
Investigado chegou a amputar o próprio dedo em falso episódio de tortura para confundir a polícia. Homem e comparsa respondem por homicídio qualificado. Homem chegou a amputar próprio dedo para forjar ser vítima de tortura
Polícia Civil/ Divulgação
Menos de 15 dias após a prisão, a Justiça de Santa Catarina aceitou denúncia e tornou réu um empresário de 41 anos que matou e incendiou o corpo de homem em situação de rua em São Cristóvão do Sul, na Serra Catarinense.
O assassinato integra uma trama complexa arquitetada pelo réu e um comparsa onde o cadáver do morador de rua foi encontrado em uma caminhonete com objetivo de que a polícia e a família acreditassem que o morto era o próprio empresário, que chegou a ser dado como desaparecido.
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Edilson Peter, de 41 anos, e o comparsa, de 38, que foram presos em 28 de fevereiro, respondem por homicídio triplamente qualificado, destruição de cadáver e fraude processual. O g1 tenta contato com as defesas.
A trama arquitetada pelos dois envolveu a simulação do próprio desaparecimento do empresário, a tentativa de forjar a morte dele duas vezes, além da armação de uma suposta sessão de tortura contra o réu, chegando ao ponto de Edilson amputar um dos dedos para confundir as autoridades.
Com base nas investigações da Polícia Civil, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) apresentou denúncia à Justiça. O empresário, investigado por estelionato em outro inquérito, teria tentado simular a própria morte por questões financeiras.
Esta investigação apontou que o empresário teria aplicado golpes em clientes da empresa de placas de energia solar que administrava.
“Trata-se de um crime cruel, marcado por requintes de frieza e planejamento detalhado. Os denunciados não apenas tiraram a vida de uma pessoa vulnerável, como também tentaram enganar as autoridades para se safarem”, comentou o promotor Renato Maia de Faria, da 3ª Promotoria do MPSC, da Comarca de Curitibanos.
Polícia fala sobre prisão de empresário suspeito de forjar própria morte em SC
Sequestro, suposta tortura, dedo arrancado e assassinato
A investigação da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Curitibanos apontou a seguinte linha do tempo:
12 de fevereiro: o suposto desaparecimento do empresário foi comunicado, e as investigações começaram;
15 de fevereiro: a caminhonete do empresário foi localizada queimada, com um corpo totalmente carbonizado em seu interior. Com isso, as investigações passaram a apontar que ele teria sido vítima de homicídio.
Logo depois, o empresário percebeu que o corpo passaria por exame de DNA e que a simulação não funcionaria. Por isso, tentou forjar novamente sua morte – dessa vez, disseminando um vídeo em que aparecia sendo supostamente torturado;
O corpo encontrado dentro do veículo foi identificado como de Vanderlei Weschenfelder, de 59 anos, que vivia em situação de rua. A investigação apontou que o comparsa atraiu a vítima com o pretexto de lhe dar comida e depois o assassinou.
Com a mudança na linha de investigação, a polícia identificou a unidade de saúde que o empresário buscou atendimento para suturar o dedo amputado, sendo reconhecido por testemunhas do local.
28 de fevereiro: o empresário e o cúmplice foram localizados em Navegantes, no Litoral Norte, após a polícia pedir pela prisão preventiva dos dois e pela busca e apreensão nos endereços.
Pessoas chegaram a divulgar sobre o suposto desaparecimento do empresário na web
Redes sociais/Reprodução
Simulação de tortura
Os supostos sequestradores fizeram contato com familiares do empresário e com portais de notícias locais enviando a eles vídeos de uma suposta prática de tortura contra Edilson, que foi filmada. Nas imagens, parte de um dedo do empresário aparece sendo amputado.
Na mesma noite da divulgação dos vídeos, uma garrafa com o pedaço do dedo e dois dentes foi arremessada contra a casa da namorada do empresário.
“A ousadia e a criatividade atingiram um patamar alarmante quando, de forma voluntária e premeditada, o dono da caminhonete permitiu que um dedo de sua mão esquerda fosse amputado para simular que teria sido sequestrado e torturado antes de morrer, criando, assim, um enredo artificial para confundir as autoridades e afastar qualquer suspeita sobre sua real participação nos fatos”, detalhou o promotor de Justiça.
O empresário e o comparsa seguem presos preventivamente. Além dos crimes, o MP apresentou três qualificadoras que podem agravar as penas em caso de condenação: motivo torpe, o meio insidioso e o recurso que dificultou a defesa da vítima.
“O Ministério Público de Santa Catarina está empenhado em garantir que eles não fiquem impunes”, completou o promotor Renato de Maia Faria.
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