substituição total do coração, que em situações normais não são permitidos saírem do hospital.

O TAH em questão foi desenvolvido por Daniel Timms, um engenheiro biomédico que passou por uma tragédia pessoal relacionada, quando o pai, um encanador, morreu relativamente jovem vítima de doença cardíaca. Desde então, ele dedicou sua carreira médica a desenvolver soluções na área, curiosamente, empregando o que aprendeu vendo seu velho trabalhar.

Dr. Daniel Timms, fundador da BiVACOR, durante teste do TAH de titânio (Crédito: Divulgação/BiVACOR)

Dr. Daniel Timms, fundador da BiVACOR, durante teste do TAH de titânio (Crédito: Divulgação/BiVACOR)

O processo por trás do TAH da BiVACOR, companhia fundada pelo Dr. Timms, obedece ao mesmo princípio de bombeamento de canos e válvulas de um sistema hidráulico, visto que o coração não é muito diferente de uma bomba d’água. Um rotor suspenso magneticamente bombeia continuamente o sangue em pulsos regulares; a escolha do titânio se dá por ser biocompatível e não alergênico, em condições ideais ele não causará reações adversas no organismo; nós já usamos o material em pinos para fixação de ossos e dentes, por exemplo.

Embora a função ideal de um TAH seja a de agir como uma substituição temporária, o objetivo do Dr. Timms é permitir que seu invento se torne, a longo prazo, uma opção permanente de substituição do coração, para casos onde um transplante seja inviável. Por ser pequeno e relativamente leve, ele pode ser implantado em homens e mulheres adultos, e até mesmo em crianças a partir dos 12 anos.

A única restrição no momento é a autonomia de bateria, alocada em um dispositivo externo carregado junto ao abdômen, e ligado ao TAH por um fio que sai de uma incisão no tórax. Os desenvolvedores da BiVACOR acreditam, entretanto, que modelos futuros viabilizem carregadores mais eficientes, com cargas que durem mais.

A ideia é fazer com que a bateria seja tão simples de usar quanto um carregador de celular, inclusive podendo carregar o TAH sem fios, com um indutor sobre o peito.

O TAH da BiVACOR ainda não está comercialmente disponível; o paciente de Nova Gales do Sul passou por um transplante na última semana e retirou o equipamento, e está em recuperação, e mais pacientes aguardam para receber o implante, que continua em fase de testes, mas até aqui, ele já foi muito além das expectativas.

Fonte: Popular Science

Coração de titânio pode ser opção permanente a transplantes

Adicionar aos favoritos o Link permanente.