Maior parte das denúncias são anônimas, segundo o Ministério das Mulheres. Central orienta vítimas em situação de violência e as direciona para os serviços especializados da rede de atendimento. Cartaz mostra como denunciar violência contra a mulher
Gabriel Lain/Banco de dados/NSC Comunicação
A violência psicológica foi o tipo de violência contra a mulher mais recorrente entre as denúncias do Ligue 180 em 2024, revelam dados do Ministério das Mulheres divulgados nesta terça-feira (4).
No ano passado, entre denúncias, pedidos de ajuda e esclarecimentos por telefone e pelo canal de WhatsApp, foram 750,7 mil atendimentos. Em média, foram 2.051 chamados por dia.
📞 O Ligue 180 é um serviço do Ministério da Mulher que recebe denúncias de violações contra as mulheres no Brasil. Também é possível registrar os casos de violência através do WhatsApp (61) 9610-0180. A central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos.
➡️ O serviço também orienta mulheres em situação de violência, e direciona as vítimas para os serviços especializados da rede de atendimento. Também é possível se informar sobre os direitos da mulher, a legislação vigente sobre o tema e a rede de atendimento e acolhimento de mulheres em situação de vulnerabilidade.
“A maior parte das ligações são pedindo informação: caso ela saia de casa, se ela perde a guarda dos filhos, se perde o direito à casa. Então, tem informações que são básicas e fundamentais para que a mulher possa tomar uma decisão”, disse a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves.
Em abril 2e 023, o canal foi reformulado e ampliou o leque de atendimentos, e os atendimentos pelo WhatsApp cresceram 63,4%, passando de 6.689 no ano passado (743/mês) para 14.572 em 2024 (1.214/mês).
Denúncias anônimas
Dos 750,7 mil atendimentos no ano passado, 132.084 foram denúncias de violência contra a mulher, 15,2% a mais que em 2023.
📍 Entre as denúncias, 86.105 foram anônimas e 38.470 realizadas pela própria vítima.
“Nenhuma pessoa no mundo gosta de apanhar. Se ela souber [a quem pedir ajuda], ela vai pedir ajuda. Ela vai ligar para o 180. Ela vai na delegacia, ela vai no centro de referência, ela vai dar um fim na violência”, disse a ministra.
Violência psicológica lidera denúncias de mulheres no Ligue 180.
Arte/g1
➡️ Ao denunciar uma violência, a denunciante informa quais violações ocorreram. Uma denúncia pode conter mais de um tipo de violação. Veja as mais frequentes:
Psicológica: 101.007 denúncias
Física: 78.651 denúncias
Patrimonial: 19.095
Sexual: 10.203
Violência moral: 9.180
Cárcere privado: 3.027
Assim que os atendentes recebem uma denúncia, eles encaminham as informações para a Polícia Civil e Ministério Público. De acordo com o governo federal, a vítima também recebe um protocolo para acompanhar o andamento do caso direto com o Ligue 180, mas o retorno depende das informações passadas pelos estados.
O estado de São Paulo concentra a maior parte das denúncias no ano passado (31.227), seguido de Rio de Janeiro (21.528), Minas Gerais (12.815), Bahia (9.090) e Rio Grande do Sul (6.153).
Denúncias ao Ligue 180 por estado em 2024.
Arte/g1
Perfil das vítimas
Nos casos em que foi declarada a raça ou a cor da vítima, 53.431 eram mulheres pardas e 16.373 mulheres pretas. Além disso, mulheres brancas somam 48.747 denúncias, seguidas por amarelas (779) e indígenas (620). Em 12.134 denúncias, a raça ou a cor das vítimas não foi identificada.
Quanto à idade, os dados apontam que as faixas etárias mais atingidas foram mulheres entre 40 e 44 anos (18.583 denúncias), de 35 a 39 anos (17.572 denúncias) e entre 30 a 34 anos (17.382 denúncias).
Os dados de 2024 também revelam a predominância de suspeitos com relação íntima e/ou familiar com a vítima:
Companheiros(as) atuais: 17.915 denúncias
Ex-companheiros: 17.083 denúncias
O ambiente doméstico e familiar foi o cenário mais comum entre as denúncias. A “casa da vítima” apareceu em 53.019 denúncias, seguida pela “Casa onde reside a vítima e o suspeito” (43.097 denúncias) e “casa do suspeito” (7.006).
Já o ambiente virtual somou 6.920 denúncias. Mesmo que em porcentagens menores, o Ministério das Mulheres avalia que as violações também ocorreram em outros cenários, evidenciando a pulverização do fenômeno da violência contra as mulheres.
O Ministério das Mulheres afirmou que tem feito acordos de cooperação técnica com estados para capacitação das equipes para melhorar o fluxo de encaminhamento. Ao todo, 10 estados já aderiram ao acordo: Sergipe, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Piauí, Acre, Tocantins, Mato Grosso, Maranhão e Distrito Federal, além do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Amanda Sadalla, diretora-executiva da ONG Serenas, responsável pelo programa “Chamada Pelo Acolhimento”, que em 2024 participou do treinamento dos atendentes da plataforma, explica que o foco do trabalho foi qualificar o acolhimento humanizado da vítima.
“Isso é importante porque o Ligue 180 funciona como o primeiro acolhimento da vítima, para que ela conheça seus direitos e, então, tome uma decisão informada sobre fazer uma denúncia, via 180 ou outros canais. O 180 é o lugar para pedir socorro. Focamos em treinar as atendentes para que saibam escutar e ajudar essa mulher, que muitas vezes não sabe dizer o que precisa, mas que precisa de ajuda”.
O Ligue 180 – que atende denúncias de violência contra a mulher – passou por reestruturação