Presidente americano fala como empreendedor imobiliário sobre seu plano, que tem potencial para inflamar ainda mais o Oriente Médio. Benjamin Netanyahu visita Donald Trump na Casa Branca, em 4 de fevereiro de 2025
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Ao lado do premiê Benjamin Netanyahu, o presidente Donald Trump deixou fluir naturalmente os instintos expansionistas que caracterizam o início deste segundo mandato e explicou como os EUA assumirão a Faixa de Gaza, reassentando 2 milhões de palestinos em países como Egito e Jordânia.
Sem descartar o envio de tropas americanas para o enclave, Trump falou como investidor imobiliário, prometendo transformar o território palestino numa Riviera do Oriente Médio, sem os palestinos.
“Você constrói moradias de ótima qualidade, como uma cidade bonita, como um lugar onde eles podem viver e não morrer, porque Gaza é uma garantia de que eles acabarão morrendo”, completou o presidente, ao expor seu plano de reconstrução do enclave destruído por 15 meses de bombardeios, sem a presença dos palestinos. O secretário de Estado, Marco Rubio, tuitou que Trump “tornaria Gaza bonita novamente”.
A proposta de limpar Gaza de palestinos e de escombros é, sem dúvida, a mais surpreendente e fantasiosa já apresentada por um presidente americano na longa história que marca o envolvimento dos EUA no conflito entre Israel e palestinos. Remete automaticamente à lembrança do êxodo forçado da população em 1948, durante a criação de Israel, período conhecido pelos palestinos como Nakba (catástrofe).
“Tomaremos conta daquele lugar, onde desenvolveremos e criaremos milhares e milhares de empregos. Será algo de que todo o Oriente Médio poderá se orgulhar muito”, divagou Trump diante de Netanyahu, que parecia incrédulo. “Ele vê um futuro diferente para aquele pedaço de terra, que tem sido o foco de tanto terrorismo. Acho que é algo que pode mudar a História”, respondeu o primeiro-ministro.
A curto prazo, a ideia de Trump tem potencial de inflamar ainda mais a região e enterrar o cessar-fogo negociado com o Hamas para libertar os reféns israelenses. Contradiz as diretrizes propagadas pelo presidente americano de manter o país fora de guerras e confrontos.
Egito e Jordânia já descartaram a ideia de receber a população palestina, na semana passada, quando o presidente americano lançou a ideia de limpar o enclave com o deslocamento de sua população. Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos também rejeitaram a proposta, unificando as posições de países árabes.
A normalização das relações entre o reino saudita e Israel é uma das metas da política externa de Trump, mas está condicionada também à criação de um Estado palestino independente. Este plano parece ter sido definitivamente sepultado pelo atual presidente americano, em plena sintonia com a extrema direita que sustenta o governo de Netanyahu e total indiferença às aspirações da população palestina.