*Por João Xavier de Oliveira Filho, médico-veterinário da Auster Nutrição Animal
O sistema digestivo dos leitões neonatos desempenha papel crucial na sua sobrevivência, crescimento e desempenho zootécnico.
Além de ser responsável pela digestão e absorção de nutrientes essenciais, ele também exerce função central na maturação do sistema imunológico, impactando a saúde dos suínos desde as primeiras fases da vida até a idade adulta.
A estrutura epiteliocorial da placenta suína impede a transferência de células maternas, imunoglobulinas e citocinas para o feto.
Embora os órgãos linfoides estejam completamente formados aos 90 dias de gestação, a expansão dos linfócitos em órgãos linfoides secundários ocorre apenas após o nascimento.
Esse processo está diretamente relacionado à colonização do trato gastrointestinal por microrganismos neonatais, à ingestão de colostro e à ativação dessas células imunológicas.
A imunidade de mucosa, especialmente a intestinal, é a mais robusta do organismo, sendo constantemente desafiada por uma grande diversidade de patógenos e antígenos alimentares.
O equilíbrio da microbiota intestinal é essencial para a imunidade e saúde dos leitões ao longo de toda a fase produtiva. Estudos demonstram que a colonização precoce por uma microbiota diversificada dificulta a instalação de patógenos, como Salmonella.
Em contrapartida, a imaturidade do microbioma, com predominância de microrganismos típicos da fase de amamentação, pode aumentar a susceptibilidade a infecções e prolongar a excreção fecal de patógenos.
Ao longo do tempo, a microbiota intestinal dos leitões passa por mudanças significativas. Nos primeiros dias de vida, predominam microrganismos oriundos da vagina da mãe, aumentando de 69% no nascimento para 89,3% no terceiro dia, antes de declinar para 0,28% ao 28º dia.
Paralelamente, as comunidades microbianas das fezes maternas e do piso da maternidade, inicialmente representando 0,52% e 9,6%, tornam-se predominantes ao final do primeiro mês, atingindo 62,1% e 33,8%, respectivamente.
Esses dados reforçam a importância da microbiota materna na colonização intestinal dos leitões e destacam a necessidade de estratégias que promovam sua estabilidade para garantir a saúde e o desenvolvimento dos animais.
Diante dessa relevância, é essencial adotar medidas que minimizem fatores de risco que possam comprometer o equilíbrio da microbiota, como estresse térmico, nutrição inadequada, uso excessivo de antimicrobianos e condições ambientais adversas.
O estresse neonatal, incluindo o nascimento prematuro, pode afetar a função e a permeabilidade intestinal, impactando não apenas os neonatos, mas também o desenvolvimento dos leitões mais velhos.
Além disso, o desmame precoce (15 a 21 dias de vida) compromete a integridade da barreira intestinal, reduzindo a resistência elétrica transepitelial do jejuno e do cólon e aumentando a permeabilidade intestinal por meio da ativação de mastócitos.
Essa disfunção pode persistir até a vida adulta. Estudos demonstram que o desmame tardio (a partir de 28 dias) evita esses prejuízos, permitindo melhor adaptação intestinal.
Além disso, leitões desmamados antes dos 17 dias ainda não completaram a erupção dos pré-molares, o que pode dificultar a ingestão de ração e comprometer a absorção de nutrientes, a maturação intestinal e o desenvolvimento imunológico.
Garantir a saúde intestinal dos suínos é fundamental para a eficiência da digestão, a absorção adequada de nutrientes e o fortalecimento do sistema imunológico.
Para isso, é essencial adotar uma abordagem integrada que envolva desde o manejo das matrizes até práticas específicas na maternidade e creche.
Além da implementação de um rigoroso programa de biosseguridade para garantir bom status sanitário, são fundamentais práticas, como manejo adequado, consumo de colostro, monitoramento de leitões prematuros, estímulo precoce ao consumo de ração (creep feeding), desmame na idade ideal e manutenção de condições ambientais adequadas.
O uso de tecnologias nutricionais, como aditivos, enzimas, ácidos orgânicos, óleos essenciais, prebióticos e probióticos, também desempenha papel crucial no equilíbrio da microbiota de matrizes e leitões.
A combinação dessas estratégias fortalece a saúde intestinal, melhora o bem-estar dos animais e maximiza a eficiência produtiva na suinocultura.
Isadora Fabris Texto Comunicação Corporativa
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