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Neguinho da Beija-flor em um dos desfiles da Beija-flor em Copacabana
Eduardo Holanda/Divulgação/Beija-flor de Nilópolis
Neguinho da Beija-flor completa 50 anos de carnaval com muitas histórias para contar. O reconhecimento conquistado no samba, nos shows pelo Brasil e exterior e com a escola que leva no nome, o levou a se apresentar para a realeza, compartilhar momentos com astros internacionais e a fazer história no maior estádio do país, mesmo sem ser jogador de futebol.
O cantor cantará o samba-enredo da Beija-flor pela última vez este carnaval, após 50 anos na escola. Porém, ele destaca que não vai se aposentar dos palcos.
Atendendo a um convite do g1, Neguinho relembrou alguns desses momentos inesquecíveis de sua trajetória, entre eles:
cantar para o então príncipe, o agora Rei Charles III;
abrir o show da Tina Turner no Maracanã ;
compor a música que foi sacramentada como hino oficial do Maracanã;
casar na Sapucaí;
e dividir o palco com Ludmilla durante o carnaval.
Canto real
Charles e Pinah em 1978. Neguinho da Beija-flor cantou na apresentação da escola que leva no nome no Palácio da Cidade
Reprodução/TV Globo
Neguinho da Beija-flor cantou para o então príncipe, agora Rei Charles III, na noite de 10 de março de 1978, em uma recepção dada pelo então prefeito do Rio para o filho de Elizabeth II no Palácio da Cidade, em Botafogo, na Zona Sul.
A noite ficou imortalizada pela dança entre o monarca e Pinah. Mesmo não estando no foco das câmeras, a voz que entoa o samba-enredo é inconfundível.
“Nesses 50 anos de Beija-flor, ninguém me questionou isso. E eu estava realmente lá. A voz era minha, eu estava cantando”, ressaltou Neguinho.
O cantor tinha 28 anos e a Beija-flor tinha acabado de se consagrar tricampeã. A escola, nessa época, havia se transformado em uma máquina de ganhar carnavais. Atualmente, é a maior vencedora desde a inauguração do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, em 1984.
“Depois que a Pinah dançou com ele que explodiu: ‘Ah! É o príncipe Charles’”.
‘Olha a Tina Turner aí, gente!’
Tina Turner: Show em 1988 no Maracanã bateu recorde de público, com 182 mil pessoas
Em 1988, a cantora Tina Turner bateu um recorde em uma apresentação no Maracanã para 182 mil pessoas. Ela entrou no Guiness Book como o maior público pagante para uma artista solo feminina daquela época. Neguinho da Beija-flor abriu o show.
A apresentação aconteceu em janeiro. Tina, vendo a TV brasileira no período pré-carnaval, se encantou com a potência da voz de Neguinho cantando o samba-enredo da Beija-flor e, principalmente, dando o grito de guerra imortalizado por ele.
Quando alguém a explicou o significado, ela quis a própria versão. E assim, a artista chegou ao palco, como destaque de um carro alegórico da escola da Baixada Fluminense, que levou destaques, bateria e passistas.
“Ela chegou no Brasil e estava naquela fase do Globeleza e ela perguntou: ‘O que é isso?’ E aí disseram: ‘Ah, ele está anunciando uma escola de samba, ele é o cantor da escola’. E ela: ‘Não dá para fazer?’ E aí eu fui”, explicou.
O combinado, cumprido à risca, era que ele a chamaria, ela entraria em um carro alegórico e desceria no palco montado no gramado.
Me falaram: ‘Olha Neguinho, ela vai estar no camarim, eu vou te avisar. Você fica no palco e quando eu disser agora você vai’. Eu fiquei olhando o cara e quando ele fez o sinal eu fui: ‘Olha a Tina Turner aí, gente!’”
‘Domingo, eu vou ao Maracanã’
Neguinho da Beija-flor no gramado do Maracanã. Artista compôs o hino oficial do estádio
Reprodução/ TV Globo
A relação com o Estádio do Maracanã vai muito além da abertura do show de Tina Turner. Neguinho compôs a música “O Campeão (Meu Time)” em 1979. O cantor contou ao Globo Esporte que, com a ajuda de Leci Brandão, distribuiu folhetos com a letra da música na entrada. Quando o sistema de som tocou a canção, ela passou a ser a trilha sonora de todas as torcidas.
Na final da Copa das Confederações, em 2013, Neguinho viu mais uma vez sua obra ser consagrada.
“Normalmente, quando eu vou ao Maracanã, eu ouço um lado cantando e o outro não. Mas no jogo da Copa das Confederações, Brasil contra Espanha, era tudo Brasil”, contou.
A partida terminou com um placar de 3 a 0 para o Brasil.
“As duas seleções entraram em campo e começou todo o Maracanã, aí eu vi todo, todos os brasileiros: ‘Domingo, eu vou ao Maracanã’.. E quando eu olhei assim, o povo cantando, as pessoas estavam cantando olhando para mim, como se dissessem: ‘A gente sabe que a música é sua’. Foi uma emoção que eu tive no Maracanã nesse dia”, destacou o artista.
Em novembro de 2021, a música foi sacramentada como hino oficial do estádio.
Casamento na Sapucaí
Neguinho da Beija-Flor e Elaine Reis durante cerimônia de casamento na Marquês de Sapucaí
Reprodução/ TV Globo
Em 2009, Neguinho da Beija-flor entrou na Sapucaí de forma diferente: como noivo. Ele estava na reta final do tratamento de um câncer de intestino e com a mulher grávida quando resolveu oficializar a união na passarela do samba.
“Meu médico aconselhou o seguinte: é um tratamento difícil. Se você se apegar às contas que chegam, às notícias desagradáveis, você procura evitar. O doutor João Pupo Neto”, contou Neguinho.
O casamento e canto na Sapucaí fazem parte do pacote de felicidade que o artista buscou durante o tratamento.
“Em casa, já morávamos e tínhamos a nossa filha recém-nascida. E a gente assistindo esses canais que passam coisas diferentes, uma pessoa se casou de asa delta, outro mergulhou, alpinistas que chegaram lá em cima e casaram. E eu disse: ‘Ih, casamentos diferentes’. Tava próximo do carnaval, faltavam 20 dias, eu com a quimioterapia, e eu disse: ‘Já que é só coisa boa, vamos casar na avenida’”, afirmou.
O período que passou pelo tratamento penoso é tratado com o sorriso que o fez famoso entre o público. Anos depois, ele participou de campanhas para conscientizar sobre a importância dos cuidados com a saúde.
Astros pop
Ludmilla cantou ao lado do Neguinho da Beija-flor
Alexandre Durão / g1
Neguinho da Beija-flor conta que convidou Ludmilla para o carro de som da escola para atrair novos públicos para o carnaval.
“Eu perguntei à minha filha, Luiza, que na época tinha 13 ou 14 anos: ‘Que tal se eu convidasse a Ludmilla?’ A minha intenção de convidar a Ludmilla é porque o enredo proporcionava isso né? Era sobre a negritude. E ela tinha a juventude na mão. Então, trazendo a Ludmilla, traria os jovens para o desfile de escolas de samba, traria o funk. E foi o que aconteceu”, disse o cantor.
Ludmilla é casada com Brunna Gonçalves, que é musa da Beija-flor. O artista, ele também um astro em seu segmento, destacou o impacto da cantora com a juventude.
“Eu nunca vi tantos jovens no ensaio técnico como eu cantei com a Ludmilla. E os jovens choravam, faziam assim [faz sinal de coração]”, finalizou.
De saída da Sapucaí, Neguinho da Beija-Flor descarta aposentadoria