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Alberto PIZZOLI
Um assessor de Donald Trump repreendeu nesta terça-feira (11)o papa Francisco, que criticou a política migratória do presidente americano, conhecido por recorrer a Deus e à religião sempre que contrariado.
Em uma carta aos arcebispos americanos, o jesuíta argentino de 88 anos pediu para “não ceder às narrativas que discriminam e fazem sofrer desnecessariamente nossos irmãos migrantes e refugiados”.
Segundo o pontífice, as expulsões de migrantes em situação irregular constituem uma “importante crise” que “fere a dignidade” das pessoas.
As declarações causaram desconforto nos Estados Unidos, um país no qual política e religião caminham lado a lado.
Tom Homan, nomeado czar da fronteira pelo próprio Trump, reagiu rapidamente. “Quero que ele se concentre na igreja católica e nos deixe cuidar da vigilância da fronteira”, disse a jornalistas na Casa Branca.
“Ele quer nos atacar porque garantimos a segurança das nossas fronteiras? Há um muro ao redor do Vaticano, certo? Não podemos ter um muro ao redor dos Estados Unidos”, disse, visivelmente irritado.
Na realidade, o papa reconhece “o direito de uma nação se defender e manter suas comunidades seguras contra aqueles que cometeram crimes violentos ou graves enquanto estão no país ou antes de chegar”.
Trump tem adotado uma abordagem conservadora e religiosa em seu segundo mandato, mas as críticas o incomodam.
O bilionário, que acredita que “Deus o salvou” quando um atirador disparou contra ele durante um comício na Pensilvânia (nordeste) em plena campanha eleitoral, ordenou por decreto a criação de um gabinete religioso na Casa Branca, o qual será dirigido pela televangelista Paula White, sua conselheira espiritual.
“Algo mudou em mim”, confessou o republicano durante um café da manhã de oração no Capitólio na semana passada. “Eu acreditava em Deus, mas agora sinto isso com muito mais força”, declarou.
– “Perseguição” –
O magnata de 78 anos se propôs a erradicar o que chamou de “perseguição” aos cristãos nos Estados Unidos, e seu gabinete tem um perfil religioso, incluindo seu vice-presidente J.D. Vance, que se converteu ao catolicismo há alguns anos.
Ao contrário de seu antecessor democrata Joe Biden, um devoto católico que ia à missa toda semana, Trump vai à igreja muito de vez em quando, mas conquistou o voto dos cristãos evangélicos tanto em sua primeira vitória eleitoral em 2016 quanto em 2024.
Mas isso não impede o republicano de atacar figuras religiosas quando é alvo de críticas.
Uma bispa de Washington, Mariann Budde, foi um alvo recente do republicano.
Em sua plataforma Truth Social, o republicano a chamou de “pseudo-bispa” e pediu que ela e sua igreja se desculpassem depois que Budde pediu “misericórdia” para os migrantes e membros da comunidade LGTBQIAP+.
Durante uma missa solene na catedral nacional de Washington em 21 de janeiro, a bispa falou sobre o “medo” que, segundo ela, é sentido em todo o país e enfatizou que “a grande maioria dos migrantes não é criminosa”.
Trump costuma equiparar migrantes a criminosos e afirma que os delitos aumentaram devido à migração, apesar das estatísticas oficiais desmentirem essa afirmação.
Quanto ao papa, não se trata de seu primeiro confronto com Trump.
Durante o primeiro mandato do magnata, de 2017 a 2021, o chefe da Igreja Católica, defensor de consolar e ajudar os migrantes, criticou o plano de Trump de construir um muro na fronteira com o México para deter o fluxo migratório.
“Quem levanta um muro acaba prisioneiro do muro que levantou, isso é uma lei universal, ocorre na ordem social e na ordem pessoal (…) As alternativas são as pontes, construir pontes”, afirmou Francisco em 2019.
Além de continuar a construção do muro, Donald Trump ordenou operações contra migrantes, revogou medidas de Biden na área de imigração e até começou a enviar pessoas em situação irregular nos Estados Unidos para a base americana de Guantánamo, em Cuba.