A obra possui duas assinaturas nos registros oficiais, mas um terceiro compositor busca reconhecimento. ‘É hoje o dia da alegria’: Sambista disputa judicialmente reconhecimento da autoria de famoso samba-enredo da União da Ilha
Uma disputa jurídica, que já dura quatro anos, gira em torno da autoria de um dos sambas-enredo mais famosos do carnaval carioca. A obra “É hoje”, samba-enredo apresentado pela União da Ilha do Governador no carnaval de 1982, possui duas assinaturas nos registros oficiais, mas um terceiro compositor busca reconhecimento.
A música, que já foi reinterpretada por diversos artistas, guarda alguns mistérios ainda não esclarecidos. Segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), órgão responsável por arrecadar e distribuir direitos autorais de músicas, a obra é o samba-enredo mais executado do Brasil.
Integrantes da Velha Guarda da União da Ilha afirmam que as assinaturas da composição do clássico estão em nome dos sambistas Didi e Mestrinho.
“Quem assina que leva o nome, não é isso?”, questionam Marco Antônio Silveira e Jurema de Almeida.
Almir da Ilha alega ser o terceiro compositor do samba e conta que a ideia surgiu porque na época, ele trabalhava em um navio.
“Por curiosidade, trabalhava a bordo de um navio e sabia que o carnavalesco Max Lopes queria fazer uma grande barca no carnaval da Ilha, uma Ilha atravessando o mar . Aí eu vim com uma ideia e mostrei para o Didi e comecei a confeccionar o samba com algumas partes. Eu fiz: ‘A minha alegria atravessou o mar e ancorou na passarela’. O Didi tinha o negócio de maior show da terra. Juntamos ali e começamos o samba”, conta Almir.
Didi era o apelido do advogado Gustavo Adolfo de Carvalho Baeta Neves. Alberto Mussa, sobrinho de Didi, afirma que escutou e presenciou muitas histórias, mas diz nunca ter ouvido do tio que “É hoje” teria um autor oculto.
“Eu poderia estar num bar, eventualmente ter visto um diálogo, não me lembro de nada”, conta Alberto.
Almir explica por que não assinou a obra e apresenta testemunhas, num processo judicial em que reivindica junto ao Ecad o reconhecimento da autoria.
“A ala de compositores da União é um problema. Eu tinha entrado e eles acharam que a minha entrada era ilegal. Fizeram uma votação e disseram que era ilegal. Eu já estava com o samba sendo desenvolvido com o Didi. A ala que me tirou e eu acabei não assinando o samba”, explica Almir.
Integrantes da escola na época da composição testemunham a favor da coautoria de Almir no famoso samba.
“Na época a gente falava: ‘Almir, você tem que querer mais. O samba é teu, tu é o pai disso’. Eu aconselhei diversas vezes: ‘Almir, tu não pode perde uma obra dessas. Tu é o pai do samba'”, disse Carlos Alberto, integrante da Velha Guarda da União da Ilha.
O ex–passista e integrante da Velha Guarda, Fábio Moraes, diz que Almir mostrou o samba para ele na época.
“(Ele disse) ‘Fábio, olha a cabeça do samba que eu fiz pra União da Ilha do Governador’. Aí ele cantou e até hoje eu me arrepio de lembrar”.
Walter Bastos Küllinger, advogado de Almir da Ilha, afirma que é uma prova difícil de anexar aos autos do processo.
“Realmente é difícil de você conseguir este tipo de prova. Por isso que a gente fez essa declaratória aqui, que é uma prova junto a Justiça de que eles tinham conhecimento de que o Almir foi um dos compositores”, afirma o advogado.
Procurado pela TV Globo, o Ecad esclareceu que representa sete associações de músicos — as entidades que cuidam do atendimento aos compositores — e que tem feito os pagamentos relativos à execução pública de “É Hoje” regularmente aos titulares que constam no cadastro do escritório.
“Eu estou reivindicando a minha autoria. Todo mundo sabe, você sabe, e o próprio Didi nunca negou que eu fosse autor”, afirma Almir.
O sobrinho de Didi diz que Almir esperou 20 anos após a morte do tio para reivindicar a coautoria.
“Essa suposta parceria, aconteceu em 81, né? O desfile foi em 82. Bom, durante a vida do Didi, ele não fez essa reivindicação e esperou 20 anos da morte para falar comigo”, afirma Alberto Mussa.
À essa altura, um outro nome parece ter sumido da história. Mestrinho aparece em algumas imagens antigas, mas desapareceu sem deixar muitos vestígios. Pelos cálculos do sobrinho-neto, Victor Hugo, a morte de mestrinho aconteceu entre 1994 e 1995.
“Não soube de velório, não soube de sepultamento, só falaram: ‘Teu tio morreu’. E que eu saiba, deixou quatro filhos”, disse o sobrinho.
Nenhum parente jamais apareceu para recolher a parte dele nos direitos autorais do samba.
“O dinheiro não pode ir para ninguém”, afirma Alberto Mussa.
