Quando a saúde mental pode virar motivo de internação? Risco é a palavra-chave para entender casos como o de Whindersson Nunes


Atualmente, 25% dos brasileiros têm, tiveram ou terão depressão. Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) informa que o país já teve cerca de 120 mil leitos psiquiátricos e hoje tem apenas cerca de 10 mil. Humorista Whindersson Nunes
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O humorista, cantor e influenciador Whindersson Nunes está internado desde a semana passada para cuidar de sua saúde mental. Psiquiatras ouvidos pelo g1 explicam que há três tipos de internação para casos de quadros depressivos e todos eles só podem ocorrer após indicação médica. E eles complementam que a avaliação de que o “risco” é um ponto crucial nesta avaliação (entenda mais abaixo).
A assessoria de Whindersson informou que ele se internou “por decisão própria e com o devido acompanhamento médico”. Desde 2019, o humorista vem falando nas redes sociais e para a imprensa de sua luta contra a depressão e ansiedade.
O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo, destaca que a depressão é um quadro que pode ter excelentes respostas, se tratado adequadamente, e que mais de 70% dos quadros são tratados em nível ambulatorial, sem necessidade de internação.
Atualmente, 25% dos brasileiros têm, tiveram ou terão depressão. Dados da pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, indicam que, em 2021, 11,3% da população brasileira tinham depressão. Antes da pandemia, este índice era de 5,8%. Das 10 causas de afastamento de trabalho, cinco são relacionadas a doenças mentais.
As internações de pacientes com depressão grave ocorrem em apenas entre 5 a 10% dos casos e há três tipos de internações para a depressão:
Voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário. O médico percebe a necessidade e o paciente concorda. Uma vez internado, ele pode sair quando quiser. Porém, sem alta médica, o paciente assina um termo de responsabilidade
Involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do paciente e a pedido de terceiro. Neste caso, o Ministério Público precisa ser comunicado em até 72 horas após a internação.
Compulsória: aquela determinada pela Justiça. O médico define a necessidade e o juiz determina, independente da família.
“O que leva à internação é quando se coloca em risco a própria vida ou a vida dos outros. Ou quando o seu quadro coloca em risco o seu patrimônio (moral, financeiro ou social)”, explica Antônio Geraldo, presidente da ABP.
“Numa depressão pós-parto, por exemplo, o paciente pode colocar em risco a vida do bebê. E se a pessoa tentou suicídio ou está falando nisso, precisa internar. Às vezes o quadro é tão grave que para o paciente não faz mais diferença e o médico precisa identificar essa gravidade. O paciente psiquiátrico tratado não é perigo, mas o não tratado sim”, complementa o especialista.
O médico lamenta o fato de a rede pública brasileira atualmente não dar conta da quantidade necessária de internações. Ele destaca que o Brasil, que é o país com mais índice de depressão no mundo, seguido dos EUA, já teve cerca de 120 mil leitos psiquiátricos e hoje tem apenas cerca de 10 mil.
“Quem precisa não tem acesso e quem pode interna. Acabamos com os leitos psiquiátricos públicos e não criamos sistema laboratorial suficiente para tratar esta clientela. Por isso, os índices de suicídio só têm aumentado nos últimos anos. O que mata é o preconceito contra o doente mental. É um descaso”, lamenta Geraldo.
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Os sintomas e tratamentos contra a depressão
O presidente da ABP destaca ainda que a depressão pode afetar questões psíquicas e motoras: a memória, o raciocínio, a capacidade de decisão, a autoestima, a capacidade de gestão da própria vida, a autodepreciação, o sono ou a falta dele, o apetite ou a falta dele e o vigo físico. Pode faltar energia até para o que dá prazer ao paciente.
Os antidepressivos podem começar a ter efeito após um período de 4 a 12 semanas a partir do início do tratamento – mas esse tempo varia muito de acordo com o caso – e eles precisam ser usados ainda por um ano após a remissão da doença.
“O antidepressivo não provoca nenhuma dependência. Hoje eu não tenho nenhum paciente afastado do trabalho por conta de depressão. Mas há um preconceito estrutural no Brasil contra o paciente psiquiátrico e até contra o psiquiatra”, afirma Geraldo.
Após a suspensão do tratamento, 50% dos pacientes têm chances de recaída. Quem tem um segundo quadro de depressão tem cerca de 70 a 90% de chance de ter um terceiro quadro. E quem tem um terceiro quadro tem acima de 90% de chance de outras crises.
O que diz o comunicado da assessoria de Whindersson Nunes
Whindersson Nunes já desabafou na internet algumas vezes, dizendo que estava triste há alguns anos, que sentia uma angústia todos os dias, que tinha medo de decepcionar os fãs e já não sentia tanta vontade de viver, cancelou agenda de shows e foi diagnosticado com depressão.
O motivo da internação de Whindersson, numa clínica no interior de São Paulo, é o cuidado com a saúde, buscando o tratamento adequado para seu bem-estar. O comunicado divulgado pela assessoria do artista também informou: “Sempre preocupado com seus fãs e com o público, Whindersson tomou essa decisão viando o cuidado integral de sua saúde. Ele está muito bem, feliz com sua evolução e, em breve, estará de volta aos palcos fazendo o que mais ama”.
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