Belchior e o Cordel – A construção de um artista em mito popular

A literatura de cordel desempenha um papel essencial na formação da identidade cultural nordestina, e agora, lança luz sobre um dos maiores ícones da Música Popular Brasileira. O livro “Belchior: A Construção de um Mito na Literatura de Cordel”, do autor e pesquisador Alberto Perdigão, investiga como os folhetos de cordel ajudaram a construir e perpetuar a imagem do cantor e compositor cearense. A obra é resultado de um mergulho aprofundado em livros, artigos acadêmicos e, sobretudo, na análise de 19 folhetos de cordel que retratam o artista.

“Não pesquiso sobre a Música Popular Brasileira nem especificamente sobre Belchior. Meu foco é a folkcomunicação e a literatura de cordel. No ano passado, ao escrever um artigo para a Revista Internacional de Folkcomunicação, descobri um universo de aspectos da vida, da obra e da morte de Belchior que me encantaram e me fizeram aprofundar no tema”, explica Alberto.

O desafio
Colocar lado a lado as biografias consagradas e os folhetos de cordel foi um desafio, principalmente devido ao grande volume de dados e às informações dispersas em mais de 30 publicações diferentes. Segundo o autor, Belchior é uma figura complexa e sua biografia é repleta de lacunas, contradições e fatos não comprovados que, com o tempo, tornaram-se verdades populares.

“O que se conhece sobre Belchior no plano do senso comum é uma construção social coletiva, feita a muitas mãos, inclusive pelo próprio artista. Essa construção é fruto de diferentes motivações e não segue os rigores da historiografia. Isso acontece com diversas celebridades”, destaca
“No cordel, Belchior é retratado como o menino pobre do interior que foi valente e venceu no Sul, mas que, injustamente, acabou crucificado. Sua morte é tratada como um evento quase místico, elevando-o ao panteão simbólico da literatura de cordel”, analisa.

A xilogravura
na construção
Um dos diferenciais do livro está na sua pré-venda, que conta com uma xilogravura assinada pelo artista potiguar Jefferson Campos. A decisão de incluir essa arte reforça a relação intrínseca entre a literatura de cordel e a xilogravura, ambas reconhecidas como patrimônio imaterial do Brasil.
“A xilogravura e o cordel são irmãos siameses na cultura popular. Escolhi Jefferson Campos por ser um grande xilógrafo da nova geração e por trabalhar a temática de Belchior. Também não faria sentido colocar uma foto do Belchior na capa, como fizeram outros autores que não consideraram o cordel como fonte essencial de pesquisa”, explica Perdigão.

Com uma abordagem inovadora, “Belchior: A Construção de um Mito na Literatura de Cordel” reforça como a cultura popular contribui para a perpetuação e ressignificação de figuras públicas. O livro não apenas revisita o legado do cantor cearense, mas também destaca o papel da literatura de cordel na construção da memória coletiva brasileira.

Por Priscila Sampaio

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