As dantescas cenas de brasileiros deportados dos Estados Unidos desembarcando do avião com trajes de presidiários, mãos algemadas e pés acorrentados, chocaram a todos nós, causando indignação e revolta.
Sentimento repulsivo este que se agravou mais ainda ante o relato dos deportados de que sofreram maus tratos e ameaças dos agentes americanos durante todo o voo, inclusive submetidos por mais de cinco horas a calor intenso, falta de água e impossibilidade de ir ao banheiro enquanto a aeronave era reabastecimento e reparada no aeroporto de Manaus, ou seja, já em solo brasileiro.
Os voos de deportados dos EUA têm ocorrido regularmente desde a gestão do ex-presidente Michel Temer. No entanto, o caso recente foi o primeiro sob a administração de Donald Trump, marcando um endurecimento das políticas de imigração. Ainda na gestão de Joe Biden, um voo semelhante chegou ao Brasil no dia 10 de janeiro, com 100 deportados a bordo.
A perplexidade dos brasileiros está de certa forma ligada à formação social do País. Sociólogos, antropólogos e historiadores são unânimes ao afirmar que só houve uma consolidação social e principalmente econômica da sociedade graças à acolhida e ao trabalho dos imigrantes que aqui aportaram.
Foram os imigrantes que deram a grande contribuição com sua força de trabalho para o desenvolvimento do Brasil, tanto no setor rural, como nas áreas industriais, comerciais e culturais. Foi a conjunção dos imigrantes aos escravizados africanos e aos nativos indígenas que formaram o verdadeiro DNA de nossa sociedade, com seus esforços, inteligência, costumes, cultura, culinária, festas e tradições.
Portanto, atentados repulsivos como este a imigrantes ilegais – pessoas que abandonaram os seus países, em busca de melhores condições de vida -, como também, o que ocorre mundo a fora contra refugiados – são hoje dezenas de milhões de sírios, venezuelanos, ucranianos e demais povos africanos e asiáticos fugindo da miséria, das guerras, da intolerância política ou religiosa e do terrorismo, sobrevivendo em campos de refugiados ou na fronteira entre países, constituem-se em execráveis e dolorosas crises humanitárias.
Tragédias que fazem muitos se questionarem: Se as mercadorias podem circular livremente e os capitais não têm fronteiras. Por que os seres humanos não?
Pergunta da qual o nosso Papa Francisco fez um alerta aos líderes mundiais: “Somos todos Imigrantes. Ninguém tem moradia fixa nesta terra.”
JOSÉ MARIA PHILOMENO
ADVOGADO
E ECONOMISTA
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