Trump recebe Macron na Casa Branca para discutir futuro da guerra na Ucrânia

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu o presidente francês, Emmanuel Macron, na Casa Branca nesta segunda-feira (24) para tratar do futuro da guerra na Ucrânia. O encontro ocorre no dia em que o conflito completa três anos e em meio a incertezas sobre o papel dos EUA na relação com a Europa e Kiev.

A reunião acontece menos de uma semana após líderes europeus serem excluídos das negociações entre os Estados Unidos e a Rússia sobre um possível acordo de paz. Além disso, na quinta-feira, Trump também receberá o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, como parte de uma nova rodada de diálogos sobre o conflito.

Durante uma reunião virtual com os líderes do Grupo dos Sete (G7), Trump teria reiterado suas exigências territoriais, mencionando Groenlândia, Canadá, Gaza e o Canal do Panamá, além de reivindicar o acordo de terras raras da Ucrânia. Com pouco mais de um mês de seu segundo mandato, suas declarações levantam questionamentos sobre a posição dos EUA no cenário global.

Tensões sobre a postura dos EUA

Na semana passada, Trump favoreceu Vladimir Putin e criticou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, chamando-o de “ditador” e afirmando, de maneira incorreta, que Kiev iniciou a guerra contra Moscou. Além disso, o republicano tenta impor à Ucrânia um acordo para exportar minerais raros como compensação pela ajuda militar recebida dos EUA.

Diante do cenário de incerteza, França e Reino Unido estão discutindo a criação de uma força de segurança europeia, que poderia mobilizar até 30 mil soldados na Ucrânia caso um acordo de paz seja firmado. No entanto, a proposta enfrenta desafios, já que um consenso entre Zelensky e Putin parece improvável.

A proposta também enfrenta resistência porque um envio de tropas da Otan para a Ucrânia poderia aumentar as tensões com a Rússia. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, alertou que essa força não funcionaria sem o apoio dos Estados Unidos.

Disputa na ONU e negociações econômicas

Além dos debates sobre segurança, os EUA e a Europa também travam um embate diplomático na ONU. Os americanos propuseram uma resolução que não inclui as exigências de retirada imediata das forças russas do território ucraniano, como pedem Ucrânia e União Europeia.

Outro ponto de atrito é o acordo sobre minerais raros. Inicialmente, Zelensky rejeitou a proposta, alegando que não oferecia garantias de segurança suficientes. No domingo, no entanto, o líder ucraniano indicou que houve progressos nas negociações. O governo Trump espera fechar um acordo ainda nesta semana.

A postura do vice-presidente americano, JD Vance, também causou desconforto na Europa. Em um evento em Munique, ele criticou os valores e governos europeus, o que foi interpretado como um aceno a líderes populistas de extrema direita no continente.

O provável futuro chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, expressou preocupação com o distanciamento dos EUA e afirmou que sua prioridade será fortalecer a independência da Europa:

“Desde as declarações de Donald Trump na semana passada, está claro que os americanos, ou pelo menos parte dos americanos, neste governo, são amplamente indiferentes ao destino da Europa.”

Macron alerta Trump sobre postura em relação a Putin

Macron afirmou que pretende convencer Trump de que é do interesse dos Estados Unidos e da Europa manter uma postura firme contra Putin. O presidente francês também sugeriu que a atitude do republicano diante da Rússia pode afetar as relações dos EUA com a China, o maior rival econômico e militar de Washington.

“Você não pode ser fraco diante do presidente Putin. Isso não é você, não é a sua marca, não é do seu interesse”, escreveu Macron. “Como você pode ser credível diante da China se for fraco diante de Putin?”

Pouco antes do encontro, Macron publicou uma mensagem nas redes sociais elogiando a “coragem da Ucrânia” e reforçando que o apoio da França ao país “permanecerá inabalável”.

Apesar da pressão europeia, Trump continua demonstrando respeito por Putin. Ele recentemente afirmou que deseja ver a Rússia reintegrada ao G7, mais de uma década após sua expulsão do então G8 devido à anexação da Crimeia. O republicano também minimizou a exclusão de Zelensky e de líderes europeus das negociações com Moscou, sugerindo que o líder ucraniano “negocia sem cartas na mão”.

O diplomata aposentado Robert Wood criticou a postura da Casa Branca e alertou para os riscos de reescrever a narrativa do conflito:

“Não nos enganemos: a Rússia começou esta guerra, e tentar reescrever essa narrativa não servirá aos melhores interesses dos Estados Unidos ou de nossos aliados.”

A política externa de Trump também levanta preocupações sobre o papel dos EUA no cenário global. O ex-embaixador americano na Geórgia, Ian Kelly, apontou que a abordagem atual compromete 80 anos de política de contenção a agressores:

“Isso não é ‘paz por meio da força’. Isso é paz por meio da rendição.”

Mesmo com as tensões em alta, Keir Starmer concordou com Trump sobre a necessidade de a Europa aumentar seus gastos com defesa. No entanto, a ministra britânica Bridget Phillipson evitou se comprometer com a exigência de Trump para que os países da Otan elevem os investimentos militares para 5% do PIB.

Nos encontros desta semana, britânicos e franceses devem reforçar a importância da presença americana na Europa e a necessidade de manter os compromissos de segurança no Ocidente.

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