A parte que caberia a Mestrinho está retida. A TV Globo apurou que, atualmente, o valor referente aos direitos de Mestrinho gira em torno de R$ 300 mil.
Uma disputa jurídica, que já dura quatro anos, gira em torno da autoria de um dos sambas-enredo mais famosos do carnaval carioca. A obra “É hoje”, samba-enredo apresentado pela União da Ilha do Governador no carnaval de 1982, possui duas assinaturas nos registros oficiais, mas um terceiro compositor busca reconhecimento.
A música, que já foi reinterpretada por diversos artistas, guarda alguns mistérios ainda não esclarecidos. Segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), órgão responsável por arrecadar e distribuir direitos autorais de músicas, a obra é o samba-enredo mais executado do Brasil.
Integrantes da Velha Guarda da União da Ilha afirmam que as assinaturas da composição do clássico estão em nome dos sambistas Didi e Mestrinho.
“Quem assina que leva o nome, não é isso?”, questionam Marco Antônio Silveira e Jurema de Almeida.
Almir da Ilha alega ser o terceiro compositor do samba e conta que a ideia surgiu porque na época, ele trabalhava em um navio.
“Por curiosidade, trabalhava a bordo de um navio e sabia que o carnavalesco Max Lopes queria fazer uma grande barca no carnaval da Ilha, uma Ilha atravessando o mar . Aí eu vim com uma ideia e mostrei para o Didi e comecei a confeccionar o samba com algumas partes. Eu fiz: ‘A minha alegria atravessou o mar e ancorou na passarela’. O Didi tinha o negócio de maior show da terra. Juntamos ali e começamos o samba”, conta Almir.
Didi era o apelido do advogado Gustavo Adolfo de Carvalho Baeta Neves. Alberto Mussa, sobrinho de Didi, afirma que escutou e presenciou muitas histórias, mas diz nunca ter ouvido do tio que “É hoje” teria um autor oculto.
“Eu poderia estar num bar, eventualmente ter visto um diálogo, não me lembro de nada”, conta Alberto.
Almir explica por que não assinou a obra e apresenta testemunhas, num processo judicial em que reivindica junto ao Ecad o reconhecimento da autoria.
“A ala de compositores da União é um problema. Eu tinha entrado e eles acharam que a minha entrada era ilegal. Fizeram uma votação e disseram que era ilegal. Eu já estava com o samba sendo desenvolvido com o Didi. A ala que me tirou e eu acabei não assinando o samba”, explica Almir.
Integrantes da escola na época da composição testemunham a favor da coautoria de Almir no famoso samba.
“Na época a gente falava: ‘Almir, você tem que querer mais. O samba é teu, tu é o pai disso’. Eu aconselhei diversas vezes: ‘Almir, tu não pode perde uma obra dessas. Tu é o pai do samba'”, disse Carlos Alberto, integrante da Velha Guarda da União da Ilha.
O ex–passista e integrante da Velha Guarda, Fábio Moraes, diz que Almir mostrou o samba para ele na época.
“(Ele disse) ‘Fábio, olha a cabeça do samba que eu fiz pra União da Ilha do Governador’. Aí ele cantou e até hoje eu me arrepio de lembrar”.
Walter Bastos Küllinger, advogado de Almir da Ilha, afirma que é uma prova difícil de anexar aos autos do processo.
“Realmente é difícil de você conseguir este tipo de prova. Por isso que a gente fez essa declaratória aqui, que é uma prova junto a Justiça de que eles tinham conhecimento de que o Almir foi um dos compositores”, afirma o advogado.
Procurado pela TV Globo, o Ecad esclareceu que representa sete associações de músicos — as entidades que cuidam do atendimento aos compositores — e que tem feito os pagamentos relativos à execução pública de “É Hoje” regularmente aos titulares que constam no cadastro do escritório.
“Eu estou reivindicando a minha autoria. Todo mundo sabe, você sabe, e o próprio Didi nunca negou que eu fosse autor”, afirma Almir.
O sobrinho de Didi diz que Almir esperou 20 anos após a morte do tio para reivindicar a coautoria.
“Essa suposta parceria, aconteceu em 81, né? O desfile foi em 82. Bom, durante a vida do Didi, ele não fez essa reivindicação e esperou 20 anos da morte para falar comigo”, afirma Alberto Mussa.
À essa altura, um outro nome parece ter sumido da história. Mestrinho aparece em algumas imagens antigas, mas desapareceu sem deixar muitos vestígios. Pelos cálculos do sobrinho-neto, Victor Hugo, a morte de mestrinho aconteceu entre 1994 e 1995.
“Não soube de velório, não soube de sepultamento, só falaram: ‘Teu tio morreu’. E que eu saiba, deixou quatro filhos”, disse o sobrinho.
Nenhum parente jamais apareceu para recolher a parte dele nos direitos autorais do samba.
“O dinheiro não pode ir para ninguém”, afirma Alberto Mussa.
A parte que caberia a Mestrinho está retida. A TV Globo apurou que, atualmente, o valor referente aos direitos de Mestrinho gira em torno de R$ 300 mil.