Mulher mantida em cárcere privado pelo marido no Paraná usou e-mail do próprio suspeito para conseguir pedir socorro: ‘Estou sendo vigiada’


Detalhe também chamou atenção da Casa da Mulher Brasileira, que iniciou investigação junto à PM. Homem foi preso em flagrante e solto na audiência de custódia. PM informou que monitora situação. Polícia resgata mulher mantida em cárcere privado por 5 anos
A mulher, de 23 anos, resgatada de cárcere privado em Itaperuçu, na Região Metropolitana de Curitiba, usou o e-mail do marido para pedir socorro. Ele, que tem a mesma idade que a vítima, é suspeito de agredi-la e impedir que ela saísse de casa sozinha por pelo menos cinco anos, de acordo com a Polícia Civil (PC-PR).
O resgate ocorreu sete dias depois que o e-mail foi enviado, após uma investigação sigilosa.
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A RPC teve acesso ao e-mail enviado às 7h05 da manhã do dia 7 de março, com o endereço em nome de um homem.
“Me ajudem […]. Eu sofro muita violência doméstica e não consigo ir até a delegacia. Eu estou sendo vigiada por câmeras 24 horas. Tenho um filho de quatro anos e quero sair de casa com meu filhinho. Ele vê tudo o que passo. […] Me ajudem por favor”, a vítima escreveu no e-mail.
Vítima usou o e-mail do marido, suspeito de agredi-la, para pedir ajuda.
Reprodução/RPC
Além da denúncia, ela também deu informações sobre onde estava e as orientações para que a ajuda chegasse até o local.
Em entrevista à RPC, afiliada da TV Globo no Paraná, Sandra Prado, coordenadora-geral da Casa da Mulher Brasileira em Curitiba, disse que o nome masculino no e-mail chamou atenção.
O pedido foi analisado por uma psicóloga, que entrou em contato com a Patrulha Maria da Penha, da Polícia Militar (PM-PR), para iniciarem as investigações junto à Polícia Civil (PC-PR).
O major Gildo Cézar dos Santos Lima, comandante do 22º Batalhão da Polícia Militar (BPM), disse em entrevista à RPC que o suspeito não ofereceu resistência quando foi abordado em casa, na sexta-feira (14).
Primeiro, a vítima negou ter feito a denúncia. Os policiais, então, pediram para que ela mostrasse o celular que usava e questionaram qual era o e-mail cadastrado no aparelho, sendo que a informações coincidiu com o endereço registrado pela Casa da Mulher Brasileira.
A mulher acabou relatando que sofria violência e era monitorada por uma câmera de segurança instalada na porta da residência. Ela disse que era agredida e amarrada para que não saísse de casa ou denunciasse.
O filho do casal, de 4 anos, também era mantido em cárcere privado, segundo a polícia, e foi resgatado junto à mãe.
Vítima também pediu socorro usando bilhete
Mulher pediu socorro por meio de bilhete entregue em posto de combustíveis
PMPR
Mulher mantida em cárcere privado pelo marido: o que se sabe sobre o caso
Há cerca de 15 dias, a vítima entregou um bilhete pedindo socorro em um posto de combustíveis da cidade. Ela estava acompanhada e deixou o papel em um momento que ficou sozinha.
“Me ajude. Sofro muita violência em casa”, dizia o papel.
Na época, a PM foi comunicada sobre a denúncia e fez diligências no endereço indicado, mas não encontrou a mulher e nem o suspeito. Por conta disso, ela não foi resgatada.
O bilhete, entretanto, ajudou a confirmar que tratava-se a mesma mulher que havia pedido ajuda pelo endereço eletrônico.
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Suspeito foi liberado após passar por audiência de custódia
O marido da vítima foi preso em flagrante, na sexta-feira (14). No domingo (16), foi liberado pelo promotor de justiça após passar por audiência de custódia.
O Ministério Público do Paraná (MP-PR) disse, em nota, que a decisão foi baseada no fato de que “o autuado é primário, não registra antecedentes e não havia nenhuma medida protetiva anteriormente deferida”.
A nota também diz que a 1ª Promotoria de Justiça de Rio Branco do Sul irá analisar a “necessidade da adoção de outras medidas para garantir que a vítima seja mantida em segurança, longe do agressor, especialmente considerando que ele não foi intimado das medidas protetivas”.
O suspeito deve responder pelos crimes de sequestro e cárcere privado, causar dano emocional à mulher e ameaça, todos no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher.
O nome dele não foi divulgado.
Mulher e filho estão em outro endereço
Vítima mostrou marcas causadas por agressões
PCPR
A mulher e o filho foram levados pela PM a outro endereço, fora de Itaperuçu. De acordo com o depoimento dela à polícia, os familiares do suspeito eram coniventes com a violência.
Foi expedida uma medida protetiva de urgência, que proíbe a aproximação do suspeito com vítima e filho.
Ciclo da violência: Saiba como identificar
O comandante do 22º BPM informou que está em contato com a família da mulher para que denunciem caso o suspeito seja visto no município.
“[…] ele não tem parentes lá, ele não existe justificativa para estar nessa outra cidade. Se ele aparecer por lá, principalmente próximo da casa, eles vão nos informar e nós vamos prender esse indivíduo de novo. A Polícia Militar vai fazer o seu papel, independente se nossa legislação vai favorecer ou não esse indivíduo”, disse o major Gildo Cézar dos Santos Lima em entrevista à RPC.
Canal de denúncia da Casa da Mulher Brasileira de Curitiba
O e-mail da Casa da Mulher Brasileira de Curitiba é [email protected], o mesmo que foi usado para a denúncia da vítima. Os telefones disponíveis são (41) 3221-2701 ou (41) 3221-2710.
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